Programa contribui para repensar modelos de produção e práticas de convivência com o semiárido.

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Intercâmbio interestadual em Riachão do Jacuípe\BA | Foto: Daniela Bento

Em Março deste ano, a Sociedade de Apoio Sócio Ambientalista e Cultural, SASAC, tinha como meta formar e capacitar 300 famílias dos municípios de Simão Dias, Pinhão e Poço Verde, nas mais diversas metas do Programa P1+2 – Uma Terra e Duas Águas, da Articulação do Semiárido – ASA.

Esses municípios, localizados no território do Sertão Ocidental do Estado de Sergipe, têm recebido nos últimos anos incentivos para a produção de milho, com distribuição de sementes, mecanização agrícola e assistência técnica convencional. Isso tem contribuído para o avanço dos usos de insumos químicos (adubos e agrotóxicos), e, claro, o monocultivo do milho na região. Dessa forma, somente em 2013, a produção de 700 mil toneladas de grãos fez de Sergipe o Estado de maior produção de grão, ficando atrás apenas da Bahia. O P1+2, torna-se, portanto, uma possibilidade de mudança de realidade, a partir do debate e práticas de convivência com o semiárido.

De março até o momento, muitos já foram os passos trilhados: famílias mobilizadas, buracos cavados, muita massa feita, muito suor e cenários transformados diariamente com os pontinhos brancos das cisternas no entorno de casa.
Contudo, uma das maiores transformações são aquelas que parecem modificar almas e mentalidades das famílias. E nesse sentido, os GAPAS, SISMAS e Intercâmbios têm sido de extrema importância para o enfrentamento dessa realidade.

Os GAPAS têm propiciado um momento muito especial para as famílias, nesses têm sido trabalhada algumas técnicas de manejos de acordo com os caracteres produtivos escolhidos pelas famílias. Por exemplo, método famacha para vermifugação de ovinos e caprinos; rações alternativas para planteis de pequeno porte; construções de canteiros econômicos; produção de defensivos e adubos alternativos, entre outras.

O trabalho realizado no GAPA privilegia a utilização de metodologias participativas, o trabalho com o visual como fotos e filmes sobre os temas. Além disso, todas as famílias recebem ainda uma mini cartilha com os conteúdos trabalhados, nas quais constam as receitas e o passo a passo de todas as técnicas aplicadas, que poderão ser consultadas sempre que alguma dúvida surja.

As atividades desenvolvidas no GAPA são colocadas em prática nos SISMAS, momentos mágicos dentro do processo, pois propiciam sempre os primeiros intercâmbios, já que esses cursos congregam famílias de diferentes comunidades e povoados. É durante o SISMA que eles visitam a comunidade acolhedora, escolhem-se os locais onde as práticas serão realizadas, e as famílias experimentam realizar pequenas atividades nunca antes realizadas por elas, além de conhecer melhor um pouco de seus municípios a partir das famílias envolvidas e seus saberes mútuos partilhados.

Logo após esse momento, é chegada a hora dos intercâmbios, algo que para muitos inicialmente gera certo estranhamento e receio, já que muitos não têm por hábito viajar para além da sede do município. Tudo isso é rompido ao se deparar com os semiáridos e suas belezas. 

Os intercâmbios são algo maravilhoso, pois é a hora dos agricultores (as) vivenciarem o que foi mostrado e debatido nos cursos. É a prova dos nove, o tira teima, é o conto no mundo real. É alegria de seu José Nobre, lá da comunidade de Agostinho em Nossa senhora da Glória em receber e trocar saberes com aqueles que rodaram mais 80 km para conhecer suas experiências de manejo de água, solo e caatinga.

Descobrir com sue Carlos soares, do Assentamento Nossa Senhora Aparecida – Se, a possibilidade de tratar os rebanhos com ervas da caatinga e fazer um cafezinho usando o gás do biodigestor.

É desbravar o semiárido pelas estradas desses sertões até se deparar com o oásis de seu Abelmanto, lá do Riachão do Jacuípe – BA, e se encantarem com suas tecnologias e paixão pela agroecologia.

É como disse seu Gilson, da comunidade Candel em Simão Dias, ao conhecer as experiências de seu Abel: “Uma viagem como essa vale apena, nunca pensei que ia viver para ver uma coisa linda dessa. E eu digo, meu pedacinho lá quero fazer o que vi aqui, e quem sabe um dia vocês não vão lá me visitar?”

Ou a fala de seu Adeilton do Assentamento 08 de Outubro: “Agora é colocar na prática o que vimos aqui, e parar de comer veneno”.

Responde dona Terezinha da colônia: “Antes nós estava fazendo errado por que não sabia o certo, né? Mas agora vamos fazer diferente”.

Em números até aqui já conseguimos os seguintes resultados: 04 GAPAS E SISMAS – Envolvendo 100 famílias distribuídas em 11 comunidades e 01 Assentamento da reforma agrária.
01 CAPACITAÇÃO PEDREIROS com 10 agricultores, 01 CAPACITAÇÃO DE COMISSÕES integrando 03 municípios e 01 INTERCÂMBIO INTERMUNICIPAL propiciando a troca de saberes entre 17 famílias, e um INTERCÂMBIO INTERISTADUAL envolvendo 18 famílias.

No tocante as implementações de tecnologias, já podemos visualizar a paisagem se modificando em 100 quintais do município de Simão Dias, sendo: 52 cisternas construídas, 06 iniciadas e 42 buracos cavados. Vale ressaltar que muitas dessas já estão com bastante água, graças as chuvas que tem caído na região.

Em relação aos processos de seleção já temos 60 famílias selecionadas no Munícipio de Pinhão, com previsão de inicio das atividades, com a realização do 1º GAPA para os dias 23,24 e 25 de Julho.

Temos metas é verdade, mas sem dúvida, a maior delas é levar a missão da ASA e da plena convivência com o semiárido a todas as famílias.

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