Comunicadoras populares da ASA participam de Ciclo de Formação Mídia e Educação em Direitos Humanos

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No dia 30 de novembro deu início o Ciclo de Formação Mídia e Educação em Direitos Humanos em Fortaleza. Estudantes de Serviço Social, advogados, jornalistas, comunicadores populares, militantes, pessoas que guardaram o final de semana para debater direitos humanos e que sairiam desse ciclo fortalecidos na luta pelo direito à comunicação. Que mídia nós temos? Que mídia nós queremos? O que temos encontrado quando ligamos a TV? O que vemos estampado nas propagandas publicitárias? Você já se sentiu representado? Já se sentiu ridicularizado?

Essas perguntas e tantas outras surgem quando fazemos uma leitura crítica da mídia brasileira e quando as respostam começam a ser construídas, lamentavelmente, nos deparamos com uma mídia que legitima e propaga preconceitos, estereótipos, e que falha no seu papel de educadora, incitando uma cultura de ódio em grupos apresentados como “minorias”. Quem disse que os negros são minoria, que a população LGBT é minoria?

O ciclo iniciou com uma debate sobre a história das lutas por direitos humanos, sua construção histórica, princípios e características dos direitos humanos com o advogado popular Rafael Barreto. O facilitador exibiu algumas fotos e propôs analisá-las a partir de perguntas como: e se fosse uma mulher negra? E se fosse um homem? Perguntas que nos fizeram enxergar o quão somos influenciados pela mídia e pela sua propagação de valores e comportamentos sexistas, homofóbicos, racistas.  

Durante a tarde, discutimos os instrumentos e mecanismos de proteção dos direitos humanos; pactos e convenções internacionais, a Constituição Federal; programas e Planos Nacionais de direitos humanos com a advogada popular Isabel Sousa.

No segundo dia de formação, iniciamos o dia com um debate sobre a representação das mulheres na mídia através da feminista e escritora do blog Escreva Lola Escreva, Lola Aronovich. Propagandas publicitárias e material audiovisual foram analisados.

Durante a tarde foi a vez da população LGBT, como a mídia retrata o grupo, a violação de seus direitos; através do facilitador Tel Cândido, coordenador socioeducativo da ONG Fábrica de Imagens. Ao final de cada oficina, os participantes juntamente com o facilitador pensavam propostas relativas aos direitos humanos para compor um Guia que circulará nos veículos de comunicação de todo o país a partir de 2014.

Nossa mídia é perversa e não podemos fechar os olhos para todas as vezes que mulheres, gays, lésbicas, transexuais, negros/as, crianças e idosos/as forem tratado/as de maneira desrespeitosa e distorcida nas novelas, propagandas publicitárias e em outros meios de comunicação. Lutamos pelo direito à comunicação, mas não qualquer comunicação.

A mídia não é desumana só com os grupos citados, a rede de comunicadores populares da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) trabalha no fortalecimento da visão de um Semiárido de bem-querer, rico e cheio de oportunidades, em detrimento do que a grande mídia teima em transmitir, um Nordeste pobre, sem perspectiva. Nossos agricultores e agricultoras são homens e mulheres de resistência, que constroem um mundo melhor através da Agroecologia.

A segunda etapa do ciclo trouxe à debate a representação de negras e negros, pessoas com deficiência, crianças e adolescentes, e, pessoas idosas na mídia, com reflexões que permitiram perceber violações de direitos e distorções presentes nas informações veiculadas.

 Na manhã do dia 14, Aby Rodrigues e Cristiane Faustino do Instituto Negra do Ceará (INEGRA), conduziram o diálogo sobre mídia e negritude, iniciando com um resgate histórico da presença de negras e negros na construção estrutural da sociedade que vivemos e apresentando importantes elementos para compreensão de um Brasil negro que não é divulgado nem reconhecido.

Esclareceram como o racismo se solidifica de forma velada e perversa oprimindo, estereotipando e excluindo da sociedade, “mesmo sendo visível a olho nu ele está ocultado, se manifesta como estrutura na vida econômica, política, cultural, em todos os espaços da sociedade”, diz Cristiane.
 
Aby reflete sobre a naturalização do preconceito e afirma que o “mito da democracia racial é a maior violência que o racismo pode criar, ele não está posto é ocultado, silencioso”. Para concluir expuseram um vídeo com imagens que mostram a discriminação contra negras e negros na publicidade, novelas e programas policiais.

À tarde, com uma dinâmica focada nas diferenças Ana Paula, professora da FA7 e Arnaldo Fernandes, advogado popular, iniciaram o assunto de sua apresentação que tratou das pessoas com deficiência. Arnaldo explica que “a deficiência não está só na pessoa que nasce com a limitação, mas na estrutura que é oferecida para ela”, referindo-se aos espaços sociais que excluem essa população. Incitando a reflexão do grupo sobre como e em que situações as/os deficientes são retratadas/os na mídia.   O resultado foi que em muitos casos são ridicularizadas e expostas a vexames, ou tratadas como incapazes.

Ana falou também do poder do discurso nas relações. Em seguida apresentou o projeto Audiolivro que consiste em gravar a leitura de livros em áudio para pessoas com deficiência visual. Ao final, através de uma dinâmica, propôs “um novo jeito de ver o mundo”.

Dia 15 pela manhã, as/os participantes do ciclo puderam lançar novos olhares sobre a retratação de crianças e adolescentes na mídia com a jornalista Ana Cesaltina e o advogado popular Thiago Menezes.

Para início de conversa, Thiago indagou aos/as demais: o que é ser criança? Após algumas considerações, fez uma análise histórica da construção do conceito aceito atualmente. Exibindo alguns vídeos publicitários, refletimos sobre como as crianças são utilizadas na mídia para estimular em outras crianças o consumismo. Explica que “a publicidade não vende produtos, ela vende desejos, afirmações”, e as crianças estão mais suscetíveis a essa influências.

Esclarece ainda que as crianças pobres também vão querer a promessa de felicidade e inserção social que a mídia vende através da propaganda de produtos e para isso, estando em situação de exclusão, ela vai cometer atos infracionais.

Ana Cesaltina explica que a criança se espelha nos adultos com quem ela convive, fala também que a mídia se encarrega de espalhar a cultura do medo dando grande destaque aos atos infracionários que elas cometem criando o mito de que “estão exterminando a sociedade”.

Durante a tarde, a turma refletiu coletivamente sobre as discriminações contra idosas/os que geralmente a mídia rotula como incapazes e inconvenientes. A publicidade ataca com promessas de dinheiro fácil através de empréstimos consignados e as novelas e programas fazem uma verdadeira ‘campanha’ de negação da velhice, de modo que mulheres não podem dizer a idade e são induzidas a fazer tratamentos estéticos para manter a ‘pele jovem’. Refletiram também que homens idosos têm espaço nos programas jornalísticos e as mulheres, nos culinários.

No encerramento a professora universitária Sandra Helena, mediou o diálogo sobre a comunicação como um direito humano e fez um desabafo de como as pessoas que lutam e acreditam nos direitos humanos têm perdido as batalhas, “em relação à idéia de desigualdade não conseguimos pôr na mídia, criar um espaço simbólico de reflexão”, disse.

Refletiu ainda que “o movimento de junho é conservador, não é emancipatório”, explicando que os movimentos que lutam por direitos humanos já estavam nas ruas antes e continuaram depois das manifestações encabeçadas pela classe média.

E o encontro encerrou com avaliações positivas, proposta de que haja outros encontros e que o ciclo se fortaleça.

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