No Ano Internacional da Agricultura Familiar e Camponesa, muitos desafios esperam a ASA
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Valquíria Lima | Foto: Josy Manhães |
Justo em 2014, Ano Internacional da Agricultura Familiar e Camponesa, a ASA completa 15 anos. Com uma crescente ampliação de sua ação de convivência com o Semiárido, o próximo ano será de muitos desafios para a rede ASA. Isso é o que afirma a coordenadora executiva da ASA Brasil pelo estado de Minas Gerais, Valquíria Lima, na entrevista concedida à Asacom.
Ao mesmo tempo, 2014 “será uma grande oportunidade para mobilizarmos forças, articulações e ações nos territórios de convivência com o Semiárido, partindo da realidade local, das demandas territoriais, ampliando o diálogo com os movimentos sociais, as redes e articulações”, ressalta Valquíria Lima.
Confira a entrevista!
Asacom – Quais os desafios postos para a ASA em 2014, nos cenários interno e externo, que você gostaria de destacar?
Valquíria Lima – 2014 será um ano de muito desafios para ASA. No cenário externo, precisamos garantir que a nova legislação das cisternas se torne referência para as demais políticas públicas de convivência com o Semiárido, uma vez que poderia ajudar consideravelmente na dinamização dos programas e projetos que fortalecem a agricultura familiar e camponesa na região.
O Programa 1 Milhão de Cisternas (P1MC) precisa ser ampliado para os municípios que não são considerados Semiárido Legal. Existe uma enorme demanda de municípios e também de estados como Maranhão e Espírito Santo.
O Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), com sua ampliação de tecnologias e parceiros, tem como desafio fortalecer nossa ação com as sementes, a agroecologia e a segurança alimentar e nutricional das famílias do Semiárido.
A ampliação e continuidade de programas, como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), o Pnae (Programa Nacional de Alimentação Escolar), a ATER e ATES (Assistência Técnica e Extensão Rural e Assistência Técnica Social e Ambiental à Reforma Agrária), precisam ser bandeira de luta da ASA porque fortalecem nosso projeto de desenvolvimento.
O direito à terra e à reforma agrária necessitam sair da intenção política e precisam se torna política pública. Com programas e projetos voltados para essa efetivação, a ASA reforça e assume também essa luta que é de todos os movimentos sociais.
Olhando para o cenário interno, a rede cresceu e com isso cresce a necessidade de repensar nosso modelo de gestão dos programas e projetos, nossa estrutura e a dimensão das nossas ações. Nesse campo tão amplo da convivência com o Semiárido o que cabe à ASA? Tudo?
Existe hoje uma forte pressão externa para que a ASA opine, se posicione, se envolva, garanta que as coisas aconteçam, mas sabemos que a transformação da sociedade do Semiárido não é tarefa apenas da ASA, definir e redefinir esse espaços, esses limites sempre foi e tem sido um grande desafio para toda rede em todas suas instâncias.
O fortalecimento de nossa missão, da nossa identidade precisa, mais do que nunca, ser reforçado e enraizado. Em 2014, a ASA completa 15 anos de existência como rede. É tempo de comemorar, é tempo de colher os frutos semeados e é tempo de semear novos frutos, que nos façam crescer no amadurecimento dos nossos sonhos e utopias.
Asacom – Qual deve ser a postura e atitude da ASA com relação a esses desafios?
Valquíria Lima – Nossa postura deve ser de continuarmos fortalecendo nossa identidade de rede, múltipla, diversa e plural. Esse fortalecimento da nossa missão e identidade nos dá mais força para enfrentar as crises, nos anima a continuar superando as dificuldades que encontramos ao longo do nosso caminho e nos dá certeza de que, como rede, somos muito mais fortes e estamos muito mais preparados para enfrentar e superar os desafios.
Asacom – Por onde devemos avançar em 2014 com relação à convivência com o Semiárido?
Valquíria Lima – A ASA precisa continuar fortalecendo a dimensão da convivência com o Semiárido baseada na sustentabilidade dos povos, comunidades e seus territórios. 2014 é o Ano Internacional da Agricultura Familiar e Camponesa. Será uma grande oportunidade para mobilizarmos forças, articulações e ações nos territórios de convivência com o Semiárido, partindo da realidade local, das demandas territoriais, ampliando o diálogo com os movimentos sociais, as redes e articulações.
Precisamos fortalecer não apenas no Semiárido, mas em todo o Brasil, uma grande campanha de valorização da agricultura familiar e camponesa, denunciando os projetos que põem em risco a vida dos povos e de seus territórios. Uma campanha que defenda a vida dos agricultores familiares e camponeses e de seus territórios.
Não podemos deixar de reforçar, em 2014, dentro da ASA Brasil, uma retomada na articulação das mulheres do Semiárido, porque a convivência com a região só será plena quando tivermos iguais oportunidades entre homens e mulheres, sem preconceitos, violência e submissão.
O direito à comunicação também precisa ser uma bandeira de luta e envolvimento da Rede ASA Brasil. Povos e comunidades precisam ter a liberdade de se expressarem, comunicarem e trocarem cada vez mais experiências e conhecimentos.