Os novos e velhos desafios do campesinato em 2015
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O ano de 2015 se iniciou com um simbolismo diferenciado no que diz respeito ao rito de passagem de ano. Herdamos do ano que passou não apenas o fluxo natural do tempo, mas também a somatória de um processo democrático que significou muito mais do que somente a escolha de um novo governo. Em 2014 a população se decidiu, acima de tudo, por um modelo de país que, com seus acertos e erros, se posiciona a abrir o diálogo com todas as classes sociais.
Nesse contexto, é necessário reafirmar as demandas das famílias campesinas, que são historicamente ignoradas na construção social do país, e também perceber as transformações que são próprias das dinâmicas sociais. Assim, estar atento ao que acontece nos meandros políticos e legais se torna imperativo para que a luta pelos direitos dos povos que vivem no meio rural não saia prejudicada.
Mas de quais direitos estamos falando? Em uma sociedade complexa como a brasileira, com tantos interesses conflitantes disputando espaço, quase sempre de forma desleal graças ao poder econômico, a clareza de ideias é preponderante no debate. Portanto, cabe atualizar a lista de desafios historicamente ligados ao campesinato, a começar pela reforma agrária, o grande gargalo enfrentado e insistentemente ignorado pela nossa sociedade.
A promoção da agroecologia como modelo de agricultura mais harmônico com as pessoas e o meio ambiente também está no topo da agenda, assim como o combate ao uso extensivo de agrotóxicos e insumos geneticamente modificados. O campo também clama por uma educação rural que seja contextualizada, sem a imposição de currículos e conteúdos que pouco diz da realidade das comunidades.
A ampliação e melhoria na prestação dos serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER); a continuidade e ampliação das políticas públicas de acesso à água nas regiões Semiáridas; a valorização e defesa do patrimônio da biodiversidade representado pelas sementes crioulas e milhares de espécies de plantas; o fomento as iniciativas econômicas solidárias; o combate ao machismo e a valorização da mulher camponesa; a defesa da soberania de povos e comunidades tradicionais; a luta pela preservação e recuperação das bacias hidrográficas e a conservação ambiental de forma geral; todas essas questões são muito importantes para a superação de males históricos e a transformação social para melhor no meio rural.
Tantas demandas e anseios se acumulam em um contexto que une algumas conquistas importantes obtidas nos últimos anos com problemas crônicos, como a do acesso a terra, que aparentam não ter solução, ao menos a curto e médio prazo. Nessa nova etapa iniciada em 2015, as disputas sociais protagonizadas pelos diferentes setores da sociedade se intensificam na medida em que os ânimos se exaltam em torno da crise política instalada no Congresso. Neste cenário, é preciso discernimento para pautar as demandas e ao mesmo tempo defender a democracia, combatendo os clamores golpistas que se personificam em gritos de ‘impeachment’.
De que precisamos para avançar rumo a um campo menos desigual? Uma reforma política que se dê por meio de uma constituinte popular, única, se faz urgente para que as regras do sistema político se tornem mais justas e representativas para todos os setores sociais, dando espaço e voz às minorias. Também precisamos democratizar a comunicação, entendendo que a mídia precisa de regulação econômica e de conteúdo, atendendo o que dispõe a Constituição sobre o tema. Somente assim se poderá elevar a qualidade da comunicação no país, que historicamente vem prestando desserviço à sociedade, pois atende a interesses econômicos e políticos que caminham sempre atrelados, deseducando e despolitizando a população no processo.
A reforma política e a democratização da comunicação são pautas chaves para que todas as demais pautas sociais encontrem um ambiente mais propício para avançarem. Para os movimentos sociais campesinos, a concentração fundiária deve significar o mesmo que a concentração de poder político e a concentração da mídia, pois todas elas são interligadas em um só cenário de exploração e desigualdade social.
Para superar as desigualdades históricas e avançar na conquista de direitos, o caminho de todos os movimentos sociais organizados deve ser o mesmo, dialogando e debatendo junto à sociedade, nos espaços e instituições públicas por um objetivo comum. O que possibilitará a todas as diferentes demandas, a possibilidade de caminhar.