Oficina sobre Viveiro de mudas fortalece a partilha de saberes e sabores nas comunidades camponesas de Boa Nova
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No dia 12 de fevereiro, mais uma troca de saberes marcou o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), executado pelo ISFA, através do contrato de patrocínio firmado entre a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e a Petrobras. Com a participação de 13 famílias de comunidades rurais de Boa Nova/BA, uma oficina em Viveiro de Mudas possibilitou a construção de conhecimento entre equipe técnica e agricultoras/es sobre o manejo do espaço.
Fortalecer a prática dos viveiros de mudas dentro das comunidades é uma das ações políticas da ASA na luta pela convivência com o Semiárido. Cultivar as mudas até o momento ideal de plantá-las no seu espaço definitivo é antes de tudo um trabalho de dedicação e amor pela caatinga, além de representar o esforço coletivo pelo “recaatingamento”.
Recaatingar simboliza tanto reflorestar a flora natural da caatinga tão devastada historicamente, como também reafirmar a riqueza desta terra, que se bem cuidada, pode sim prover seu povo com diversidade e riqueza.
Assim, a oficina de viveiros trouxe consigo a reflexão e o cuidado no manejo com a terra, para garantir que a experiência dê certo. Ministrada por Gilfredo Santos, militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), o espaço trouxe esclarecimentos sobre os materiais necessários para a manutenção do viveiro, diferenciando os cuidados para hortaliças e frutíferas, mostrando as diferentes formas de proceder a adubagem das plantas, além de discutir o momento ideal para aguar as mudas, bem como plantá-las a fim de promover uma agrofloresta com cobertura do solo.
Para Gilfredo, a troca de experiências entre técnico e agricultor (a) é fundamental para o manejo ideal de seu quintal, pois a mística do (a) camponês (a) com a sua terra é única: “o agricultor não deve se prender apenas às capacitações e ao que o técnico diz, é preciso observar a terra, ver o que dá certo e como corrigir os erros, tentar sempre coisas novas”.
Através desta troca de saberes, o viveiro pode ser potencializado pela comunidade, garantindo às famílias envolvidas uma grande diversidade em seus quintais com as primeiras mudas de cajueiro, mangueira, abacateiro, graviola, seriguela, jabuticabeira e goiabeira, bem como as mudas de pinha, acerola e umbu gigante.
Para Dona Maria Senhorinha, dona da residência onde está localizado o viveiro, a prática coletiva fortalecerá as famílias sertanejas. “A gente fica muito feliz, agradece a Deus e a colaboração de todos. Tá realizando mais uma vitória pra gente, né, que mora na zona rural, no sertão onde é difícil a chuva, demora mais de vir, então de pouco a pouco a gente vai conseguindo as coisas boas na vida. [O viveiro] é uma grande riqueza e estamos na luta de fazer nossos quintais!”.
Também integrantes da oficina, animadores sociais, que atuam no município, acompanharam a troca de experiências e esperam que a prática da Convivência com o Semiárido tenha sido potencializada. “O espaço é bom pra gente, um pouquinho que a gente aprende já é ótimo! Tendo força de vontade para aprimorar esse conhecimento, com mais palestras, curso prático, são bons não só pra produção de um quintal agroflorestal, como também dos canteiros.”, apontou Mário Rocha, animador do P1+2.
Assim como havia sonhado seu João Barbosa (**), marido de dona Maria, a comunidade poderá compartilhar saberes e sabores através da nova implementação junto com as tecnologias sociais conquistadas pela ação da ASA. O viveiro de mudas representa a diversidade alimentar garantida para o povo do Semiárido, como também a possibilidade de novas práticas de convivência.
Para Eliane Almeida, coordenadora técnica do P1+2, o viveiro resgata a luta histórica dos movimentos sociais na promoção de novas formas de lidar com sua terra, “e a ASA vem com essa proposta de viveiros comunitários para resgatar a solidariedade, o companheirismo na comunidade, e as mudas e sementes vêm acender esses sentimentos de partilha”, complementa.
Dentro do P1+2, o viveiro de mudas inicia os primeiros passos da ASA na construção das mais variadas práticas de convivência e com a colaboração de todos (as) envolvidos (as) será possível a construção de um sertão mais rico, igualitário e digno. “Todos nós precisamos da mãe-terra. Se a gente cria o mesmo nível de consciência será bom para todos nós na comunidade. Agricultora e agricultor são pessoas raçudas, pessoas de fé e de coragem, o que a gente pede para vocês enquanto projeto, é olhar além do dinheiro que está sendo investido, mas olhar o futuro dos seus filhos, dos seus netos, é o cuidar da natureza e o cuidar de nós mesmos”, conclui Eliane.
* com colaboração de Eliane Almeida
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