Em Encontro Estadual, a ASA Sergipe analisou a conjuntura política atual e refletiu caminhos de enfrentamentos baseados na luta, organização e unidade dos povos do Semiárido
A mística de abertura, embalada pela música “Desesperar Jamais”, de Ivan Lins, deu o tom de luta e resistência dos povos do Semiárido ante a atual conjuntura política. O evento foi, ao mesmo tempo, um momento preparatório para o IX ENCONASA, a ser realizado em novembro, na cidade de Mossoró-RN. A ASA Sergipe optou por trabalhar as atividades a partir do tema do próximo ENCONASA, “Povos e Territórios: Resistindo e Transformando o Semiárido”.
Metodologicamente, o Encontro substituiu as mesas por bancos de diálogos. Ao todo, foram quatro bancos. O primeiro foi conduzido por Rafaela Alves, do Movimento dos Pequenos Agricultores e Agricultoras (MPA), João Alexandre, coordenador da ASA pelo Estado de Sergipe e o vereador Iran Barbosa. Os três conduziram uma profunda análise da conjuntura política atual.
Iran destacou que o momento é grave e que exige uma unidade das forças trabalhadoras: “O momento exige que reflitamos juntos, ou seja, a realização de uma reflexão que não isole os trabalhadores/as do campo e os da cidade, posto que os desafios são muitos grandes”. Ele chama atenção ainda para a agenda que está sendo praticada pelo o atual governo, a mesma que foi rejeitada nas urnas desde 2002.
“Vivemos um cenário de golpe no nosso país, devido ao fato de que a cada minuto, dia que passa, se fortalece a concepção de que no Brasil se encontrou um jeito de afastar um governo eleito, não pelos problemas ou fragilidades, mas para se implantar uma agenda que tinha sido derrotada desde o ano 2002. No entanto estamos vendo que de forma muito aligeirada, a pauta que foi derrotada lá atrás pelo povo está sendo agora implementada a passos largos”.
No momento ainda foi feita uma reflexão sobre a aprovação da PEC 241, que veio ser chamada agora como PEC 55 no Senado Federal. A proposta é exatamente a coroação das ideias que conseguimos “barrar e limitar lá atrás”. Rafaela chamou atenção para a necessidade da retomada dos trabalhos de bases. Ela destacou o papel da juventude em todos os momentos da história e de como ela está cumprindo brilhantemente seu papel nesse contexto atual: “Há uma forte resistência da juventude ante tudo isso que está acontecendo. As ocupações das escolas e das ruas é uma demonstração clara de que estamos vivos”.
Rafaela ainda destacou que o ENCONASA deve apontar com clareza as estratégias e as táticas que nortearão os camponeses e camponeses na sua militância na organização das bases para a resistência e luta nos próximos anos. “ É preciso traçarmos os passos certinhos que vamos dando e não podemos pregar o desespero”, pontuou Rafaela.
João Alexandre reforçou o papel dos ENCONASAS na trajetória da ASA e o IX como um momento que marcará a resistência e luta dos povos do “Semiárido por Nenhum Direito a menos”. Na sequência aprofundamos essa análise em uma construção participativa de uma linha do tempo, facilitada por Iva Melo, pesquisadora bolsista do Projeto de pesquisa Sistemas Agrícolas Familiares Resilientes a Eventos Ambientais Extremos no Contexto do Semiárido Brasileiro (Projeto ASA/INSA), pudemos analisar e visualizar os embates ideológicos e de modelos de desenvolvimento para o Semiárido ao longo das últimas sete décadas. O trabalho serviu entre outras questões para aprofundamos os avanços nas políticas sociais na última década e ratificar a ameaça e o atraso que representa a PEC 241/ ou PEC 55/2016.
O segundo banco de conversa com o tema Agrobiodiversidade, caminhos para convivência, propiciou a troca de saberes sobre o tema na ótica de um técnico agrícola, um agricultor experimentador e um engenheiro agrônomo. Sendo o Encontro um momento de reafirmar nossas identidades a noite cultural foi marcada por um lindo forró de pé de serra. Onde as músicas e a dança reanimaram as energias para o dia seguinte.
Se o primeiro dia foi marcado por profundas análises da conjuntura, o segundo dia trouxe em sua mística a certeza que precisamos estar juntos e animados na fé e no sentido de sermos comunidade. Para animar o dia foi trazido ao som de pandeiros e palmas a canção Baião das comunidades de Zé Vicente que tanto já animou as comunidades de base à luta.
Entrando de vez no clima do IX ENCONASA, fizemos uma viagem pelas ondas sonoras do programa de rádio, produzido pela ASAcom, que narrou a história dos oito Encontros Nacionais já realizados pela Articulação Semiárido.
Mais dois bancos marcaram o encontro no segundo dia, o primeiro com o tema Gênero e Convivência conduzido por Euziane Rafael do MPA e Assessora de gênero do Núcleo de Extensão em Desenvolvimento Territorial (NEDET). O último banco do encontro teve como título: Banco de Saberes práticos sobre convivência com o semiárido e foi conduzido pelas camponesas: Josefa Vieira e Edileuza Araújo e os camponeses: Eduardo Leal e Carlos Soares.
Eduardo Leal, 25 anos, destacou a importância da mão obra familiar como um elemento importante para a produção no campo, para ele não se pode contratar todos os serviços necessários para o desempenho da propriedade porque isso se torna insustentável, assim o aprendizado é fundamental: “ Lá no sítio a minha maior fonte vem da citricultura, e a enxertia é cara se for pagar para fazer. O que eu fiz, fui aprender a fazer e agora as enxertias da propriedade são feitas por mim”.
Dona Josefa, falou com emoção da sua condição de mulher separada, autônoma e dona de sua vida. Para ela o segredo da convivência é diversificação de cultivos e o amor ao que se faz. O respeito à natureza e ao bioma caatinga e a ASA no processo de formação e transformação da prática foi trazida como força nas falas de Edileuza e Carlos.
Fechando o encontro a rede de comunicadores do estado trouxe o debate sobre a luta pela democratização da mídia, numa breve apresentação de imagens sobre as ocupações pelo País e mobilizações dentro do estado e que não há divulgação na imprensa. Refletimos sobre as intencionalidades da comunicação, que é apenas o de manipular a opinião pública a serviço das elites.
Ainda foi apresentado o boletim estadual “O Voo da Juriti”, que está de cara nova, o painel do estado para o ENCONASA.
O Encontro foi finalizado ao som da música de saudação do ENCONASA Potiguar e gritos de animação para luta.