Orgânicos vencem a seca
Os produtores de alimentos orgânicos do Estado começam, aos poucos, a superar as dificuldades impostas pela seca. A situação atingiu o pior momento entre dezembro e fevereiro, quando alimentos como alface e rúcula, por exemplo, simplesmente desapareceram dos bancos das feiras realizadas na capital. Apesar da falta de dados oficiais sobre o segmento, há uma percepção entre entidades e a Secretaria de Agricultura Familiar de que os chamados agricultores agroecológicos demoraram mais para sofrer prejuízos com a estiagem e foram os primeiros a superá-la, especialmente com as chuvas que começaram a cair com regularidade desde meados de abril.
A diversidade de produção – os produtores costumam plantar frutas, tubérculos, raízes, hortaliças e verduras – e a localização geográfica, tendo a maior parte do cultivo concentrado na Zona da Mata e Agreste, são as duas maiores razões para um melhor enfrentamento da seca. Idalina Fausta Barbosa Martins, produtora há cinco anos do município de Feira Nova, no Agreste, conta que os seus 11 hectares de plantio chegaram a ser reduzidos para três. “Não tenho poço e dependo de um açude que, em épocas mais secas, fica com a água salgada. Nos piores momentos trazia uma galinha, polpa de fruta ou massa para mandioca, só para não deixar de vir e correr o risco de a feira acabar”, desabafa.
A renda também despencou. Os dois salários mínimos minguaram para R$ 800. Segundo Idalina, é preciso que as chuvas continuem regulares nos próximos dois meses para que a produção volte a tempos normais. “Não senti tanto a falta de produtos, mas uma falta na qualidade. Mas ainda assim continuei comprando”, comenta a dona de casa Arlete Jatobá, cliente fiel da feira de orgânicos do Parque de Exposição do Cordeiro, realizada todas as sextas-feiras. Com a lista de compras pequena, a consumidora do mesmo local, a professora Lucinete Barbosa relata ter sofrido poucos percalços financeiros, apesar de ter visto alguns itens ficarem bem mais caros.
Vizinha de banco de feira de Idalina, Rosineide Correia da Silva produz orgânicos no assentamento Caricé, em Vitória de Santo Antão, Zona da Mata. Há quase dez anos espera pela instalação de um simples poço, para minimizar a dependência de três açudes na região. A falta de infraestrutura hídrica é o agravante na seca. “Ouvi muita reclamação de consumidores. Se demorasse mais duas semanas sem chuva os açudes secariam e não sei como iria produzir. Continuo sem alface, beterraba, mas o que estamos plantando tem dado”, explica.
“Houve muita dificuldade, com a produção paralisada por alguns períodos e muitos agricultores deixando de ir às feiras. Agora, quem conseguiu montar, com recursos próprios, uma cisterna para fazer reserva de água, já está se beneficiando das recentes chuvas”, acrescenta o educador da entidade Serviço de Tecnologia Alternativa (Serta), Paulo Santana. Hoje existem 11 feiras regulares no Grande Recife, 10 delas na capital. O polo de produção orgânica de Pernambuco abarca 1.000 famílias de 11 municípios do Agreste e Zona da Mata.