Centro Feminista realiza curso de formação de mulheres pedreiras
CF8 trabalha o P1+2 como estratégia de empoderamento das mulheres. | Foto: Camila Paula |
Conviver bem com o Semiárido é saber driblar a escassez de recursos como a água; trabalhar tudo que a terra pode dar; buscar o respeito pelo meio ambiente e igualdade entre os que nele/dele vivem. Neste contexto, o Centro Feminista 8 de Março, organização integrante da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), executa o Programa Uma terra e Duas águas (P1+2), no Rio Grande do Norte, buscando construir os processos participativos de desenvolvimento rural promovendo a soberania, segurança alimentar e nutricional e geração de renda às famílias agricultoras. Através do acesso ao manejo sustentável da terra e da água para produção de alimentos. E semear uma cultura de igualdade com destaque para a discussão de gênero neste processo.
Atuando em mais de 17 municípios com projetos em parcerias com diversas instituições, fazendo assessoria técnica no meio rural e litoral periurbano potiguar, o Centro Feminista que trabalha, há mais de 20 anos, na geração de renda, autonomia e auto-organização das mulheres, encara o P1+2 com a perspectiva de também pensar e trabalhar estratégias de empoderamento das mulheres.
A ideia de que mulheres e homens nascem com capacidades distintas para realizar determinadas atividades é uma construção histórica que oculta o trabalho das mulheres e institui a noção de superioridade do trabalho masculino. Para Conceição Dantas, coordenadora do CF8, “no meio rural, a presença das mulheres é ainda marcada por uma realidade de relações patriarcais e em diversas realidades nas quais os homens determinam os rumos da família e da produção. Durante o processo de execução do P1+2, queremos experimentar uma forma de construção pautada na igualdade entre homens e mulheres”.
Para Viviana Mesquita, coordenadora do projeto que tem financiamento do BNDES, “o P1+2 é um desafio para nós porque nunca fizemos antes, mas é um desafio bom porque vai melhorar as condições de vida de muitas famílias da região e, dentro da estratégia política do CF8, sabemos que é uma oportunidade de incluir e visibilizar a importância do trabalho das mulheres na convivência com o Semiárido. Quebrar a ideia de trabalho de campo é trabalho de homem é algo que nos deixa ainda mais animadas”.
No total, serão 320 cisternas construídas, nesta primeira etapa, com as famílias agricultoras dos municípios de Itaú, Rodolfo Fernandes e Tabuleiro Grande.
Mulheres construindo cisternas
O primeiro treinamento para a construção de cisternas do P1+2 do CF8 aconteceu no início do mês de
Mulheres participaram da capacitação de pedreiras para construção de tecnologias de convivência com o Semiárido. | Foto: Camila Paula. |
fevereiro deste ano e foi facilitado por Osnildo Pinheiro, pedreiro com mais de 16 anos de experiência, contando com a participação de 17 homens e de 10 mulheres. Sim. Mulheres construtoras de cisternas.
A rotina de acordar às 5h e encarar um dia de sol, poeira, manejamento da massa do cimento e armações de ferro no dia a dia foi encarada com muita garra e trabalho. Ismênia Marília, do P.A Maurício de Oliveira, Assu, sobre a experiência no curso de cisterneiras diz que “no início foi bastante difícil porque nunca tinha feito isso antes. Mas ver a cisterna pronta foi muito gratificante. Vi que sou capaz disso e de muito mais”. E continua: “No começo, os homens desconfiaram perguntando se a gente dava conta. No fim, eles ficaram impressionados e a gente foi respeitada”.
Derrubando o senso comum da sociedade, Ana Maria, do P.A Maurício de Oliveira, Assu, diz que nunca gostou de cozinhar ou de ponto cruz: “com o trabalho braçal me identifico mais. Colher de pedreiro é melhor do que colher de pau”. E Maria da Conceição Gomes, também do P.A. Maurício de Oliveira, conta que o pai era pedreiro e que ela sempre quis fazer esse serviço, mas que nunca deixaram. E que o conhecimento e o desafio enfrentado na construção das cisternas eram uma vitória para ela.
As cisternas são construídas por duplas. Evenir Hipólito, cisterneira formada neste treinamento, tem como dupla outra mulher e sobe isso, arremata: “o trabalho é cansativo, mas não é nada que não façamos bem feito. Vamos prosseguir e quebrar os preconceitos”.