Agroecologia será impulsionada nos quintais produtivos
Projetos oferecerão assistência técnica a quintais produtivos em Pernambuco (Foto: Arquivo ONG Chapada) |
Há cinco meses está em curso uma nova iniciativa que promete potencializar o desenvolvimento da agroecologia junto aos agricultores familiares no Semiárido pernambucano. Dois projetos já em andamento estão sendo executados em parceria entre as ONGs Chapada e Caatinga. Cada Quintal Uma Escola, executado pela ONG Caatinga e Quintais que Mudam o Sertão, executado pela ONG Chapada, fazem parte da Chamada Pública de Assistência Técnica Rural voltada para a Agroecologia, lançada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário após reivindicação da sociedade civil organizada junto a Articulação no Semiárido.
As ações serão realizadas nas regiões do Sertão do Araripe, Sertão do São Francisco, contemplando dez cidades no Sertão do Araripe (Cada Quintal Uma Escola) e nove municípios do Sertão do São Francisco (Quintais Que Mudam o Sertão) beneficiando um total de 1.250 famílias agricultoras. O foco do projeto será a assistência técnica rural de forma continuada. Cada técnico fará acompanhamento direto às famílias por um período de três anos.
“Hoje vemos a assessoria técnica como peça fundamental para o desenvolvimento da agricultura familiar e da zona rural. Esse conhecimento que é construído com a participação da assessoria e dos agricultores, não é uma ação assistencialista” explica o coordenador de projetos da ONG Chapada, Alexandre Pereira. Ele afirma que a proposta será desenvolver uma assistência diferenciada, unindo conhecimento técnico e o conhecimento tradicional das famílias às práticas e vivências existentes no campo.
Entre os critérios estão famílias que residam e trabalhem na zona rural, que estejam inseridas no processo de transição agroecológica e possuam uma tecnologia de armazenamento de água para a produção de alimentos. Na região do Araripe estão sendo contempladas 800 famílias e no Sertão do São Francisco, outras 450. A atuação na região do São Francisco trará desafios como promover a conscientização agroecológica em uma área onde é comum a utilização de agrotóxicos nos projetos de irrigação.
Na Região do Araripe ,as ações foram iniciadas em outubro de 2014 e estão em andamento. Está em fase final o processo de mobilização e seleção das famílias agricultoras beneficiadas por ambos projetos. Até então foram realizadas apresentações aos parceiros nos municípios, reuniões com as famílias pré–selecionadas, atividades coletivas com as famílias selecionadas e a caracterização das unidades produtivas familiares, etapa ainda em andamento.
Neste momento, o técnico irá fazer uma espécie de retrato da vida do agricultor, conhecendo a propriedade como um todo, construindo o mapeamento da propriedade, das atividades desenvolvidas e das oportunidades que possam acontecer em cada espaço. Esta caracterização será atualizada anualmente para que se avalie os impactos e as evoluções das famílias com apoio da assessoria técnica. Na Região do São Francisco, as atividades estão iniciando com a apresentação da proposta aos parceiros nos municípios de atuação do projeto.
Os projetos surgiram diante da necessidade de promover a agroecologia junto às famílias agricultoras numa situação onde ainda ocorre a perda de sementes crioulas, a degradação do solo, do ar e da água e a utilização de agrotóxicos. “A ideia será impulsionar a agroecologia que está além do sistema produtivo. Vemos a agroecologia como estilo de vida. Nela trabalhamos o sistema produtivo, a gestão da água, as questões de gênero, geração, trabalhos comunitários entre outros”, afirma Alexandre Pereira, coordenador de projetos da ONG Chapada.
“Dessa forma, será possível permitir que o agricultor trabalhe com todos os que integram a unidade produtiva familiar, homem, mulher e filhos, desenvolvendo o trabalho de forma sustentável, minimizando o uso de insumos externos e estimulando o aproveitamento dos recursos que ele possui dentro da própria propriedade, viabilizando a agrobiodiversidade, fazendo o manejo correto da água e a recuperação do solo. Um quintal é considerado produtivo quando há nele produção durante o ano inteiro, com diversidade e boa gestão da água e dos demais recursos disponíveis na propriedade”, continua Alexandre.
Direcionar as ações aos quintais produtivos será uma forma de potencializar o espaço que o agricultor tem em volta de casa, destinado ao plantio de árvores frutíferas, de plantas medicinais, hortaliças e à criação de pequenos animais. Neste local serão produzidos alimentos saudáveis e diversificados para a família agricultora e o excedente será destinado para comercialização nas próprias comunidades, feiras agroecológicas e para os programas governamentais de compra de produtos da agricultura familiar, como o Programa Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
“Cada Quintal Uma Escola” e “Quintais que Mudam o Sertão” referem-se às experiências vivenciadas nestes espaços, repassadas e transmitidas entre famílias agricultoras de outras regiões, estados, municípios, técnicos agrícolas, entre vizinhos e familiares. Os projetos se propõem a tornar estas famílias referência em agroecologia, como experiências exitosas. Serão famílias capazes de produzir e acessar canais de comercialização, melhorar sua própria alimentação e organizar, de forma coletiva, o sistema de produção, a comercialização e o trabalho dentro da comunidade.Terão a oportunidade de conhecer as políticas públicas e saber da importância delas.