ASA Sergipe realiza semiário para debater produção saudável e educação contextualizada
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‘Matar a fome qualquer uma mata, precisamos saber é se alimenta ou se vai matar a gente em longo prazo’.
Dona Netinha.
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O encontro aconteceu em Aracaju | Foto: arquivo ASA-SE |
Com o tema Semiárido: Semeando Liberdade de Produção e Contextualizando a Educação a Articulação Semiárido Sergipe (ASA-SE) realizou, nos dia 13 e 14 de Maio, o encontro estadual que marcou oficialmente o lançamento do Programa Manejo da Agrobiodiversidade – Sementes do Semiárido e reapresentação do Programa Cisternas nas Escolas.
O evento ocorreu no Hotel Orion, Atalaia – Aracaju e contou com a participação de agricultores e agricultoras dos municípios inseridos diretamente nos programas acima citados.
O encontro foi realizado para um público de 60 pessoas, contou com a participação de instituições de pesquisas como: a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Federal de Sergipe (IFSE), campus de São Cristovão, que também estão realizando projetos direcionados ao tema de sementes crioulas no Estado.
Logo no inicio Valdecir Xavier, coordenador da Organização Não Governamental (Ong) Associação Mão no Arado de Sergipe (Amase), fez um resgate dos passos trilhados pela ASA, até os dias atuais. Em sua fala ele destacou a importância das experiências e tecnologias praticadas e desenvolvidas pelos agricultores e agricultoras do Semiárido. Numa espécie de linha tempo ele trouxe a inovação do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), como elemento marcante na mudança de conceito, rompendo com o combate a seca e avançado para a construção e ou fortalecimento da ideia de convivência com o semiárido. Lembrou ainda o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) como uma estratégia no debate da concentração de terra e hoje os Programas: Cisternas nas Escolas e Sementes do Semiárido, revelam uma ASA mais madura e com todo o potencial de fortalecer ainda mais o Semiárido brasileiro.
O primeiro dia do evento foi todo dedicado ao tema sementes e contou com duas mesas de debates. A de abertura teve como tema principal a história das sementes tradicionais em Sergipe e foi composta, em sua maioria, por agricultores e agricultoras guardiãs de sementes no estado de Sergipe.
Seu Carlos Soares de Menezes, 56 anos, agricultor de Monte Alegre de Sergipe, discorreu sobre os aspectos políticos que envolvem o tema sementes. Em sua fala destacou a escravidão imposta às famílias do Semiárido, pelas grandes empresas produtoras de sementes. E lembrou quem tem semente tem liberdade, mas que a TV e os governos têm, ao longo dos anos, criando uma farsa que leva os agricultores e agricultoras a uma total dependência. Lembrou ainda que semente não é apenas a vegetal, mas os animais, como: as galinhas, as cabras e o próprio boi, que hoje em nada correspondem às realidades locais.
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O Programa Sementes do Semiárido também foi lançado na ocasião | Foto: Arquivo ASA-SE |
Sobre a importância das mulheres nesse processo, Dona Netinha, representante da Associação de Mulheres Resgatando a sua História, Porto da Folha, SE, trouxe a história do grupo, fundado a mais de 10 anos e que desde o princípio teve como forte a produção de sementes. No inicio a produção principal estava voltada a produção de sementes para produção de suplementos para programas de segurança alimentar e nutricional da Pastoral da Criança. Para ela, semente boa é a semente crioula que não precisa de veneno e pode alimentar. ‘Matar a fome qualquer uma mata, precisamos saber é se alimenta ou se vai matar a gente em longo prazo’. Disse ela no encerramento de sua fala.
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Dona Josefa, agricultora quilombola contou um pouco de sua experiência com sementes | Foto: arquivo ASA-SE |
Dona Josefa, guardiã de sementes da comunidade quilombola Sitio Alto, localizada em Simão Dias, SE, deu uma aula de história e emocionou a todos os presentes. Trouxe em sua fala, recortes de uma luta que transpassa os séculos: fome, miséria e preconceitos foram os temas mais recorrentes em sua fala. Contudo ela destacou o processo de organização comunitária como elemento fundamental no enfretamento dessa realidade, assim bem como o processo de guardarem suas sementes. Para ela, mesmo em face de todo o processo de escravidão, exploração e desrespeito sofrido pela comunidade, hoje contam com escola, casas reformadas, casa de semente, posto de saúde entre outras conquistas. Tudo fruto dessa luta e resistência típica do povo negro.
Marcio Lima, coordenador do Projeto de sementes realizado pela Sociedade de Apoio Socioambientalista e Cultural (Sasac), fala que tem buscado integrar as ações que vem acontecendo no estado, a fim de que se possa de fato fortalecer a ação e quem sabe demandar uma política pública estadual de sementes. Para tanto tem estreitado o dialogo com a Professora pesquisadora do Instituto federal de Sergipe, Campus São Cristóvão, Eliana Dalmora que vem realizando um Projeto de pesquisa sobre levantamento e avaliação participativa de variedades crioulas e de adubos verdes em territórios rurais de Sergipe, o referido projeto vem sendo realizado em parceria com a Embrapa Tabuleiros Costeiros.
A referida professora esteve presente durante todo o evento onde apresentou resultados da pesquisa já realizada na região Baixo São Francisco, e o andamento dos trabalhos iniciados no Alto Sertão.
Na oportunidade houve ainda a participação da Mestre em Ciências Agrárias (Agroecologia), pela Universidade Federal da Paraíba, Lanna Cecília Lima de Oliveira, que vem atuando como estagiária do projeto. Lanna destacou pesquisa semelhante já realizada na Paraíba, com as sementes da Paixão. A pesquisa lá realizada também pela Embrapa partiu de duas questões: a semente da paixão é mesmo inferior à semente melhorada que é distribuída pelo governo? E as técnicas dos agricultores são eficientes?
Como resultado a pesquisa constatou que há superioridade das sementes crioulas nas condições de solo, clima e manejo da agricultura familiar do semiárido paraibano.
A segunda parte do encontro trouxe para o centro do debate o tema Educação contextualizada para a convivência com o Semiárido. Onde os participantes puderam refletir sobre alguns aspectos desse contexto que precisam ser melhor compreendidos pelas sistemas educacionais, tais como: concentração de terras e águas, políticas governamentais pontuais e compensatórias, destruição da biodiversidade, exploração agrícola e expansão da pecuária falta de infraestrutura social cultura política baseada na submissão, no comodismo, no paternalismo e no clientelismo, narrativa educacional urbanocêntrica e Imaginário da carência-atraso. O tema foi debatido pelo educador popular, Aderico, membro do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), Sergipe.
Também foi reapresentado o programa Cisternas nas Escolas, que será realizado em Sergipe pela Amase e que tem como objetivo central proporcionar acesso a água de qualidade para consumo das comunidades escolares, nos nove estados da região semiárida, através da implementação da tecnologia social Cisternas de placas de 52.000L, juntamente com formações e debates sobre o contexto escolar e educação contextualizada.
Outro ponto debatido no encontro foi à campanha contra os Agrotóxicos e análise sobre o avanço da transgenia no País, realizada por Jorge Rabanal, engenheiro agrônomo e também militante do MST.