Fórum Cearense pela Vida no Semiárido realiza encontro estadual de Incidência Política

Compartilhe!

Nos dias 11 e 12 de maio, aconteceu em Fortaleza (CE), na sede da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Ceará, o Encontro Estadual de Incidência Política, expressando a voz e as lutas dos povos de comunidades tradicionais, entidades, organizações e movimentos sociais. Na mística de abertura, cada micro dos territórios que compõem o Fórum Cearense pela Vida no Semiárido ( ASA Ceará), trouxeram ao palco símbolos e nomes de pessoas que representassem resistência aos seus territórios e para o estado. Entre chapéus de palha, sementes crioulas e bandeiras de luta, a mística homenageou: Beato José Lourenço, Paulo Freire, Zé Maria do Tomé e Marielle Franco. 

A mesa de abertura expressou a diversidade dos territórios, os diversos saberes e práticas que aprofundam o debate sobre a incidência das políticas públicas de promoção da convivência com Semiárido, da agroecologia, do feminismo, e das juventudes. Destacou-se a participação da agricultora Maria de Fátima, mais conhecida por Fafá, da comunidade Jenipapo do município de Itapipoca que destacou em sua fala, o trabalho histórico e de resistência das mulheres camponesas na luta por tecnologias sociais e em defesa da agroecologia.

“Sou agricultora, feminista, defendemos que as tecnologias de convivência sejam ampliadas. Na pandemia demos continuidade às feiras, inclusive online. As famílias se sentem empolgadas com as bio-águas, biodigestores e a produção compartilhada entre as famílias para se fortalecerem. Amo vocês todos, considero vocês a minha família”, destaca Fafá.

Em seguida uma mesa tratou da Análise de Conjuntura, sendo composta por lideranças políticas e movimentos sociais. Cristina Nascimento, chefe de gabinete do prefeito do município de Itapipoca, destacou a importância da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) na realização dos encontros de incidência política nos estados do Semiárido.

“Muita alegria, muito emocionante nos reencontrarmos aqui. Queria iniciar reafirmando esse momento, pois quando a ASA chama os estados para fazer encontro de incidência política é para entendermos a importância desse momento. Importância de ocuparmos os lugares, os espaços, pois precisamos discutir a política. Nossas pautas são políticas” destaca Cristina. Foram falas que trouxeram sentimentos e chamamentos das pessoas na plenária para que as lutas nos territórios sejam fortalecidas com unidade.

O terceiro momento do dia contou com a participação de movimentos sociais, grupos e organizações que trouxeram suas demandas e trabalhos de incidência realizados no estado, na mesa de debate “Partilhando e construindo caminhos de incidência no Ceará”.

A pergunta norteadora para a construção das partilhas foi: “O que temos feito de incidência política no Ceará?”. A mesa de debate mediada por Andrea Souza (FCVSA) ecoou as vozes de Joseli Cordeiro, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Malvinier Macedo, do Conselho Nacional de Segurança Alimentar – CONSEA-CE, Erinaldo Lima, da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado do Ceará (FETRAECE), Emanuel Lima da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sebastião Francisco da Silva, do Quilombo Base e Samuel Oliveira, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

As representações destacaram o papel da sociedade civil organizada no processo de conquistas históricas de políticas públicas para os povos do Semiárido. Foi discutido também o sucateamento das instituições, movimentos sociais e leis que asseguravam a vida e a soberania dos povos de comunidades tradicionais, bem como a preservação da caatinga.

Malvinier Macedo do CONSEA-CE destacou o papel do conselho na ampliação do debate sobre a desenfreada ação de liberação e regulamentação dos agrotóxicos no Brasil nos últimos anos. “Estamos trazendo essa pauta constantemente, contra o uso de agrotóxicos e contra alimentos industrializados, que enchem o bucho, mas não nutrem. Existe o guia alimentar para a população brasileira, pode ser baixado na internet que foi publicado em 2014. É um guia que vive sendo ameaçado dentro do congresso nacional. Lá dentro tem um grupo que quer tirar a palavra ultraprocessados, pois querem dizer que aquilo é alimento”, destacou Malvinier.

Samuel Oliveira do MAB destacou que é momento de unidade na esquerda para concretização e manutenção de políticas públicas permanentes para combater as privatizações e garantir a soberania dos povos. “A organização se faz necessária no local. Só temos o povo para contar. O rompimento da barragem não é acidente, é crime. É preciso baixar as tarifas da energia elétrica, pois a forma mais barata de produzir é através das águas e nossa tarifa é uma das maiores do mundo. A perda de soberania que tivemos se deve muito às privatizações”, afirma Samuel.

A mesa de debate trouxe também partilhas sobre a conjuntura política nas cidades, periferias, escolas e espaços de participação popular.

No segundo dia, o evento contou com a participação de Ana Teresa, Secretária de Desenvolvimento Agrário do estado do Ceará. A primeira mulher em 100 (cem) anos a ocupar o cargo na secretaria. A fala da secretária trouxe elementos importantes para levar a plenária aos trabalhos em grupo. Estes foram norteados por perguntas ligadas às políticas públicas. O evento foi concluído com apresentação dos trabalhos em grupo. Com propostas firmes e demandas sólidas, na certeza que o fórum possui um coletivo comprometido que construiu um rico debate e denso trabalho em grupo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *