Entre contação de histórias e cantorias: o intercâmbio no Assentamento Croatá
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Igual que nem
Fole de acordeão
Tipo assim num baião
Do Gonzaga
(Chico Buarque)
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Compartilhamento de saberes e emoções | Foto: Mayara Albuquerque / Arquivo IAC |
O intercâmbio entre agricultores/as tem se apontado como uma das etapas mais importantes do Programa Uma Terra Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro. É na troca de saberes que o conhecimento vai se fazendo forte e mais próximo. Essa é a fala dos/as agricultores/as que participaram do intercâmbio realizado entre os dias 31 de julho e 01 de agosto no município de Choró, na comunidade Riacho do Meio.
Foram 34 redes vindas do município de Capistrano para serem armadas na casa grande do Assentamento Croatá e ansiosas para aprenderem sobre tecnologias para armazenamento da água da chuva e práticas de convivência com o Semiárido. “Eu sei que todo mundo deixou os seus afazeres em casa, mas vejam o nosso intercâmbio como férias. Uma boa oportunidade de conhecer um lugar novo, pessoas e aprender”, diz Raul Bankiza, técnico do Instituto Antônio Conselheiro.
A primeira experiência visitada foi a Sede da Associação Comunitária dos Agricultores(as) familiares do Riacho do Meio, onde os participantes tiveram a oportunidade de conhecer a Casa de Sementes que fica na sede da Associação. Em seguida, todos foram conhecer o quintal do Seu João Félix, agricultor agroecológico e um dos fundadores da Casa de Sementes. João Félix e sua esposa, Antônia, conquistaram um projeto de criação de abelhas Jandaíra e é no quintal do casal que as mulheres da comunidade se encontram para cuidar da manutenção das melgueiras. A experiência foi observada com muita curiosidade, alguns agricultores fizeram fotos, outros fizeram anotações e as perguntas não paravam.
Além do resgate das sementes nativas e crioulas fazerem parte do dia-a-dia dos moradores de Riacho do Meio, a organização da comunidade trouxe também outros frutos, como a certificação agroecológica para a produção do algodão 100% agroecológico.
A noite cultural foi muito animada e ficou por conta dos/as próprios/as agricultores/as. E a cantoria foi se espalhando pelo Assentamento, chamando os/as moradores para participarem da festança. Violeiros da região, cantadores e quem tivesse vontade de pegar o microfone, cantar e recordar. Teve até um forrozinho pé- de-serra, desse último, quem gostou foi o Seu Maninho da comunidade de Carqueja II: “Chame essas menina diga a elas que aqui tem um véi dançador, que eu não abro pra nenhuma”. E todos gargalham no alpendre da casa grande.
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Participantes do intercâmbio / Foto: Mayara Albuquerque / Arquivo IAC |
O dia seguinte começou bem cedo. Não é novidade que agricultor/a acorda com o galo, seja onde for. Depois do café partilhado, o destino foi o quintal de Dona Lúcia, moradora do Assentamento. Lúcia conta com muita alegria que depois da chegada da cisterna- enxurrada a vida melhorou um bocado. “Lá em casa são oito dentro de casa e todo mundo trabalha, até meu mais novo de 10 anos de idade me ajuda”.
De acordo com a agricultora, a renda conseguida com a venda das hortaliças ajuda muito nas despesas da casa. No seu quintal, os visitantes conheceram o cultivo de hortaliças, beterraba, cenoura, fruteiras diversas, criação de galinhas e ovelhas, além de observarem atentos o sistema que a Dona Lúcia e sua família criaram para aguar as hortas.
A volta foi muito animada, muitos confessando da satisfação em sair de suas rotinas e conhecer o cotidiano de pessoas que estando distantes estão tão próximas, unidas pela luta por uma vida digna no Semiárido.