Delegação do Haiti conhece experiência de convivência com o Semiárido brasileiro
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Na manhã da última sexta-feira (04), integrantes da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e do Centro Agroecológico Sabiá receberam membros da Plataforma de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável do Haiti (Paded). Na ocasião, as entidades trocaram informações de como atuam na promoção da agroecologia e mobilização social das famílias agricultoras. A visita dos haitianos teve como objetivo conhecer como a Articulação se organiza para realizar atividades em todo o Semiárido que promovam, entre outras coisas, acesso à água, renda, valorização do saber popular e a permanência das famílias no campo.
De acordo com a delegação, formada por cinco membros da Plataforma, há diversas semelhanças entre o trabalho realizado no Brasil e no Haiti. “Um ponto comum é que trabalhamos com o mesmo público, que são as famílias agricultoras que estão em zonas afastadas e não se beneficiam muito de políticas e da assistência do Estado. Outra questão é ação que estamos promovendo para que elas continuem o trabalho com a agroecologia mesmo que não exista mais projeto para apoiá-los. Além do incentivo à participação de mulheres e de jovens; a juventude na perspectiva de eles continuarem o trabalho no campo”, destacou Guilma Augustin.
Diferente da região semiárida brasileira, os haitianos possuem melhores condições de acesso à água, algumas regiões em abundância outras com menos recursos hídricos, mas eles salientaram que a falta de políticas públicas dificulta o acesso à água em algumas localidades e que nos últimos três anos a ação do el niño agravou a situação, sobretudo, pelo impacto que o país tem sofrido devido às mudanças climáticas. Outro desafio para os/as camponeses/as que vivem no país é o acesso a recursos financeiros para investir em suas atividades produtivas.
“As famílias com as quais trabalhamos têm uma situação financeira crítica e não têm recursos para investir, então, muitas vezes as pessoas esperam que o projeto venha com todas as coisas porque não têm como investir ou pedir emprestado. Então [os projetos] têm que vir com os animais e com as sementes, por exemplo. Outro limite é a questão da água e da mão de obra porque atualmente as pessoas deixam as zonas rurais, principalmente os jovens, para ir para outros países como Brasil, Chile, México”, revela o membro do Paded, Raymond Délinois.
Já Jean-Zenny Coffyressalta, que também faz parte da Plataforma, lembra que as famílias no Haiti enfrentam as dificuldades no acesso a terra para cultivarem, bem como na conquista da legalização das terras onde vivem. “Há outro problema que é o acesso a terra e a segurança ao acesso a terra. A maioria das famílias com as quais trabalhamos tem pouca terra, mais ou menos um hectare. Também o Estado, através do Ministério da Agricultura, não tem uma politica pública em favor da agroecologia, então essa ação é feita em sua maioria, pelas organizações”, afirma Coffyressalta.
Além do trabalho da ASA, a delegação visitou experiências de famílias agricultoras assessoradas pelo Centro Agroecológico Sabiá, organização membro da ASA, e viu de perto como os/as agricultores/as familiares da região semiárida lidam com as intempéries do clima. A cultura de estoque de alimentos, sementes, água e forragens foi uma das atividades que chamou a atenção dos membros da delegação haitiana, bem como a utilização de árvores nativas para produção e alimentação.
“Um grande aprendizado que tivemos com o trabalho da ASA é de que se pode viver no semiárido gerenciando a água e, viver bem. Essa capacidade de adaptação pode servir também para adaptação às mudanças climáticas e condições do meio ambiente. Outra ação interessante é a questão de trabalhar com espécies de animais e plantas adaptadas e com isso, não precisar trazer de fora e também a utilização da palma forrageira para alimentação animal. No Haiti, tem palma, mas não é utilizada com esse fim. A gente viu que é importante utilizar e valorizar os recursos naturais locais”, salientou Clarque-Herick Antoine que também integra a Paded.
PADED
A Plataforma de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável (Paded) é uma rede formada por 33 organizações haitianas de base que envolve grupos, associações, municípios, estados e uma confederação. A rede trabalha com a promoção e incentivo de práticas agroecológicas junto há mais de 30 mil famílias camponesas no país.
As zonas rurais do Haiti, segundo os membros da Paded, são caracterizadas por solos que passaram por processos significativos de erosão devido ao cultivo em regiões montanhosas e ao desmatamento. Por isso, uma das maiores preocupações da organização é desenvolver ações que promovam a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e que proporcionem a recomposição do solo. Como premissa, eles defendem que as espécies cultivadas devem alimentar as pessoas, os animais, a própria terra e o mercado.