Baixa Grande sedia Encontro Regional sobre Sementes Crioulas

![]() |
A atividade aconteceu na sede da Diocese de Ruy Barbosa | Foto: Allan Lustosa |
Entre os dias 29 a 31 de julho, foi realizado, na sede da Diocese de Ruy Barbosa em Baixa Grande (BA), o Encontro Regional sobre Sementes Crioulas. A atividade contou com a presença de agricultores e agricultoras das regiões baianas de Irecê, Caetité, Amargosa e Ruy Barbosa.
O evento foi organizado pela Cáritas Regional Nordeste 3 e contou com assessoria do agente Márcio Lima, da Cáritas do Regional Minas Gerais. “Vivemos um momento muito delicado. Hoje, com as mudanças climáticas, percebe-se desde a extinção de animais às consequências que as pessoas também têm sofrido por conta desse desequilíbrio ambiental”, disse Márcio.
O debate sobre sementes e a fome é uma das bandeiras de lutas sociais no país, principalmente no meio rural. Há uma percepção de que o problema da fome no Brasil não é a falta de comida, mas uma consequência da exploração capitalista, através dos bancos e das grandes empresas.
Durante a apresentação, Márcio Lima destacou que 500 empresas multinacionais controlam 60% do que se produz no mundo. De forma específica para a agricultura, 50 empresas controlam 80% dos alimentos no mundo. Dessas 50 empresas do setor agrícola, cinco tem o controle sobre o mercado de sementes no mundo. No Brasil, 15% das terras que produzem alimentos estão nas mãos de agricultores.
“As sementes recebidas dos programas governamentais chegam descontextualizadas aos seus respectivos territórios, cabendo aos movimentos sociais dá indicações propositivas de parâmetros e de práticas que apontam para a agroecologia. O que se vê hoje aqui com essa iniciativa é uma ação propositiva”, afirma o agente da Cáritas da Diocese de Ruy Barbosa Alex Fábio.
No segundo dia do evento (30), os participantes fizeram o trabalho de identificar possíveis parceiros para desenvolver o trabalho com sementes crioulas, levando em consideração o contexto de cada região.
A motivação é que se pense em um mapeamento a partir de ações em que a Cáritas está envolvida. Até dezembro de 2014, a Cáritas Diocesana de Ruy Barbosa estima que terá o mapeamento feito junto aos agricultores e agricultoras, visando o fortalecimento de iniciativas em prol da casa de sementes nos municípios, a exemplo de Miguel Calmon e Utinga.
![]() |
Na noite do segundo dia do evento foi realizada uma celebração para troca de sementes | Foto: Allan Lustosa |
Outras ações serão de articular possíveis parceiros, citando as comissões municipais da ASA (Articulação Semiárido) e do sistema de cooperativas; fazer o levantamento de variedades de sementes e identificá-las; dialogar com agricultores e agricultoras que têm a prática de guardar sementes e “através das atividades dos P1+2 que são desenvolvidos em diversas regiões do estado, facilitar o processo de implantação de uma casa de semente” disse o agente Cáritas de Amargosa, Joaquim Rodrigues.
A noite do dia 30 de julho foi reservada para um momento de celebração e para troca de sementes, onde todos e todas puderam conhecer as diversas histórias sobre elas.
No último dia, foi feita uma visita à comunidade Cruz de Almas, município de Várzea da Roça, para conhecer iniciativas desenvolvidas pelo Instituto de Permacultura da Bahia e agricultores da região. Essas ações visam o desenvolvimento de tecnologias para a agricultura familiar e a educação ambiental por meio dos princípios da permacultura e da agroecologia. Os visitantes conheceram o viveiro de mudas, casa de sementes e a roça de seu Zeca, agricultor que adotou o sistema de reflorestamento em sua propriedade.
Essas e tantas outras práticas têm apresentado outra relação sobre o sertão, bem diferente da pela ideia de pobreza. Em um dia chuvoso e frio no Semiárido, mais uma experiência exitosa de troca de saberes e sabores revelou um novo olhar e práticas que combatem o mito do sertão miserável.