ASA reúne movimentos e organizações do campo para refletir sobre produção de alimentos saudáveis

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Representantes de movimentos sociais e organizações da sociedade civil do campo se encontraram na manhã desta segunda-feira (7), em Gravatá (PE), num evento de planejamento do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), para debater a produção de alimentos no Semiárido e no mundo. Nas falas direcionadas para cerca de 80 pessoas, entre os quais representantes de 49 organizações da ASA, foram elencados elementos que põem em xeque a segurança alimentar da humanidade. Apesar do contexto alarmante, os convidados também reconheceram iniciativas de resistência à padronização dos alimentos provocada pela mercantilização da alimentação a partir do capitalismo.

“Todos nós que trabalhamos a terra temos uma missão: produzir alimentos saudáveis”, afirmou Francisco Dalchiavon, o Chicão do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), depois de apresentar números que situam a importância das regiões semiáridas em todo o mundo e no Brasil. Chicão destacou também a erosão genética dos alimentos em escala mundial. “Apenas cinco alimentos estão na base da alimentação mundial: arroz, trigo, batata, soja e milho. As multinacionais tomaram conta, no mundo inteiro, da alimentação e a transformaram em mercadoria. As sementes crioulas são o elemento principal da nossa vida e da humanidade e representam a resistência a esse modelo”, ressaltou ele, creditando às feiras da agricultura familiar uma relevância enorme por conta da variedade de alimentos que circulam nelas.

Da Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas (Conaq), Antônio Bispo dos Santos, falou da produção de alimentos olhando para as contradições que pairam ao redor até de quem defende a segurança alimentar. “Quem aqui consome mais milho do que trigo?”, perguntou para a plenária. Por várias vezes, Bispo falou do processo de recolonização que estamos submetidos e reproduzimos de forma inconsciente. “Toda a vez que saio do meu território dizendo o que as pessoas de outros lugar devem fazer, isso é colonizar”. E, por aí, Bispo chegou na invasão da cultura alimentar que, segundo ele, pode ser um dos problemas que surgem quando a produção se volta para a comercialização. Bispo ressaltou também o uso dos venenos nas plantações como um grande problema da alimentação saudável que vem, inclusive, impactando na diminuição dos animais silvestres da sua região.

Do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Leomárcio Araújo, diferenciou comida de alimento. Disse que comida não tem por trás a preocupação da segurança alimentar, nem com a forma em que foi produzida, podendo gerar um alto custo social a partir de relações de exploração da mão de obra, entre outros. Ele alertou que, nas regiões Sul e Sudeste, “a relação dos agricultores familiares com o agronegócio já está bem extrema. No Semiárido, a realidade não é essa, mas a aproximação acontece de forma intensa”.

Segundo Leomárcio, é preciso passar de uma postura de resistência para a superação dos desafios colocados para a agricultura familiar camponesa. Ele apresentou números do Plano Safra 2013/2014 com relação ao crédito voltado para a agricultura familiar, o Pronaf. “Quase 32% do volume financiado foi para a produção de soja que é quase toda transgênica. E 24,7% do valor total foi investido no milho, sendo que 80% dos cultivos financiados foram transgênicos. Apenas 3,7% foram destinados para culturas não transgênicas. Isso reforça a lógica do monocultivo e da concentração de renda.”

Na sua fala, o representante da ASA, Naidison Baptista, jogou luz nas ações da Articulação que têm como intenção construir a segurança e a soberania alimentar para a população do Semiárido. “A segurança alimentar não é suficiente. Queremos a possibilidade real e concreta de cada comunidade e povos decidirem o que querem produzir e comer.” E se pôs a elencar alguns elementos que, juntos, possibilitam a concretização deste objetivo: acesso a terra, a estocagem de água para consumo e produção de alimentos e a assistência técnica agroecológica.

Também participou da mesa de abertura do encontro, Ronaldo Ramos, da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag). O encontro, que vai até quarta-feira (9), tem o objetivo de planejar a ação das 49 organizações, que vão implementar 5.140 tecnologias de armazenamento de água para produção de alimentos e criação animal e realizar atividades de mobilização social e de construção coletiva do conhecimento, como capacitações, intercâmbios e encontros.
As ações serão financiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e devem ser realizadas nos próximos 9 meses.

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