II Curso de Formação em Agroecologia discute agricultura biodinâmica
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Turma do EFA e da UFC em Tianguá | Foto: Sara Rodrigues / FEAB Fortaleza |
Intercâmbio, partilha e soma de saberes permearam o II Curso de Formação em Agroecologia realizado na Escola Família Agrícola Chico Antonio Bié em Tianguá/CE (EFA Ibiapaba), de 04 a 06 de Julho de 2014. A iniciativa foi das/os universitárias/os ligadas/os ao núcleo da Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB) em Fortaleza, que buscam o conhecimento agroecológico na prática, para além do espaço acadêmico.
No primeiro dia, 04, a manhã foi de integração entre as turmas da EFA e da Universidade Federal do Ceará (UFC), contando suas vivências, e ainda, de conhecer a história do Assentamento Nova Esperança situando todas/os no espaço de realização do curso. Nesse momento, os desafios e fragilidades da reforma agrária foram colocados como fatores que dificultam a agricultura familiar e a construção da agroecologia.
Logo após, a biodinâmica foi o assunto da vez, empolgando a todas/os com a facilitação do agrônomo e pesquisador da UFC, Dr. João Batista.
Tratando da agricultura baseada na astronomia e entendendo que “nada aqui está parado, tudo é dinâmico”, Batista trouxe para debate a influência do movimento de rotação do sol, lua e terra em relação às constelações do zodíaco e demais planetas do sistema solar, no comportamento dos organismos vivos. Tudo para esclarecer que o sucesso no manejo de plantas e animais depende da observação e conhecimento desses ciclos, principalmente da lua e sua relação com a época do plantio, poda, colheita… Sendo, portanto, indispensável para o desenvolvimento de agriculturas sustentáveis.
Ensinando sobre fisiologia de plantas e os processos químicos que nela ocorrem, afirma que é desnecessário o uso de defensivos químicos e orgânicos para “combate” a pragas que “atacam” os cultivos, pois, “o aparecimento de pragas e vermes não é uma causa, é uma consequência” de estresses causados na planta levando à morte de suas células, e, é disso que esses pequenos animais se alimentam, ou seja, de matéria morta, não atacam as partes vivas. São, portanto, recicladores que se nutrem e devolvem para o ambiente os elementos químicos ali existentes.
Para ele, a “atividade agrícola é uma atividade profissional, exige conhecimento”, de modo que cuidar da agricultura tendo os astros e seus ciclos como referência minimiza os estresses, potencializa a produção e evita a necessidade de exterminar “pragas”.
Finalizando as atividades do dia houve o espaço de mulheres em roda de conversa que refletiu sobre as relações de gênero, a divisão sexual do trabalho na agricultura e a importância das mulheres na agroecologia.
No dia 05 pela manhã, a turma foi à Viçosa do Ceará conhecer a Feira de Mulheres e a Bodega do Povo que são espaços para comercialização de alimentos orgânicos oriundos da agricultura familiar.
À tarde, o momento foi de conhecer o calendário astronômico elaborado pela agricultora alemã Maria Thun, que durante 50 anos estudou o comportamento dos astros e as reações que desencadeiam nas plantas. Batista conduziu esse processo, interpretando-o junto com as/os participantes.
Para a noite, um cine-debate com o filme O Veneno está na mesa II, suscitou reflexões e momentos de convergência de saberes.
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Momento de prática e de reflexão | Foto: Sara Rodrigues / FEAB Fortaleza |
No terceiro e último dia de curso, 06, a manhã foi de diálogos sobre os efeitos negativos da adubação química e os efeitos positivos da adubação orgânica na agricultura, facilitados por estudantes do curso de Agronomia da UFC. Nesse momento, o agricultor Luís Doca, que veio participar, contou de sua experiência no trabalho agrícola e de como se baseia no ciclo sideral da lua para fazer seus plantios.
Curiosamente, ele não havia participado das discussões em dias anteriores e demonstrava domínio sobre o assunto, comprovando a eficácia da astronomia agrícola.
Durante a tarde, todas/os foram à comunidade Vambira em Viçosa do Ceará, conhecer a experiência da família de Lucas, educando da EFA, que possui uma mandala com produção orgânica. Lá, além de explicações sobre o manejo do sistema, que é baseado no solar, houve aula prática para montagem de composto orgânico, produção de biofertilizante e bioinseticida.
O encerramento do curso foi com uma animada noite cultural onde a turma da EFA fez apresentações de uma dança indígena conhecida como leruá e também uma peça teatral tratando da violência doméstica. Teve ainda casamento matuto, quadrilha improvisada e um momento de avaliação do curso.
Neste, as falas expressaram positividade, firmação de amizades, parcerias e junção de forças para a construção de um mundo cada vez mais agroecológico.