Inverno de 2017 deve trazer mais chuvas para o Piauí do que em 2016 dizem Profetas

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“O inverno de 2017 deve ter mais chuvas do que o de 2016”. Esta frase foi repetida por seis dos 10 profetas que relataram suas observações na natureza durante o IX Encontro dos Profetas da Chuva. O evento foi realizado na manhã do dia 07 de janeiro na Ecoescola Thomas a Kempis em Pedro II, região norte do Piauí, localizada a 200 km de Teresina. Esse foi um dos destaques nas previsões dos profetas para a região norte do Piauí, relatadas através das experiências que esses sábios agricultores, herdeiros de um saber passado de geração para geração, possuem a partir do hábito de observar os sinais da natureza.

O Inverno aqui citado corresponde ao período de chuvas no Nordeste do Brasil, compreendido entre janeiro e maio, o qual algumas vezes ou em determinados lugares estende-se até o mês de junho. Os profetas relataram ainda, que o fato de se observar que o ano pode ser mais chuvoso do que o ano anterior, não traduz necessariamente que seja um período de chuvas regulares ou que tenha uma boa safra para as famílias agricultoras.

As previsões segundo os profetas

Segundo o profeta Antonio Miguel, o inverno pode ter chuvas espaçosas, porém, afirma ele, que suas observações do mês de setembro confirmam: “Depois de março vai ter chuvas para grandes enchentes nos rios de nossa região, agora se vai dar muitos frutos vai depender de Deus”, disse.  O profeta acrescentou também que: “muita gente discorda do que a gente diz, mas nós observamos a natureza, nós sabe o que o inseto faz, o pássaro… observamos a quintura da terra… do corpo”, acrescentou.

José Inácio é profeta e também experiente agricultor da localidade de Cachoeira Grande no município de Poranga – CE. Ele faz suas observações através de pequenos animais, também das nuvens e estrelas no céu: “No dia 25 de dezembro, dia da Barra do Natal eu saí cedinho de casa para observá-la. Vi que ela este ano foi mais bonita do que em 2016, pra mim isso afirma que o inverno será melhor do que o do ano passado”, disse o profeta. Relatou também que a formiga todo ano retira o resto de entulho de dentro da sua casa, deixando limpinha para colocar uma nova comida. “Ela limpou a casa ainda no final do ano passado, porém até agora não colocou nada em casa, significa dizer que ela está esperando a chuva”, disse.

A observação da natureza é a fonte de conhecimento dos profetas da chuva | Foto: Neto Santos

O agricultor e profeta Joaquim Sotero afirmou, em seu depoimento, que o inverno não tem dado sinais de que venha logo. Tendo nas plantas suas principais observações, o profeta mostrou ao público presente o velho pé de catingueira, próximo de sua residência no sítio Buritizin a 5 km do centro de Pedro II, relatando que o mesmo ainda “não chorou este ano”. “Olhe aqui, essa árvore costuma todo ano entre outubro e dezembro pingar água em sua sombra quando as chuvas se aproximam, estamos em janeiro e até agora nada, pra mim isso significa que as chuvas ainda vão demorar”, afirmava. Mas o profeta também acredita e disse que haverá grandes chuvas em 2017, enchendo inclusive os reservatórios de água da região.

Joaquim Sotero mostrou ainda, dois pés de guabiraba bem florados, indicando segundo ele que a chuva vem, é só uma questão de tempo. Foi possível o profeta mostrar sua experiência “in loco”, porque o Encontro dos Profetas da Chuva deste ano incluiu em sua programação uma visita de intercâmbio ao sítio da família Sotero, o Buritizin. Mas as observações de que vem muita chuva para a região nos próximos meses não foi unanimidade entre os profetas. Algumas experiências relatadas indicam chuvas abaixo da média.

Para o profeta José Ferreira, agricultor muito experiente e com quase 50 anos da lida no campo na região do Vale do São Francisco, região que fica a quase 50 km de Pedro II, suas observações afirmam que o ano de 2017 apresentará um período de chuva abaixo da média histórica para esta região. “As minhas observações me deixaram dúvidas porque pelas minhas experiências de setembro indicam que ainda não vai chuver a média e tem tudo para as chuvas serem menos do que no ano passado, vamos aguardar”, disse seu José Ferreira.

A metodologia do evento

O Encontro dos Profetas da Chuva ocorre quase sempre na propriedade de um dos profetas que tenha uma área de produção planejada e de manejo sustentável. Assim a organização do evento realiza duas atividades em uma só. O encontro para o fortalecimento da sabedoria popular e suas experiências e a outra para o incentivo a produção agroecológica na agricultora familiar.

Por quase duas horas, convidados, técnicos e pesquisadoras presentes no evento ouviram dos profetas, sábias palavras e até frases filosóficas de pessoas que não frequentaram universidades, porém mostram uma sabedoria única. Como dizia a professora e socióloga Ivanilda Amaral: “Vocês não têm o saber, vocês têm a sabedoria, pois o saber é passageiro, se vai, já a sabedoria é transcendente, dura para sempre”.

O encontro deste ano

O Encontro dos Profetas da Chuva ocorreu na Ecoescola Thomas a Kempis, incluindo na programação a visita ao Sítio Buritizin localizado a 5 km da escola, a fim de que os participantes conhecessem a produção e manejo sustentáveis do local. Teve até caldo de cana, fresquinho, tirado no engenho do sítio. A visita ao Sítio oportunizou ao profeta Joaquim Sotero apresentar o manejo e produção sustentáveis do local e mostrar também suas experiências observadas nas plantas do lugar.

Segundo Neto Santos e Adeodata dos Anjos do Centro Mandacaru, Entidade realizadora do Encontro dos Profetas da Chuva em Pedro II, a ideia não é tão somente para ouvir as experiências e previsões do tempo dessas pessoas, mas é especialmente alimentar e fortalecer uma sabedoria passada de geração para geração, para que ela permaneça viva por muitas outras gerações. Uma meta ainda a ser atingida no evento, é motivar a participação das mulheres. Em todos esses anos, a organização tem incentivado as profetizas a ocuparem este espaço. Dona Antonia Carreiro de 67 anos da localidade Cachoeira Grande – CE participa do grupo desde o início, mas esteve ausente do evento este ano.

Este é o primeiro ano em que o Encontro dos Profetas da Chuva tem conotação estadual, apesar de ainda não ter contado com a presença de profetas e profetizas de outras regiões do Piauí, este foi o ano em que o Fórum Piauiense de Convivência com o Semiárido – FPCSA, também chamado ASA Piauí, esteve presente e apoio o evento através da sua Coordenação Executiva e de representantes de outras organizações integrantes do Fórum.

Carlos Humberto destaca a relevância do saber dos profetas | Foto: Neto Santos

Durante sua fala, Carlos Humberto Campos, coordenador do FPCSA e também integrante da Coordenação Executiva da Articulação do Semiárido Brasileiro, ASA Brasil, lembrou que esse é um momento privilegiado: “Vocês não são apenas profetas da chuva, vocês são guardiões da vida, símbolos de experiências. O Fórum agradece pela oportunidade de estar presente aqui”. 

Carlos Humberto disse também que o Fórum vai identificar através de suas organizações outras pessoas no Estado do Piauí com esse dom, e assim fará uma grande mobilização, realizará intercâmbios, resgatará e valorizará essa sabedoria viva presente no Semiárido Piauiense. O Coordenador destacou que é com o sentimento de perseverança que a ASA Brasil tem o objetivo de lutar e contribuir para a Boa Nova no Semiárido Brasileiro, e finalizou lembrando o cântico que diz: “Eu acredito que o mundo será melhor quando o menor que padece acreditar no menor”.

 

 

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