Agricultores e agricultoras do Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha participam de Encontro Territorial de Sementes
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As Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais e Diocesana de Araçuaí, o Centro de Agricultura Alternativa (CAA-Montes Claros) em parceria com a Rede Agrobio realizaram nos dias 17 e 18, na Comunidade Tesouras de Cima e no Centro Diocesano em Araçuaí, o Encontro Territorial do Programa Sementes do Semiárido. O Programa é uma ação da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha.
Memória e saberes para além das Sementes – O Encontro Territorial do Programa Sementes do Semiárido não foi apenas uma reunião de pessoas e entidades debatendo problemas e angústias do sistema atual. Foi uma grande oportunidade que essas diversas pessoas, vindas do campo e das instituições que lhes acompanham, tiveram para partilhar suas vivências, seus saberes e suas lutas na resistência à politica do agronegócio que cada vez mais pressiona o agricultor e a agricultora familiar a abrir mão de suas práticas saudáveis de produzir e consumir alimentos livres de veneno e agrotóxicos.
Na chegada, uma calorosa acolhida pelo coral da comunidade e belas palavras de boas vindas ditas por Seu Zezé das Tesouras, importante liderança comunitária. Conhecer um pouco de cada um, de cada uma, a partir de uma apresentação pessoal, onde destacaram momentos marcantes e modificantes do ser de cada participante trouxe um alento ao nosso trabalho, promotor de transformação e protagonismo popular e social.
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A relação atávica com as sementes da vida, da paixão, crioulas ou da gente e tantos nomes como são conhecidas, além de gerar alimento, carrega consigo a memória viva de um povo. Elizangela Ribeiro de Aquino, a Lô, do assentamento Tapera no município Riacho dos Machados, no Norte de Minas, diz que a vida toda foi incentivada a trabalhar com a questão da agrobiodiversidade, e como guardiã vê nas sementes, vida. “Ser guardiã de sementes é proteger a vida, a gente se torna multiplicador de vidas. Cada semente tem uma história por trás dela. E Isso não se pode perder”.
Seu Cristovino Ferreira Neto, geraizeiro e guardião da agrobiodiversidade na região de Grão Mogol, é assertivo ao dizer que ser guardião é diferente de ser produtor de sementes e explica: “o produtor de sementes produz as variedades em grande escala para ter dinheiro e o guardião está preocupado com a biodiversidade, guarda as sementes nativas para ele, para os vizinhos e para as futuras gerações. As sementes representam liberdade, independência, soberania, segurança alimentar, cultura e vida”.
Para Vanessa Fonseca Ayres, coordenadora do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) na região do Baixo Jequitinhonha, trazer a juventude para o debate da preservação das sementes é de grande importância, uma vez que está nas mãos dessa juventude a continuidade dessa história de vida. E foi com força juvenil que numa dinâmica trazida pelo Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), quarenta mudas de plantas adaptadas à região foram plantadas em menos de 40 segundos. Atividade que arrancou sonoras gargalhadas do nosso povo.
A partir do que diz Paulo Freire “só aprendemos aquilo que faz sentido para nós e com o que conseguimos estabelecer vínculo afetivo”, este Encontro Territorial foi pensado de modo a dar autonomia e autoconfiança aos agricultores e agricultoras participantes dos Bancos ou Casas de Sementes, para que, com liberdade de expressão, possam gerir de forma autônoma e criativa o projeto em suas comunidades. E o resultado: pequenas e significativas amostras de tantos saberes e sementes que foram compartilhados.
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Gente simples e feliz que respeita a terra e tudo que ela produz, revelando a magia desses encontros que criam, estabelecem e fortalecem vínculos nessa grande rede de guardiões e guardiãs, alimentada pela parceria com o CPCD, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Centro de Agricultura Vicente Nica (CAV) e os/as protagonistas de tudo isso: as famílias agricultoras.