Movimentos Sociais debatem riscos de instalação de mineradora em Ipaporanga

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Movimentos sociais discutindo impactos da mineração no município | Foto: Eraldo Paulino

Na última sexta-feira, 19, foi realizado no auditório da Cáritas Diocesana de Crateús (CDC) estudo sobre a conjuntura da mineração no Ceará e no Brasil. A ação foi proposta pelo núcleo de Crateús da Rede de Educação do Semiárido Brasileiro (RESAB) e a CDC, uma vez que nas escolas onde está sendo implementado o projeto Educação Contextualizada no Sertão do Ceará, com realização desta última entidade citada e patrocínio da Petrobras, muito vem se debatendo a respeito dos riscos concretos de implementação desse tipo de projeto nas serras do Mundo Novo e Boa Esperança, em Ipaporanga, mas que também afeta outros municípios onde a RESAB atua: Independência e Quiterianópolis.

Além de agentes Cáritas, participaram representantes do MST, Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), Federação Dos Trabalhadores/as da Agricultura do Estado do Ceará (FETRAECE), Território da Cidadania, do IFCE-Campus Crateús, do Ministério Público Estadual, das Igrejas Batista e Assembleia de Deus de Ipaporanga, Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais, poder público municipal de Ipaporanga, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Associação de Moradores do Mundo Novo e Paróquia Sagrado Coração de Jesus juntamente com membros da comissão formada por moradores/as de áreas que estão para ser atingidas pela extração de minério de ferro nas serras ipaporanguenses. Para analisar a conjuntura da mineração no Ceará, Tiago Valentim, do CEBI e da CPT facilitou a conversa.

“É comum as mineradoras investirem na divisão de opiniões, porque a divisão enfraquece. O grande inimigo do povo é a pouca informação, pois pessoas desinformadas se deixam cooptar mais fácil pelo dinheiro. Foi discutida a necessidade de perceber a ação das mineradoras como parte da estratégia de desenvolvimento para o Ceará e para o Brasil. Daí a dificuldade de enfrentar uma ação que é de interesse de governos das esferas federal, estadual e muitas vezes da municipal. “A melhor maneira de resistir é informar o povo e a massa se mobilizar, porque nem mesmo há limites no judiciário brasileiro nessas situações”, propôs o promotor José Arteiro. Há denúncias de que pessoas estão recebendo agrados e falsas promessas para ficarem a favor do suposto desenvolvimento que o empreendimento traria para Ipaporanga.

Necessidade de Integrar as Lutas
Tiago Valentim também é membro do Comitê Antinuclear do Ceará, e defende articulação em todos os níveis para enfrentar o problema. “Recomendo fazer intercâmbio entre as pessoas que hoje recebem falsas promessas de desenvolvimento em Ipaporanga pra conhecer as realidades de Quiterianópolis e Santa Quitéria, onde as pessoas já sofrem as consequências da instalação”, argumentou. Erbênia Sousa, coordenadora da CDC, chamou a atenção para as agressões em cadeia ao meio ambiente.

“Quem vai querer comprar verdura de um lugar onde a água estará contaminada? Que salário vai pagar a conta de câncer no pulmão e outras doenças respiratórias que serão causadas?”, provocou.
Mehssias Gomes, militante do MST, defendeu a integração entre os movimentos em apoio à luta dos moradores e a utilização das ferramentas de comunicação popular disponível para informar a população. “Eles agiram de uma forma que não causasse barulho. Por eles, a população de Ipaporanga só iria perceber quando já não tivesse mais jeito. Muita gente ainda não se envolve porque acha que não será prejudicado”, comentou Gehfferson Mendes, membro da comissão formada por todas as associações comunitárias de localidades na iminência de serem atingidas.

Segundo Gehfferson, a região onde o projeto pode ser executado é rica em fontes de água e com enorme potencial para cultivo e beneficiamento de árvores frutíferas, turismo ambiental e agricultura familiar em geral. Em relação a recursos hídricos, inclusive, é da Serra do Mundo Novo que é captada água para abastecer boa parte da cidade, uma vez que a região vivencia o quarto ano com invernos abaixo da média, tendo o açude São José, que abastece a cidade, praticamente esgotado. De todas as cidades do Sertão dos Inhamuns-Crateús, o local com água em maior quantidade e qualidade é onde a mineradora seria instalada, destruindo uma grande preciosidade para o Semiárido em troca da geração de riqueza para poucos, deixando futuramente herança de violência, doenças e destruição ecológica.

Todos os movimentos presentes se comprometeram a se somar na luta, buscar integração com outras frentes de resistência à mineração no estado do Ceará e propor outro modelo de desenvolvimento, que seja solidário, sustentável e verdadeiramente territorial.

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