Educação e semiárido: experimentações pedagógicas contextualizadas
O semiárido brasileiro possui um bioma chamado caatinga que é único no mundo. Nele é encontrado rico e diverso patrimônio biológico que necessita ser conhecido e cuidado. Para sua reprodução, a população da caatinga depende de sua fauna e flora.
Nesse sentido, há que interromper as agressivas interferências sobre o ambiente.
São as ações humanas que mais degradam o bioma, com desmatamento e queimada.
Visando à construção de meios de convivência com o semiárido, a educação, na sua expressão formal e não informal, é fundamental para compartilhar processos pedagógicos em relação sustentável com esse ambiente.
No Ceará já se pode falar de novas experiências que trabalham em contextos de exclusão e de desigualdade. Desigualdade que se refere a situações de não distribuição equitativa de conhecimentos, de renda, de poder político, de terra, de trabalho, dentre outros elementos centrais para a reprodução digna das pessoas em seus
territórios.
Trata-se de iniciativas exitosas em escolas públicas situadas nos sertões dos Inhamuns – Crateús que celebram dez anos de caminhada. Em parceria com o poder público, a Cáritas Diocesana, o Fórum Cearense pela Vida no Semiárido, a Rede de Educação para o Semiárido e as escolas da região têm introduzido em seus currículos projetos e intercâmbios que levam para a escola o debate educativo e crítico sobre a questão ambiental e as especificidades do bioma caatinga.
A concepção de educação é repensada e se orienta nos seguintes princípios: o processo é dialógico; o ambiente do semiárido tem centralidade na matriz curricular; o projeto tem caráter político e está associado a um projeto de sociedade, que relacione o local ao global; a escola está integrada à família e à comunidade; a educação é potencializadora de novas territorializações e identidades das populações do semiárido.
Há ainda em assentamentos de reforma agrária experimentações de caráter emancipatório nas Escolas Estaduais de Ensino Médio em Educação do Campo resultado da luta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
A pedagogia da Educação do Campo reafirma educação: no e do campo, para garantir o direito à educação no lugar onde vivem os camponeses; a ser pensada a partir desse lugar e com eles; que faça a crítica aos modelos de desenvolvimento excludente; que fortaleça o protagonismo dos sujeitos do campo; que tenha materialidade na produção e reprodução da vida para se compreenderem no contexto de sua realidade local inserida no global. Assim, pode-se pensar, dentre outras possibilidades, em lidar com a estiagem, um fenômeno natural e próprio do ecossistema semiárido.
Gema Galgani
S. L. Esmeraldogema@ufc.br
Professora da Universidade Federal do Ceará