Meio Ambiente – Uma Floresta chamada Caatinga
O dia 12 de julho é dedicado ao santo protetor das florestas, São Gualberto, e no próximo dia 17 (quinta) celebramos o Dia de Proteção às Florestas. No imaginário do brasileiro, ao ouvir o termo floresta, logo vem à mente a imagem da Floresta Amazônica e ou da Mata Atlântica, que são de grande importância para o ecossistema global. Porém, um bioma também essencial, e ainda por cima, de exclusividade brasileira, geralmente não é visto como uma floresta: a Caatinga.
A afirmação de que aquele ecossistema retratado pela imagem do chão rachado, arbustos ralos e árvores que mais lembram gravetos, seja uma floresta e pode causar surpresa. O microempreendedor individual José de Araújo, 44, por exemplo, não vê qualquer semelhança. “A Caatinga é uma região super seca. Nas florestas têm muito verde, plantas, flores, animais e muita chuva também. É completamente diferente”, afirma. E mesmo quem acredita que o bioma pode ser classificado como floresta, ainda fica com o pé atrás. “Não é. Quer dizer… é sim. Apesar de não parecer, ela deve ser sim, porque é possível sobreviver nela”, analisa o soldado do exército, Matheus da Silva, 18.
Conceito de Floresta
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), a floresta é “uma área medindo mais de 0,5 hectares (ha) com árvores maiores que cinco metros de altura e cobertura de copa superior a 10%, ou árvores capazes de alcançar esses parâmetros. Isso não inclui terra que está predominantemente sob uso agrícola ou urbano”. A analista ambiental do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), cedida pelo Instituto de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Maria Auxiliadora Gariglio, explica que esse conceito contempla a Caatinga porque a imagem árida do imaginário popular é, geralmente, a de áreas degradadas do bioma.
“Nos locais onde a Caatinga está preservada, suas árvores têm capacidade de atingir até 10 metros de altura, sem falar que esse bioma pode sim, ter áreas verdes e exuberantes, com muitas espécies de flores e uma fauna variada”, afirma Auxiliadora, que é engenheira ambiental por formação.
Outra razão para as áreas secas é a grande diversidade de características de solo e clima do semiárido, que influencia na floresta Caatinga. A Associação Caatinga (AC), organização do terceiro setor, fala ainda na presença de espécies de mais de 20 metros de altura, raríssimas atualmente, devido à exploração histórica desenfreada.
“Sim, há locais secos e com arbustos, mas, na Floresta Nacional de Araripe (Flona Araripe-Apodi), por exemplo, é possível ver o ápice do bioma naquela região. Não quer dizer que o ideal é que a Caatinga fosse toda daquele jeito, pois o Semiárido brasileiro é uma verdadeira colcha de retalhos e isso influencia nos aspectos da floresta”, explica Auxiliadora. A Flona Araripe-Apodi localiza-se na Serra do Araripe, nos Estados do Ceará, Pernambuco e Piauí.
O secretário executivo da AC, Rodrigo de Castro, também defende a visão da Caatinga enquanto floresta e lembra a origem do próprio nome do bioma, que vem do Tupi Guarani e quer dizer Mata Branca ou Floresta Branca. Para ele, porém, a compreensão da sociedade sobre esse fato não contribuiria muito para sua preservação. “Mais importante que isso é mostrar o quanto ela é importante, toda sua exuberância, diversidade e os benefícios para o planeta e a sociedade”, opina.
Embora também atribua grande importância ambiental ao bioma, o coordenador técnico do Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador (CETRA), Luís Eduardo Sobral discorda de Rodrigo, pois acredita que o reconhecimento da Caatinga enquanto floresta confere ao ecossistema a condição de um ambiente rico e diverso, ao invés da imagem desolada que lhe é atribuída. Para ele, a visão cultural sobre esse bioma não é uma coincidência, ela faz parte da construção da “indústria da seca”, que dá ao bioma características de morbidez irreversíveis e lucra com isso.
Visão urbana da Caatinga
Enquanto o cenário repleto de poeira, cactos e cadáveres de animais ain-da representa a Caatinga para quem vive nas grandes cidades, para as po-pulações que sobrevivem dela a imagem não é bem essa. É o que considera o engenheiro florestal e coordenador geral da Associação Plantas do Nordeste, Franz Pareyn. “As populações da Caatinga conhecem o seu potencial, sua diversidade e aprenderam a manejar seus recursos. O problema é que quem lidera os processos de elaboração de leis e políticas públicas ainda é adepto dessa visão limitada”, opina. Mesmo assim, o engenheiro considera que o reconhecimento da importância da Caatinga tem crescido.
Segundo Maria Auxiliadora, o SFB atua na defesa da Caatinga por meio de diversas ações. Entre elas, as unidades de pesquisa florestal, onde o comportamento do bioma é estudado e depois submetido a diferentes intervenções. Os resultados dos estudos orientam para a formulação de normas de uso da Caatinga, medidas de fiscalização, e esclarecem sobre o comportamento das espécies e da floresta.
Outra forma de atuação do Órgão é quanto ao manejo Florestal em assentamentos rurais. “Essa é uma atividade em curso em quatro estados do Nordeste em que estamos promovendo o uso sustentável, legalizando a produção e criando a oportunidade de geração de outra fonte de renda para 91 assentamentos”, afirma. As ações envolvem ainda cursos a estudantes que estão finalizando o curso técnico em escolas agrícolas e Institutos Federais de Educação, extensionistas de ONGs e prefeituras.
DICIONÁRIO ESTADO VERDE
Nem toda floresta é um bioma e nem todo bioma é uma floresta. No caso da Caatinga, ela é os dois. Entenda os conceitos:
• Bioma: Ecossistema com um conjunto de características próprias e singulares, como clima, tipo de solo e espécies endêmicas, ou seja, exclusivas.
• Floresta: Área medindo mais de 0,5 hectares com árvores maiores que cinco metros de altura e cobertura de copa superior a 10%, ou ainda, capazes de alcançar tais parâmetros. Isso não inclui terra que está predominantemente sob uso agrícola ou urbano.
• Floresta Nacional (Flona): Categoria de área protegida estabelecida pelo Snuc – Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei Federal no 9.985, de 18/07/2000). A Flona é uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em método para exploração sustentável de florestas nativas. O Ceará conta com duas florestas nesta categoria de floresta: Flona do Araripe-Apodi (criada em 1946) e a Flona de Sobral (criada em 1967).
• Inventário Florestal Nacional (IFN): É um inventário que abrange todo um país, periodicamente, utilizando técnicas de amostragem, de modo a possibilitar o monitoramento contínuo dos recursos naturais florestais, tendo como principal propósito fornecer informações para subsidiar a definição de políticas florestais, a gestão dos recursos florestais e a elaboração de planos de uso e conservação dos recursos florestais.
• O Brasil realizou a primeira e única edição de um IFN, na década de 1980, o objetivo principal era gerar informações sobre os estoques de madeira de florestas naturais e plantadas. A síntese dos resultados foi publicada em 1983 e está disponível no portal do IFN (http://ifn.florestal.gov.br/).
• O Serviço Florestal Brasileiro (SFB) está elaborando um novo IFN que contemplará todo o território nacional. O inventário para o Ceará já está contratado e o órgão à frente do processo é a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace).