Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC)

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municípios com implementações da tecnologia

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Objetivo

A convivência com o Semiárido pressupõe a adoção da cultura do estoque. Estoque de água para diversos usos – consumo humano, produção de alimentos e para servir aos animais. Estoque de alimento para família e para a criação animal. E o estoque de sementes para os próximos plantios, entre outros.

O primeiro programa desenvolvido pela ASA, no início dos anos 2000, visa atender a uma necessidade básica da população que vive no campo: água de beber. Com esse intuito, nasce o Programa Um Milhão de Cisternas: o P1MC. Melhorar a vida das famílias que vivem na Região Semiárida do Brasil, garantindo o acesso à água de qualidade é o principal objetivo do Programa.

Através do armazenamento da água da chuva em cisternas construídas com placas de cimento ao lado de cada casa, as famílias que vivem na zona rural dos municípios do Semiárido passam a ter água potável a alguns passos. Não se faz mais necessário o sacrifício do deslocamento de quilômetros para buscar água para fazer um café, cozinhar e beber.

Isso é o que chamamos de descentralização e democratização do acesso à água. Em vez de grandes açudes, muitas vezes construídos em terras particulares, as cisternas estocam um volume de água para uso de cada família. A grande conquista destas famílias é que elas passam de dependentes a gestoras de sua própria água.

Contexto

A experiência do P1MC aponta um caminho novo para a construção das políticas públicas, pois demonstra uma ação que nasce da sistematização de experiências locais e da mobilização da sociedade civil para propor uma política pública democrática, efetiva e abrangente para o Semiárido, que garante o direito das populações rurais de ter água de qualidade para o consumo.

O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) reconhece e legitima as cisternas do P1MC como elemento de segurança hídrica e alimentar. Em mais de uma década, o acesso à água de beber no Semiárido virou uma política de governo e passou a ter recursos previstos no Orçamento Geral da União.  

Água é direito!

A água potável é um direito de todos os cidadãos e cidadãs. Ela é fundamental para a segurança alimentar e nutricional e condição prévia para a realização de outros direitos humanos. No Semiárido, muitas famílias ainda sofrem por não terem acesso a esse bem. Apesar de ser uma região onde chove menos do que a água que evapora, a falta desse recurso não se deve ao clima do lugar, nem à incapacidade do seu povo. Mas deve-se a uma questão social: a concentração injusta desse bem nas mãos de uma minoria, que dela faz sua propriedade, privando a quase totalidade da população de utilizá-la até para saciar suas necessidades básicas.

As medidas emergenciais de combate à seca adotadas ao longo dos anos, como os grandes açudes e poços, são ineficazes e objetos de manipulação política e eleitoral das comunidades. Eles promovem a concentração e não a democratização da água.  A concentração da água está, indissociavelmente, ligada à concentração da terra. Os latifúndios, os grandes projetos do agronegócio, as grandes e tradicionais fazendas de gado são estruturados numa injusta distribuição de terras e de água.

Neste cenário de interesses e disputas as mulheres e meninas são as primeiras vítimas, como canta o poeta Chico César “A lata não mostra; O corpo que entorta; Pra lata ficar reta”, como forma de sobrevivência as mulheres do semiárido brasileiro aprendem logo cedo uma rotina de diversas caminhadas, às vezes percorrendo quilômetros, até uma fonte, cacimba, barreiro ou poço, e se a água já tem “dono” aumento o esforço, porque além de carregar elas ainda dependem da permissão. A busca por água, seja para o consumo de sua família ou para os afazeres de casa, depende de não deixar a força secar.

Metodologia

Os princípios metodológicos que orientam a ação do P1MC garantem a mobilização e a formação das famílias e comunidades rurais como eixo fundamental da ação do programa e busca universalização do atendimento com água de consumo humano às famílias da região semiárida. Incluir a participação das famílias em cada etapa do processo contribui para a construção do entendimento de que a água é um direito e a cisterna é uma conquista da família.

Além disso, as famílias vivenciam um modo completamente novo de acessar políticas e serviços públicos em suas comunidades. Ao invés de ações que chegam prontas e para as quais não são sequer consultadas, o desenvolvimento do P1MC nas comunidades envolve, mobiliza e convoca as famílias a serem parte de todo o processo.

A participação social e comunitária está prevista em todas as etapas de execução do programa. O processo de mobilização tem início com a articulação da comissão municipal, instância legítima de controle social dos programas da ASA e responsáveis pelo processo de seleção das famílias, organização dos eventos e acompanhamento das construções com as equipes técnicas das organizações executoras da ação. 

Estas comissões são formadas por no mínimo 3 representantes da sociedade civil (Integrantes de conselhos locais, lideranças comunitárias, etc). A seleção das famílias também tem a participação do poder público local, tais como representantes de secretarias municipais de saúde, segurança alimentar, agricultura ou desenvolvimento rural.

A metodologia criada pela Articulação Semiárido Brasileiro busca articular  a ação com os diferentes atores sociais envolvidos.

O P1MC tem sua metodologia organizada nos seguintes componentes:

  • Mobilização Social que culmina nos processos de seleção e cadastramentos das famílias;
  • Capacitação;
  • Construção de Cisternas;
  • Controle Social.

Atividades

Esta etapa metodológica envolve as comunidades rurais, as famílias, prefeituras municipais e organizações da sociedade civil em processos de mobilização social para convivência com o semiárido. A mobilização é uma ação orientadora para a prática pedagógica do Programa que prevê a participação social e comunitária em todas as etapas de seu desenvolvimento.

É no processo de mobilização que a articulação das comissões municipais tem início. Estas comissões são fóruns de organizações de base local com atuação nos âmbitos municipais. Elas também discutem, junto às Unidades Gestoras Executoras – UGEs, os critérios da seleção das comunidades e famílias. Ter estas comissões bem articuladas é muito importante para o decorrer do processo de mobilização e cadastramento das famílias e escolas. Esta articulação, fortalece a sociedade civil no controle social de políticas de acesso à água na região semiárida. Esta mesma comissão discute também outras ações de convivência com o semiárido.

O processo de mobilização tem como dinâmica a busca ativa elencando as comunidades, onde são identificadas as famílias sempre dentro dos critérios previstos pelo programa, usando a lógica de universalização de todas as comunidades escolhidas.

As comunidades e famílias são selecionadas a partir dos critérios pré-definidos na estrutura do programa. Elas precisam estar inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). As comunidades e povos tradicionais têm prioridade dentro deste processo.

Estes são os seguintes critérios de priorização para atendimento das famílias, nessa ordem: 

  • Famílias em situação de extrema pobreza (conforme definição do parágrafo único do art. 20 do Decreto nº 7.492/2021); 
  • Famílias com perfil Bolsa Família; 
  • Famílias chefiadas por mulheres; 
  • Famílias com maior número de crianças de 0 a 6 anos; 
  • Famílias com maior número de crianças em idade escolar; 
  • Famílias com pessoas portadoras de necessidades especiais; 
  • Famílias chefiadas por idosos.

Depois de selecionadas, as famílias participam do Curso de Gerenciamento de Recursos Hídricos (GRH) que aborda questões relacionadas ao Semiárido e ao cuidado com a cisterna e a água.

As capacitações do P1MC são momentos direcionados à formação dos diversos atores que participam do Programa: famílias, comissões municipais, cisterneiros e cisterneiras. Com metodologia participativa e reflexiva, os processos formativos pretendem ampliar as reflexões das famílias rurais e dos grupos a respeito do direito à água e das possibilidades de convivência com o Semiárido.

As reflexões nas capacitações partem dos conhecimentos e práticas do grupo, agregando novos conhecimentos, na perspectiva da construção coletiva. Nestes encontros são trabalhadas as seguintes temáticas:

  • Garantia dos direitos dos povos indígenas e comunidades tradicionais.
  • Programa Cisternas enquanto conquista oriunda das lutas da sociedade civil organizada;
  • Convivência com o Semiárido e políticas públicas (acesso à água e terra, segurança alimentar e nutricional, direito à comunicação);
  • Garantia do controle social e participação popular, através das comissões municipais;

As capacitações em Gestão de Recursos Hídricos são dirigidas às famílias que receberão as cisternas de água de beber. Em cada módulo, são discutidos os seguintes temas:

  • Gerenciamento dos recursos hídricos – aborda a importância da captação e manejo da água das chuvas para a melhoria das condições de vida das família;  situa a água como um direito básico e a cisterna de placas de 16 mil Litros como uma conquista;
  • Manejo Sustentável da água – aborda os seguintes temas: tipos de tratamento utilizados no meio rural; consequências do uso da água sem o devido tratamento; as verminoses mais frequentes na região; formas e tratamento da água no ambiente doméstico.
  •  Cidadania – aborda as relações políticas entre a Sociedade Civil e o Estado, com ênfase nos modelos de desenvolvimento implantados na região semiárida ao longo da história;

Formação Política – aborda os seguintes temas: Programa Cisternas enquanto uma Política Pública conquistada a partir das lutas dos povos do campo (Convivência com o SAB, ASA, AP1MC, UG); Fortalecimento das identidades: terra, território, povo e água; debate sobre segurança alimentar e nutricional: CONSEA, PAA e PNAE; divisão sexual do trabalho e violência de gênero; direitos dos povos e comunidades tradicionais.

Com estas capacitações, espera-se o aumento do nível de participação das comissões e a interação das mesmas com as comissões comunitárias e as famílias, possibilitando a ampliação das capacidades política e operacional desta instância de controle social dos programas da ASA. Estes momentos são importantes também para mobilizar outras organizações que ainda não têm participado do processo e para fortalecer o trabalho das comissões.

A intenção destes cursos não é só formar pedreiros e pedreiras aptos/as a construir cisternas de forma prática e segura. Estes momentos formativos visam também discutir os conteúdos centrais da proposta de convivência com o Semiárido e da importância da cisterna como elemento mobilizador das famílias rurais. 

Além do papel de construir as cisternas, o/a cisterneiro/a tem um papel de grande importância para comunicação e divulgação do P1MC nas comunidades por onde o P1MC passa. Durante a implementação da cisterna, ele tem contato direto com as famílias beneficiadas pelo programa, o que o possibilita abrir os caminhos para a continuidade dos trabalhos nas comunidades beneficiadas pelo P1MC.

Estas capacitações são destinadas a agricultores/as familiares com interesse em desenvolver uma nova atividade para complemento de renda, além de fortalecer o envolvimento destes/as agricultores/as em demais ações que possam chegar nas suas comunidades.

Após as capacitações, o passo seguinte é a implementação da cisterna de placa de cimento de 16 mil litros. Uma construção de baixo custo, feita de placas de cimento pré-moldadas e construídas ao lado das casas por pessoas da própria comunidade capacitadas nos cursos de pedreiros/as oferecidos pelo P1MC. A cisterna tem o formato cilíndrico, é coberta e fica semienterrada. O seu funcionamento prevê a captação de água da chuva aproveitando o telhado da casa, que escoa a água através de calhas. Trata-se de uma tecnologia simples, adaptada à região semiárida e de fácil replicação.

Faz parte da estratégia de mobilização das famílias que elas apresentem uma contrapartida para a construção das cisternas. Isto possibilita uma contribuição das mesmas com as ações do Programa, além de fortalecer a organização comunitária, uma vez que uma experiência bastante comum são os mutirões que historicamente envolvem várias famílias na construção das cisternas.

Comunicação

A comunicação é um componente de muita importância para o programa, por se tratar de um instrumento de fortalecimento e visibilidade das ações e das políticas públicas voltadas à convivência com o semiárido. É também um facilitador dos processos de mobilização. 

A comunicação é um meio de se fortalecer institucionalmente a ASA Brasil, de divulgar suas ações, uma forma de garantir o acesso comum à informação, e é um instrumento de interação entre suas organizações. 

É um elemento estratégico na disputa de narrativas sobre o modelo de semiárido grandeza e potenciais, além de visibilizar as potencialidades territoriais e denunciar conflitos e injustiças existentes na região semiárida.

Candeeiros

Apicultura Sustentável Ganha Destaque no Semiárido Piauiense
O resgate do algodão no Alto Sertão Sergipano: A trajetória agroecológica de Seu Humberto
Casa de Farinha, mandioca e tecnologias sociais  transformam realidade no Semiárido
Apicultura, liderança e resiliência:  A trajetória inspiradora de Gracilene Tavares Santos
A AGRICULTORA DAIANE E A DIVERSIDADE DE SEU AGROECOSSISTEMA

Vídeos

Resultados

O impacto do Programa Um Milhão de Cisternas pode ser visto através de sua história. Ele já passou por mais de 1.000 dos 1.417 municípios do semiárido brasileiro, mobilizando, capacitando e beneficiando mais de 650 mil famílias chegando a um potencial de armazenamento de mais de 10 bilhões de litros de água estocada de forma democrática para convivência com o semiárido por todo período de estiagem por todo semiárido.

Desde os anos 2000, o Programa Um Milhão de Cisternas tem possibilitado inúmeros avanços para as comunidades rurais. Para além da construção da tecnologia em si, o P1MC influencia a realidade cultural, econômica e social da região Semiárida. Um legado importante do Programa é o incentivo à organização comunitária em torno da temática da água e de outros direitos. A chegada da água de beber impacta: 

  • o aumento da frequência escolar e melhoria dos índices de educação nas famílias atendidas pelo Programa;
  • diminuição de doenças diarreicas principalmente na população infantil do semiárido em virtude do consumo de água contaminada; 
  • possibilita que mulheres e meninas, que antes eram as principais responsáveis por buscar água, tenham mais tempo para se dedicar a outras atividades como estudar e desenvolver atividades produtivas focadas na geração de renda;
  • distribuição de renda no Semiárido através de ações na construção das cisternas e fortalecimento do comércio local que é impactado através da compra de materiais de construção nos estabelecimentos locais.

Cartilha: Programa Um Milhão de Cisternas https://www.asabrasil.org.br/acervo/publicacoes?artigo_id=279&start=10 

Artigos científicos

Avaliação do impacto do Programa um Milhão de Cisternas Rurais (P1MC) na saúde: ocorrência de diarreia no agreste central de Pernambuco. 

A estreita relação entre mulher e água no Semiárido: o caso do Programa Um Milhão de Cisternas Rurais

Pesquisa da FGV aponta que Programa Cisternas melhora saúde dos bebês no Semiárido brasileiro. Estudo avaliou que acesso das gestantes às cisternas tem relação com o maior peso dos recém-nascidos. Acesse: Climate adaptation policies and infant health: Evidence from a water policy in Brazil

O Impacto de Cisternas Rurais Sobre a Saúde Infantil: Uma Avaliação do Programa 1 Milhão de Cisternas, 2000-2010 (Dissertação).

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