Mulheres reafirmam suas histórias, conquistas e desafios no IV Encontro de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do Semiárido
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Os espaços de debates e diálogos entre mulheres agricultoras do Semiárido foram destaque no IV Encontro de Agricultoras e Agricultores Experimentadoras do Semiárido, que acontece desde segunda-feira passada (6), em Aracaju (SE). No primeiro dia de encontro, mais de 100 mulheres estiveram reunidas numa plenária autogestionada, com o objetivo de debater conquistas e desafios na luta pelos seus direitos. Cantando versos como “Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer, participando sem medo de ser mulher” e “A nossa luta é todo dia, somos mulheres e não mercadoria”, as mulheres destacaram a importância e o papel das mulheres para a agroecologia e para a preservação da biodiversidade.
Durante a plenária, as participantes relataram a dificuldade que as mulheres do Semiárido tinham há 20 anos, antes das políticas de acesso à água, carregando latas de água na cabeça por quilômetros para poder abastecer a casa. A falta de água gerava também muitas mortes de crianças por conta da sede e fome e ainda levava as comunidades a realizar saques em estabelecimentos comerciais pela dificuldade em se produzir e conseguir alimentos. Com a conquista do direito à água e o acesso à cisternas de consumo humano e de produção por meio dos programas Um Milhão de Cisternas (P1MC) e Uma Terra e Duas Água (P1+2), da Articulação no Semiárido, o cenário mudou. As mulheres comemoram pela saúde e segurança alimentar da família sem falar na renda que agora conseguem produzindo seu próprio alimento.
A oficina sobre auto-organização das mulheres, realizada no terceiro dia do encontro, foi outro ponto alto do evento. Os grupos que participaram das visitas de intercâmbio em associações comunitárias lideradas e geridas por mulheres socializaram suas impressões e puderam refletir sobre a participação das mulheres nos espaços de poder. As reflexões se deram a partir dos relatos de experiências de Maria Verônica de Santana (SE), representante do Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR-SE), e Maria Santa, agricultora e liderança comunitária do Vale do Jaguaribe, no Ceará.
Para Dona Santa, como é conhecida, é preciso que as mulheres sejam coletivas e dialoguem com os homens nos espaços em que circulam para que possam andar lado a lado. “Precisamos derrubar o machismo de mãos dadas para deixarmos de ser plateia e irmos para o palco”, reforça. Maria Santa lembra também da importância do apoio da ASA para o fortalecimento das mulheres, incentivando a mobilização de mulheres e fortalecendo o seu papel nas ações comunitárias e associativas. “Falar da organização de mulheres é falar de determinação, coragem, compromisso, persistência e fé porque somos guerreiras. As mulheres têm se destacado na sociedade, mas nosso espaço ainda está começando. Precisamos continuar avançando”, diz.
Verônica explicou que a sociedade sempre foi pensada na lógica dos homens e, por isso, as mulheres não têm espaço para decidir sobre suas vidas. “A vida inteira fomos privadas da vida pública, fomos educadas que esse não é o nosso lugar. O espaço de casa não tem valor na sociedade machista e esse lugar fica delegado a nós, mulheres”, afirma. A representante do MMTR ressalta que é preciso ter espaços de discussão apenas para as mulheres. “Vocês acham que os homens dizem nas suas reuniões que precisam da presença de mulheres? Vocês acham que as mulheres vão falar das agressões e violências sofridas em casa nas reuniões em que o marido está? Desde criança, aprendemos a competir umas com as outras. Quando uma mulher sofre, todas nós somos vítimas”, complementa.
Verônica lembra ainda que as próprias mulheres reproduzem o machismo, mas não podem ser chamadas de machistas porque machismo é o poder exercido sobre a mulher apenas pela diferença de gênero. “Basta ser homem para mandar. Mandar na irmã, na esposa. Quanto mais mulheres tivermos nos espaços e encontros organizados, mais mulheres temos dialogando com os homens com quem se relacionam. Assim, podemos fortalecer o feminismo e os espaços de autogestao da mulher”, conclui. A falta de formação e informação, a desigualdade social e a falta de reconhecimento da luta das mulheres são os desafios que permanecem, segundo Maria Santa. A atividade é encerrada com a afirmação de que as mulheres estão cada dia mais firmes, unidas e não irão se calar.
Poesias elaboradas durante a Plenária das Mulheres no dia 6
Mulher do sertão
Por Alciene de Queiroz Silva – Escola Família Agrícola Mãe Jovina (EFAMJ) – Ruy Barbosa – BA
Mulher brasileira
Grande guerreira
Mulher do sertão
Com calos na mão
Mulher que conquista o voto na política
Mulher que é vista por muitos sem valor
Vocês são heroínas de um povo sofredor
Conquistamos a voz
Conquistamos a vez
Continuem na luta.
MULHERES, nossos espelhos são vocês.
Mulheres guerreiras
Eleiane Santos Coelho Andrade – Secretária do banco de sementes da esperança do Distrito Ponto de Mairi – BA
Mulheres guerreiras
Lutando por seus direitos
Se libertando de maridos dominadores
Superando preconceitos
Bancos de sementes
Cisterna calçadão
Empodersmdo as mulheres
Com garra e união
Mulheres trabalhadoras
Hoje vai aonde quer
Lutando por seus direitos
Sem medo de ser mulher