Participantes do Encontro de Agricultores visitam experiências dos quintais na região da Borborema

Compartilhe!

Visita à propriedade de Dona Nalva. | Foto: Adriana Galvão

Um grupo de cerca de 30 participantes do 3º Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores, visitou nesta terça-feira (29), segundo dia da programação, a experiência de quintal produtivo, da agricultora Marinalva Belarmino, no assentamento Junco, município de Remígio, na região da Borborema. A experiência foi uma das 12 visitadas, que foram divididas em quatro grandes temas: Sementes; Quintais produtivos; Manejo das caatingas e Criatórios no semiárido. As visitas foram distribuídas em três regiões do estado, Cariri, Curimataú e Borborema, cada região recebeu quatro visitas.

Na terra de 20 hectares do assentamento, adquirida pelo Banco da Terra, Nalva, como é mais conhecida, mostrou aos visitantes a sua faxina, como organiza o seu arredor de casa, ao lado da cisterna-calçadão, onde planta as hortaliças alface, couve, tomate, pimentão, quiabo, espinafre, além das plantas medicinais alecrim, arruda, camomila, saião, erva-doce e sabugueira, entre outras. “Esse espaço é muito importante para mim porque aqui eu planto as minhas plantinhas e quando meus filhos adoecem eu venho aqui, na minha ‘farmácia viva’, e faço um chazinho, não precisa tá comprando remédio em farmácia”, conta.

As plantas medicinais e as flores ficam também em cima de um giral, onde a agricultora agua as plantas de cima e a água serve para regar as de baixo, gerando economia. Esta ideia Nalva aprendeu em uma visita de intercâmbio na casa da agricultora Irene Barbosa, no município de Solânea, que esteve entre os participantes da visita. “Por isso que é bom a visita de intercâmbio, a gente aprende uma com a outra, né Nalva?”, comentou dona Irene, contente em ver a sua invenção servindo a outras pessoas. Outro segredo de Nalva é sempre plantar no meio das hortaliças outros tipos de plantas, como as de flores. “É que se tiver de vir um inseto, ele vem para essa planta e não para na hortaliça”, explica.

Nalva conta que quando chegou na propriedade há 11 anos, tudo era uma grande cerca de gado. Mas com coragem ela foi trabalhando e mudando a paisagem. “Um dia eu fui a um intercâmbio e conheci uma mulher que tinha muita dificuldade, morava num lugar muito seco, mas essa mulher tinha tudo lá, só você vendo, até bananeira tinha lá. Então eu voltei e fui à luta, atrás de plantar e valorizar o meu sítio. Hoje eu olho e vejo que tem uma história de vida aqui, meus filhos chegaram pequenos e hoje estão criados”.

No local o grupo de agricultores, vindos de estados como o Piauí, Rio Grande do Norte, Ceará e Minas Gerais, conheceu ainda a experiência da palma consorciada com a criação de galinhas, a fabricação de telas, o beneficiamento de frutas com a máquina despolpadeira e o fogão ecológico, que usa pequenos gravetos, polui até 60% menos que os demais fogões à lenha, além de produzir menos fumaça. Estas são algumas das experiências desenvolvidas pela comissão de saúde e alimentação do Polo da Borborema, da qual Nalva participa junto com outras mulheres.

A agricultora Josefa Pires, da comunidade Novas Candeias, no município de Curaçá, na Bahia, fez parte do grupo que visitou Nalva. Ela se identificou com a forma da agricultora encarar a vida. “Eu tô amando tudo que eu tô vendo aqui, eu vejo Nalva como uma pessoa como eu, nós somos guerreiras. Se eu um dia pensei em desistir, depois da parceria com a ASA eu só penso em crescer na agricultura, em ir em frente. Daqui eu saio animada a plantar mais perto de casa, me deu vontade de plantar mais, valorizar mais o meu quintal, foi o que aprendi com Nalva”, conta.

Após esse momento, outras agricultoras, de outras comunidades e de outros municípios vizinhos falaram sobre as suas experiências, semelhantes à de Nalva, e outras deram o seu depoimento de superação, de como o trabalho em torno dos quintais foi tirando as mulheres do isolamento e contribuindo para gerar renda e autonomia. “Esse trabalho me ajudou a sair de casa, a me tirar do meu mundinho, de só estar de casa para o trabalho”, disse ainda Nalva aos visitantes.

Na parte da tarde, após as visitas temáticas, os grupos que visitaram quatro experiências na região da Borborema se reuniram em um almoço coletivo no sitio São Tomé II, município de Alagoa Nova, e em seguida houve um momento de apresentação do conjunto do trabalho dos agricultores no território. Foi aberto um espaço ainda para que os agricultores e as agricultoras pudessem comentar as suas impressões sobre as experiências que visitaram pela manhã.

Maria Leônia Soares, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Massaranduba e da coordenação do Polo da Borborema, relembrou a trajetória de organização das famílias agricultoras da região. “Vivemos um processo histórico de desvalorização do saber dos agricultores por parte da assistência técnica, que estabelecia uma relação vertical com os agricultores, de cima pra baixo. A medida que fomos começando a articular o conhecimento desenvolvido por nós agricultores, a sair do isolamento, começamos também a desconstruir um sindicalismo que não trabalhava com sua base, que não discutia agricultura”, afirmou a liderança. Giselda Bezerra do STR Remígio e também da coordenação do Polo da Borborema, completou. “No início o trabalho só envolvia três sindicatos, hoje são 14, pois aquele agricultor de um município vizinho via aquele trabalho e chegava no seu sindicato e cobrava. Se o sindicato de Remígio tem um trabalho de sementes, porque esse aqui não pode ter? Daí começou um intenso processo de intercâmbio de sindicato para sindicato e esse trabalho foi se espalhando”, conta.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *