Escola Rural de Massaroca (ERUM)
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A Escola Rural de Massaroca (ERUM) nasceu através de mutirão comunitário, com apoio financeiro de franceses. Possui hoje 268 alunos de ensinos básico e fundamental e uma turma de alunos de Educação de Jovens e Adultos – EJA. Sua gestão é feita de forma coletiva através do Comitê de Associações Agropecuárias de Massaroca – CAAM.
O debate do acesso á água parece estar na centralidade da comunidade. Antes da chegada das cisternas familiares a cisterna de 23 mil litros adquirida pela escola fornecia água para o entorno. Hoje quase todas as casas tem cisternas, que já estão introjetadas no cotidiano comunitário e escolar, pois todos os anos educandos do sexto ano realizam levantamento sobre as “aguadas” (mananciais e tecnologias sociais de captação de água). A escola é um referencial da compreensão da importância da captação de água; cuidados com o telhado; com as cisternas e uso da cisterna. No período de estiagem o carro pipa abastece a cisterna da escola uma vez por semana.
A contextualização da educação também é central para a escola e a comunidade. Desde 1995, a ERUM vem mostrando como é possível incluir disciplinas especificamente contextualizadas no currículo escolar. Eles já incluíram blocos temáticos, que são ministrados em séries do ensino fundamental, aprofundando a educação recebida desde o ensino básico tais como Espaço (onde os educandos do 6º ano discutem História/Geografia; observação da comunidade escuta dos mais velhos e mapa ambiental); Necessidade de Vida (educandos do 7º ano trabalham Matemática/Ciências; Moradia e Saúde); Processo Produtivo (no 8º ano as crianças Empreendedorismo; Produção e criatório) e Organização social ( a 8ª série, atual nono ano discute a construção política e social da História). O Convívio Social é a culminância para todos os alunos e professores dentro desta construção.
Outra importante construção metodológica é o Itinerário Pedagógico. Este instrumento é composto três passos. O primeiro é a Ida à realidade (IR) – turmas multiseriadas realizam visita/pesquisa em uma comunidade do entorno; estudo da comunidade através de blocos temáticos a partir de questionário orientador-. O segundo passo Tratamento Científico (TC) – na escola acontece momento de adaptação dos conteúdos curriculares, onde é feito o projeto de desenvolvimento local sustentável. Por último acontece a Volta à realidade (VR), onde os e as educandos e educandas voltam à comunidade e apresentam a pesquisa através de cartazes. A 8ª série e o 9º ano fazem um apanhado geral e apresentam as possibilidades através do Projeto.
Este trabalho político pedagógico da ERUM é bastante conhecido e admirado pelo município e outras organizações, que fazem muitas visitas a ela como exemplo. Porém em muitos momentos a escola se vê como uma vitrine, onde se observa, mas não se compartilha do conteúdo.
O debate político de apropriação da construção da educação contextualizada, não como projeto paralelo ao executado pelas secretarias de educação, mas como pauta central de transformação do fazer educacional é necessário e urgente, num cenário em que cada vez mais se veem escolas rurais sendo fechadas, tendo como justificativa a falta de alunos, quando a própria educação oferecida serve para a valorização de uma outra forma de vivência em detrimento da convivência, em todos os aspectos, com seu local de origem, neste caso, o semiárido.
Questões muito importantes para a construção da educação contextualizada do campo tais como a formação para igualdade de gênero, no sentido da construção simbólica das palavras, mas também no desenvolvimento da participação e protagonismos dos gêneros no processo pedagógico dentro e fora da escola. Além disso, se insere como tarefa especial para a ASA a formação para o gerenciamento da água armazenada na cisterna e sua utilização de forma responsável, bem como da valorização da alimentação produzida enquanto renda, segurança e soberania alimentar.