Fórum Regional Norte de Minas: Articulando Propostas para o Desenvolvimento Sustentável que queremos

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Fórum reúne-se desde a década de 90 e é um espaço da sociedade civil. | Foto: Fabiano César

Ocorreu em Montes Claros, Minas Gerais, entre os dias 14 e 15 de agosto, o Fórum de Desenvolvimento Sustentável do Norte de Minas. O encontro acontece desde a década de 1990 e é um espaço em que a sociedade civil, organizações sociais, comunidades de base e várias organizações ligadas a Articulação Semiárido Mineiro – ASA Minas, se reúnem para debater estratégias de enfrentamento aos grandes projetos econômicos que vêm destruindo formas e modos de vida das populações tradicionais do Norte de Minas.

Diversas pautas já foram abordadas durante esses anos do fórum e uma delas tratava das consequências negativas que os projetos de desvio do Rio São Francisco poderiam ocasionar, hoje é de conhecimento da sociedade o estágio avançado de degradação em que o rio se encontra, portanto se faz necessário fortalecer as pautas do fórum como um enfrentamento político por parte da sociedade.

Na atual conjuntura de intensa implantação e manutenção de grandes projetos – a monocultura do eucalipto que vem destruindo o cerrado, a implantação de projetos de mineração que ocasionam um grande impacto social e ambiental, envenenando rios, afluentes, nascentes, o uso desproporcional da água e degradação o solo, a implantação de barragens que não atendem aos pequenos agricultores – o Fórum do Norte vem se apresentando como um espaço alternativo para se pensar em desenvolvimento com consciência ambiental, social e acima de tudo, responsabilidade com o futuro.

A efetividade das ações para reverter o quadro é pouco perceptível à sociedade civil, mas são de fundamental importância e já tem surtido efeitos.  Por isso encontros microrregionais como o Fórum do Norte são tão relevantes. Ao buscar qualificar e estabelecer propostas de atuação conjunta de enfrentamento a esses projetos e também buscando o fortalecimento da convivência com o Semiárido, criam propostas e caminhos para o desenvolvimento sustentável que os povos e populações tradicionais buscam, e não o que é implantado de fora como modelo de desenvolvimento.

Na abertura do encontro Carlos Dayrell, técnico pesquisador do Centro de Agricultura Alternativa do norte de Minas- (CAA/NM), relembrou os pontos tratados no último fórum, e os avanços possíveis a partir dele, como por exemplo, apoio às lutas pela Reforma Agrária nos assentamentos Americana e Tapera, a conscientização das organizações em relação ao projeto Jaíba, o fortalecimento da educação do campo, ações contra mineração, transgênicos, e a valorização das Romarias da Terra e das Águas.

Dayrell propôs como reflexão ao fórum, debater como os programas da ASA, o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) e o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), e a ação de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) podem contribuir para fortalecer a capacidade de resistência dos enfrentamentos das comunidades tradicionais? Em que sentido esses programas/projetos contribuem para a luta? Vários foram os apontamentos, entre eles; na mobilização social, na oportunidade de discutir a pauta dos fóruns nas capacitações realizadas por esses programas, na possibilidade de formação política. Nesse sentido, Elton Mendes Barbosa, diretor do sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porteirinha reforçou que os programas da ASA não são, unicamente, para fazer cisternas de captação de água, mas também para formação cidadã. 

Uma das maiores preocupações do Fórum foi a rápida ascensão da mineração em nossa região, segundo Elisângela Ribeiro de Aquino, “é um grande sofrimento vivenciar os problemas que a mineração traz”. Na ocasião, Elisângela lembrou que as mineradoras usam práticas intimidadoras e falsas promessas para comprar as terras dos agricultores,

“Prometeram faculdade para um filho, mas do que adianta faculdade se não tem vida, se não tem água para beber”, essa foi a resposta que Elisângela deu as pessoas que invadiram sua casa tentando convencê-la de que o futuro destruidor que a mineração traz é inevitável. A força da mulher norte mineira criou várias interrogações na mente desses invasores, e a certeza de que a implantação não vai ocorrer sem lutas.

O Fórum do Norte foi um momento de fortalecimento das lutas sociais, momento de criar novas estratégias de enfrentamento, identificar novos desafios e de aumentar a esperança de um futuro onde sustentabilidade e solidariedades sejam sentimentos prioritários na convivência humana.

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