Intercâmbios disseminam saberes e sementes de canto a canto do Semiárido

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Doadas por Silvinha, Renilda (esq.) vai levar as sementes da paixão para Sergipe | Foto: Verônica Pragana

Assim como o vento, os pássaros e os insetos, propagadores naturais de sementes e pólens, cada intercâmbio entre agricultores e agricultoras é, em potencial, uma possibilidade de disseminar materiais genéticos de canto a canto do Semiárido, que ocupa pouco mais de 11% do território brasileiro. Em cada visita realizada nas propriedades das famílias agricultoras, não só sementes são levadas nas malas de volta para casa, como também grandes doses de um saber que não se quantifica, mas que amplia as condições das famílias conviverem com o Semiárido.

A quarta-feira passada (24) foi mais um dia de intensas trocas entre mulheres do Maranhão a Minas Gerais. Cinco intercâmbios foram realizados no segundo e último dia do I Encontro Nacional de Agricultoras Experimentadoras, realizado na Paraíba. Cerca de 110 mulheres se dividiram para conhecer experiências da agricultura familiar situadas nos territórios do Seridó, Cariri e Borborema. Em comum, as propriedades têm uma produção diversificada, sem uso de agrotóxicos e que geram excedente para a venda a mercados locais e governamentais, como a compra de alimentos para a merenda das escolas municipais, através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). E as anfitriãs são mulheres fortes, ativas e cheias de iniciativas, lideranças na sua comunidade e até no município.

Dona Fatinha e Seu Zé, da comunidade Cantagalo, no município de Massaranduba, no agreste paraibano, foi uma das famílias anfitriãs. No quintal de dona Fatinha, em se plantando, tudo dá. Com uma área total de cerca de um hectare, a diversificação da produção é de fazer gosto: tem hortaliças, plantas medicinais, nativas, frutíferas, além do roçado de milho e feijão e da criação de galinhas. Grande parte da alimentação da família vem do quintal. A família também comercializa na feira agroecológica do município e para o PNAE. Além de produtora de alimentos, dona Fatinha faz parte da diretoria do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Massaranduba. “Hoje, como agricultora, eu me sinto importante e tenho orgulho de tirar o sustento da minha família do quintal. Às vezes, a gente escuta que não dá pra viver da agricultura, eu digo o contrário: dá pra viver e viver bem!”, assegura.

Na propriedade de dona Fatinha em se plantando tudo dá | Foto: Rosa Nascimento

Ainda no agreste paraibano, no município de Queimadas, a agricultora experimentadora, guardiã de sementes e sindicalista Severina da Silva Pereira, conhecida como Silvinha, acolheu um grupo de 15 mulheres interessadas em conhecer a experiência do banco de sementes comunitário de Maracajá gerenciado por Silvinha. No quintal dela e da sua mãe, há também uma grande variedade de plantas ornamentais, com destaque para o girassol, medicinais, fruteiras, hortaliças, entre outros. Com fonte de proteína, Silvinha cria galinhas caipiras, entre outros animais.

Na região do Seridó paraibano, no município de Cubati, a agricultora Solange José de Medeiros, da comunidade Capoeiras, recebeu as visitantes para falar sobre sua experiência com o acesso a mercados. Solange é presidente da associação da comunidade, facilitadora dos cursos de formação dos programas Uma Terra e Duas Águas (P1+2) e Um Milhão de Cisternas (P1MC), liderança religiosa e integrante da comissão de sementes do Coletivo Regional das Organizações da Agricultura Familiar. Como se não bastasse, a agricultora é uma das gestoras da Feira da Agricultura Familiar do Município de Cubati, que acontece toda última quarta-feira do mês, no centro da cidade.

Já no município de Juazeirinho, o que mais encantou a mulherada que participou do intercâmbio na casa de dona Maria José foi a reutilização da água e o biodigestor. Para a família, que atua com criação de pequenos animais, a decisão de voltar a cuidar de ovelhas, cabras e galinhas fortaleceu muito o orçamento familiar porque eles não precisam comprar ovos e carne fora e ainda sabem que o que consomem é saudável e a agricultora ainda produz manteiga e queijo e vende leite. 

Eles seguem fortemente o pensamento do químico Antoine Lavoisier: “Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Lá nada é desperdiçado, tudo é (re)aproveitado. Toda a água é reutilizada, da pia, lavanderia, e sobre o biodigestor, uma vez a agricultora recebeu uma vizinha que vendo a tecnologia perguntou, “você aproveita até a merda do animal?”. Sim, por que não? Foi graças as invenções do casal para reutilizar a água que a família conquistou, através do PATAC, um sistema simplificado de manejo da água e o biodigestor. E conquistará muito mais porque a força da dona Maria é infinita.

* Jornalistas da Asacom
** Assessora de Comunicação da AS-PTA
***Comunicadora Popular da ASA

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