Secretária executiva do MDA visita comunidades rurais no Seridó paraibano
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Um momento de troca de saberes marcado por depoimentos emocionados e cheios de esperanças. Foi assim o cenário da visita realizada pela secretária executiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Maria Fernanda Coelho, na quinta-feira passada (30), nas comunidades de Alto do Umbuzeiro e Santa Cruz, no município de São Vicente do Seridó, na Paraíba.
Os agricultores e agricultoras da região estão organizados através do Coletivo Regional das Organizações da Agricultura Familiar, que também faz parte da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e da Articulação do Semiárido Paraibano (ASA PB). O Coletivo realiza um trabalho em rede com famílias agricultoras em transição agroecológica, com assessoria da organização Patac.
No primeiro momento da visita, a secretária, membros da comitiva do MDA, dentre estes o diretor do departamento de Assistência Técnica de Extensão Rural (ATER), Marenilson Batista, representantes da ASA e a comunidade tiveram a oportunidade de conhecer a experiência da família de Juvita Julia Gonçalves e Raimundo José Gonçalves, na comunidade Alto do Umbuzeiro.
O casal apresentou uma riqueza de ações que mudaram o cenário da pequena propriedade de sete hectares. Dona Juvita mostrou orgulhosa a produção do quintal, que conta com uma grande variedade de hortaliças, plantas medicinais e frutíferas, mantidas pela cisterna-calçadão e pelo sistema simplificado de reaproveitamento da água dos diversos usos da casa. Além do trabalho da produção de alimentos sem uso de agrotóxicos, a família participa do processo de organização da associação comunitária e do projeto do fundo rotativo de tela e criação de galinhas.
Eles também estão engajados na conservação e multiplicação das Sementes da Paixão, sementes nativas e adaptadas ao Semiárido, que são conversadas e multiplicadas por gerações. A família também participa do banco de sementes da comunidade. Dentre as políticas do governo federal, a família também é assegurada pelo Garantia Safra. Também foi apoiada pelos programas da ASA, o programa Um Milhão de Cisternas, em 2005, e o porgrama Uma Terra e Duas Águas, em 2011.
Logo em seguida, todos se dirigiram para a Associação da Comunidade Santa Cruz onde funciona um dos bancos de sementes comunitário mais antigo da região. Lá, os visitantes se encontram com cerca de 30 agricultores e agricultoras. Segundo as famílias agricultoras, foi em 1984 que se iniciou o processo de organização para a multiplicação e conservação das Sementes da Paixão. A iniciativa teve o incentivo da Igreja Católica, que mobilizou também outras comunidades que hoje fazem parte do Coletivo.
Na sede da associação, os visitantes se encontraram com cerca de 30 agricultoras e agricultores que fizeram relatos emocionados de experiências de convivência com Semiárido. A agricultora Daniele Vieira Gonçalves falou da falta de compromisso da grande mídia em divulgar as estratégias de convivência com o Semiárido como forma de invizibilizar as coisas boas que acontecem nesse momento no Nordeste, mesmo diante do cenário de estiagem. “Se as grandes mídias fizessem programas educativos mostrando as ações da agricultura familiar, o país teria a compreensão e passaria a valorizar as populações do campo.”
Já para Francilene Gonçalves de Sousa um novo cenário se desenha no campo nos últimos 20 anos. “Antigamente o acesso das pessoas da zona rural aos serviços da cidade era muito difícil. Hoje, avalio que muita coisa mudou, agora nós temos internet, celular e principalmente acesso às universidades. Hoje eu posso fazer pela minha filha o que meus pais não puderam fazer por mim. Outra coisa é que a maioria dos jovens não precisa mais sair do campo e essa permanência é a garantia de ver essas ações de convivência continuar.”
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A secretária do MDA, Maria Fernanda Coelho, disse estar muito feliz em participar desta visita e citou o Papa Francisco e a encíclica que fala da questão ambiental. “Duas coisas são importantes aqui. Primeiro, a organização da comunidade, fiquei surpresa com o Fundo Rotativo Solidário, experiência que devo levar para Brasília. Segundo, o espaço da associação e a discussão sobre o alimento que se quer comer. Também fiquei impressionada com o processo de formação da juventude para assumir essas ações futuramente.” Falou também que o MDA tem um compromisso com a reforma agrária. “Um dos nossos maiores objetivos é assentar famílias. Nós temos 120 mil famílias para serem assentadas. É um grande desafio e a gente espera que essas famílias possam ter assessoria, possam trabalhar na produção de alimentos.”
“Saímos daqui com uma responsabilidade muito grande de permanecer nessa luta e de continuar nesse compromisso, principalmente de assistência técnica em parceria com as universidades, entidades de assessoria, como o Patac, e com Instituto Nacional do Semiárido (INSA)”.
Por fim, enalteceu o trabalho das mulheres e falou do importante momento político que será a Marcha das Margaridas, que acontece em 11 e 12 de agosto em Brasília. “Será um grande momento para todas nós darmos de crédito para o que governo melhore suas ações nesse aspecto”.
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Para a coordenadora da ASA PB e membro da Coordenação Executiva da Asa Brasil, Glória Araújo, a parceria da Articulação com o governo federal se intensificou desde 2004 e só com o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) já foram implementadas mais de 1.300 cisternas de água de água para produção de alimentos no território.
Glória ressaltou também que a estiagem no território se estende por mais de três anos e reforçou que essas parcerias têm ajudado para melhorar a vida das famílias no aspecto da alimentação. “É inacreditável que mesmo com esse longo período de estiagem tenha surgido no território quatro feiras agroecológicas, mas ainda enfrentamos grandes desafios, como o de acesso ao mercado. Temos seis grupos de beneficiamento compostos de mulheres e jovens, que trabalham com frutas nativas e adaptadas e vendiam para o Programa de aquisição de Alimentos (PAA), mas que a partir das exigências atuais, as famílias não estão conseguindo vender.”
Glória disse que considera muito importante a integração de políticas para o fortalecimento do processo de desenvolvimento sustentável e da perspectiva da agroecologia no território e citou o Projeto Sementes do Semiárido como exemplo de uma parceria que foi construída pela iniciativa das famílias, junto com a ASA, o MDA e o MDS.
“Trata-se de um projeto inovador, que tem início neste ano de 2015, porém ainda vamos alcançar poucos bancos. Dos 640 bancos no Semiárido, 104 estão na Paraíba. No território que o Coletivo atua temos 45 destes, 22 vão receber equipamentos (tambor e teste transgenia) e apenas 14 vão ser reformados. Têm bancos comunitários que funcionam na casa das famílias e precisam sair desses espaços para ter uma conotação de comunitários. Esperamos que na parceria com o governo brasileiro possamos ampliar e continuar o trabalho com as sementes.”
Glória afirmou que para os agricultores e suas organizações é fundamental a contratação de entidades de assessoria que ganharam a chamada pública do ATER agroecologia, como o Patac, no sentido de fortalecer a agricultura familiar de base agroecológica.