Comunidades rurais do sertão baiano começam a apostar no turismo comunitário para o fortalecimento da Convivência com o Semiárido
O olhar para o Semiárido a partir das diversas possibilidades de convivência com a região geográfica, com o clima, com o Bioma Caatinga, tem levado comunidades do sertão da Bahia a enxergarem o turismo comunitário rural como uma potencialidade que merece atenção. O Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – Irpaa, uma das entidades que integram a ASA, vem ajudando a promover esta discussão no Território Sertão do São Francisco – Bahia.
No último dia 07, a instituição reuniu representantes de comunidades rurais dos municípios de Juazeiro, Uauá, Curaçá e Sobradinho, com o propósito de partilhar as diversas possibilidades que as comunidade já vêm identificando no sentido de trabalhar o turismo comunitário. Na ocasião, foi compartilhada a experiência que está em andamento no Vale do Salitre, área rural de Juazeiro, onde jovens protagonizam a construção da Rota do Carrapicho, iniciativa que já levou para as comunidades visitantes em 2020 e em setembro deste ano.
Para Eduardo Conceição, um dos jovens envolvidos na experiência partilhada, foi muito importante contribuir com outras comunidades ao socializar o que tem sido iniciado no Salitre. Ele celebra o fato de ser uma iniciativa onde predomina o engajamento de jovens e compreende que a proposta do turismo comunitário “não é apenas uma forma de renda, mas também de luta, de pertencimento, de poder mostrar ao jovem que a Caatinga não é apenas agricultura, criação. O turismo vem trazer essa nova visão para a juventude”, afirma o educomunicador do Coletivo Carrapicho Virtual, que está organizando a rota turística no Salitre em parceria com a Agência Chocalho.
Outra região que também tem buscado se aproximar deste debate são as comunidades ribeirinhas de Curaçá, a exemplo da comunidade quilombola de Ferrete. Atualmente, lá está instalado o Quiosque Beira Rio, implantado por meio de projeto da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (Car) do Governo da Bahia, e hoje gerido por um grupo de 11 pessoas da comunidade. As águas e encantos do Velho Chico são o atrativo principal somado à culinária regional, mas já se vislumbra diversas outras formas de atrair as/os turistas e potencializar o envolvimento dos/das moradores/as por meio da oferta de bens e serviços.
Fora da rota das águas, há também muito o que aproveitar, como mostraram moradores/as de comunidades tradicionais Fundo de Pasto de Uauá e Sobradinho. Trilhas, serras, caldeirões, pratos típicos, recaatingamento, pinturas rupestres, danças culturais, são apenas algumas das opções que podem integrar rotas que promovam o turismo comunitário rural neste trecho do Semiárido baiano.
“Após o encontro a gente volta com outra visão”, afirma Juscelio Ribeiro, da comunidade de Caldeirãozinho, em Uauá. Ele destaca que a partir da socialização das experiências, já vislumbra colocar em prática ideias que podem ser desenvolvidas em sua comunidade. Para ele, “o objetivo primeiro é defender o território, que a gente tá lutando contra os invasores (minerações), e também a questão da renda para a comunidade”, especifica Joscelio.
Conforme foi apresentado no encontro, este é justamente um dos objetivos do Irpaa ao apostar no turismo comunitário como uma das novidades nas comunidades rurais. Para além de um complemento importante na renda das famílias, a proposta precisa gerar empoderamento das pessoas, especialmente jovens e mulheres, fortalecer as identidades e a valorização da Caatinga, visando a defesa dos territórios tradicionais e das culturas. Isto é o que irá diferenciar este tipo de turismo do turismo convencional, enfatizaram as/os colaboradores/as da entidade.
Aldenisse Souza, coordenadora do Eixo Educação e Comunicação do Irpaa, espera que “esse encontro inspire elas [as comunidades] a caminhar em rede e (…) façam intercâmbios entre si”. Aldenisse acredita que isso possa facilitar a descoberta dos elementos existentes em cada comunidade, além de ser uma forma de se animarem. “Nessa animação também se juntarem para defender um turismo de base comunitária que ajude os elementos da Convivência com o Semiárido”, pontua.
Em novembro de 2022, o Irpaa organizou uma visita ao município de Areia, na Paraíba, onde hoje existe experiência consolidada de turismo rural. De lá pra cá, tem realizado estudos e discussões internas para então apresentar proposta de apoio às comunidades acompanhadas pela instituição, as quais têm apresentado interesse em desenvolver ações nesta área.
Ao final do encontro, foi encaminhado que cada comunidade irá se esforçar para mapear suas potencialidades que venham a compor rotas turísticas que envolvam as belezas naturais, manifestações culturais, culinária, artesanato, empreendimentos de economia solidária, projetos e tecnologias sociais, entre outros. Em março, será realizado um intercâmbio a partir de visita à região do Salitre.