Campo e Cidade unidos para denunciar a volta da fome no Brasil

Agroecologia
Compartilhe!

“Não quero mais a fome no meu País”. A frase foi repetida diversas vezes na manhã desta quarta-feira (25) por agricultores, agricultoras, estudantes e integrantes de movimentos e redes ligadas à agricultura familiar e a agroecologia que ocuparam o Pátio de São Pedro, no Centro do Recife, para debater o tema da volta da fome e como isso se relaciona com o atual contexto antidemocrático. A frase também esteve estampada em cartazes e faixas distribuídas ao longo das paredes e fachadas dos casarios do pátio, um lugar de memória da escravidão no Brasil.

O painel Soberania Alimentar e Democracia: a Contribuição Histórica da Agroecologia fez parte da programação de 25 anos do Centro Sabiá, entidade que integra a Articulação Semiárido (ASA). Na ocasião, Joelma Pereira, agricultora de Cumaru, no Semiárido pernambucano, contextualizou o atual momento: “A gente vive hoje uma situação de muita injustiça. Não tem sido fácil permanecer na terra”. E enfatizou: “sou uma das muitas agricultoras que está em busca da soberania e segurança alimentar”.

O anseio de Joelma e de tantos outros agricultores/as, como ela mesma destaca, esbarra no desmonte das políticas sociais orquestradas pelo atual governo que têm afetado, sobretudo, as populações rurais. São várias as propostas em curso que ameaçam as terras dos povos quilombolas e dos indígenas, as sementes crioulas, os mananciais de água, e consequentemente a produção de alimentos.

“Vivemos uma deslegitimação da agricultura familiar”, frisou Maria Emília Pacheco, assessora da FASE e do Núcleo Executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), uma das palestrantes. Para ela, a soberania alimentar também está associada a articulação entre o Campo e a Cidade e a comida é o elo entre esses dois lugares. “Ao comprar um alimento agroecológico eu assumo também o compromisso político com esse tipo de alimento. Precisamos reforçar essa interação”.

No Pátio São Pedro, em Recife, local onde o evento foi sediado, cartazes e plaquinhas lembravam a importância da agroecologia e denunciavam a volta da fome | Foto: Catarna de Angola

Já Cristina Nascimento, da coordenação da ASA e integrante da Rede Ater Nordeste, enfatizou a importância do momento eleitoral e de como o resultado nas urnas podem acirrar o quadro de desproteção social. “Não adianta eu comprar na feira e votar a favor de alguém que defende o agronegócio”, exemplificou.

Ela também defendeu o modelo de produção agroecológico como o caminho para uma sociedade sem fome: “A prática da agroecologia além de ser bonita é a opção de resistência onde homens e mulheres constroem sua autonomia. São esses homens e mulheres, através das cisternas, das feiras, que nos levam a afirmar que não queremos mais a fome e de que é possível não ter mais fome”.

Unindo as questões trazidas, Paulo Petersen, coordenador executivo da ASP-TA e do Núcleo Executivo da ANA, destacou que a fome é reflexo da falta de democracia e uma questão política e não de falta de alimentos. “Com o conhecimento que nós temos, com as tecnologias, é inadmissível que os ser humano não tenha garantido o direito a comida”.

Petersen frisou ainda, que sem o trabalho na base não existe democracia participativa. “Democracia não é assunto só de governo. É um processo coletivo, de idas e vindas, de construção de política pública. Democratização é P1MC [Programa Um Milhão de Cisternas] e P1+2 [Programa Uma Terra e Duas Águas] ”, disse referindo-se aos dois principais programas de democratização de acesso à água no Semiárido criados e executados pela sociedade civil através da ASA.

Paulo também definiu o Centro Sabiá, entidade que promoveu o debate, como uma organização democratizante. “O ninho do Sabiá é a agroecologia. É a construção de pontes. O que estamos vendo aqui é o direito à cidade, é agricultura urbana, são ideias democratizantes”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *