Comunidade conquista Casa de Sementes em Sergipe
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Formação aconteceu na comunidade quilombola Sítio Alta | Foto: Daniela Bento |
Aconteceu nos dias 31 de Julho e 1º de Agosto uma capacitação para implantação e gestão de casa de sementes na Comunidade Sítio Alta, zona Rural do município de Simão Dias (SE). A atividade faz parte do plano de ação do P1+2, realizado pela ASA. A proposta formativa teve como base, Plano Nacional de Sementes Crioulas rumo a Soberania Genética.
A formação buscou lançar um olhar sobre a história das sementes, compreendendo estas como Patrimônio dos Povos a Serviço da Humanidade. Todas as plantas cultivadas e todos os animais domésticos criados, são frutos da evolução da natureza e do trabalho de diferentes povos pastores e agricultores. Nenhuma planta cultivada e nenhuma criação doméstica foram desenvolvidas pelos cientistas modernos que trabalham para as empresas.
Trabalhar a preservação e a multiplicação de sementes crioulas foi o tom de toda formação, para isso foi necessário realizar um levantamento. A comunidade mantém vivas 18 espécies de feijão e 05 variedades de milho crioulo. Por ser uma comunidade quilombola, o hábito de guardar sementes é ainda muito presente na comunidade, mas segundo relato dos participantes as sementes nativas vêm perdendo espaço para aquelas comerciais, com a entrada forte de milhos transgênicos
Esse reflexo é evidenciado na análise evolutiva da perda de sementes onde somente nos últimos seis anos foram perdidas 13 variedades de feijão. Os motivos para essa evolução vão desde a falta de mercados para comercializar determinadas variedades, como o uso de agrotóxico no entorno das áreas, já que as variedades de favas, por exemplo, não resistem ao contato com esses tipos de insumos.
Nesse sentido o trabalho formativo e o esforço coletivo para a implantação da Casa é vivenciada pela comunidade como uma estratégia de enfrentamento dessa realidade e ampliação e resgate de sementes tradicionais. A construção da estrutura física da casa é um esforço da comunidade e da Sasac e ASA, mão de obra e materiais de construção e equipamentos respectivamente.
Vale destacar que além do milho e feijão crioulo que a comunidade cultiva, é grande a variedade de outros tipos de sementes, como quiabo: sete semanas, de goma, da Bahia, vermelho – Ervas medicinais: cidreira, boldo, alfazema, erva doce, endro, alecrim, arruda, hortelã grande, manjericão, sabugueiro, jurubeba, crista de galo. Hortaliças: couve, cenoura, pimenta de carne, pimenta de cheiro, salsa, pimentão, coentro, alho, quioô, cebolinha.
A pedido da comunidade o trabalho formativo continuará acontecendo uma vez por mês, com encontros na própria comunidade sempre de meio período. O trabalho acontecera concomitante ao trabalho da construção que inicia-se hoje, até a data que da celebração da conquista da Casa de Sementes Coração dos Negros, que marcará também a celebração de 15 anos da ASA na comunidade.
Com esse trabalho contínuo é esperado o fortalecimento do debate sobre as sementes crioulas enquanto patrimônio dos povos rumo a soberania alimentar.