Capacitação de pedreiros: espalhando conhecimento no Semiárido
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Pedreiros participam de capacitação no município baiano de Matina | Fotos: Idelson Alves Pereira/ Arquivo CASA |
Disseminar o conhecimento, trazer autonomia e melhores condições de vida para as famílias sertanejas conviverem com o Semiárido. Essas são algumas afirmações que contribuem para que as ações propostas pela ASA sejam espalhadas pelo Semiárido. Difundir o conhecimento acerca da construção de tecnologias de armazenamento hídrico é uma das ações propostas no curso para a capacitação de pedreiros, que ocorreu na última semana do mês de maio, na comunidade de Baraúna, no município de Matina, na Bahia.
A capacitação foi realizada para 10 pedreiros, sendo em sua maioria, profissionais já experientes na prática da construção de cisternas de consumo. As atividades estão sendo executadas pelo Projeto Mais Água, através do convênio celebrado entre o CASA (Centro de Agroecologia no Semiárido), Sedes e MDS. Serão implantadas 751 tecnologias para armazenamento de água de chuva nos municípios de Matina, Riacho de Santana, Bom Jesus da Lapa, Sítio do Mato, Paratinga e Oliveira dos Brejinhos, municípios estes que fazem parte do território do Velho Chico.
O curso para a construção de cisternas-enxurrada foi ministrado pelo pedreiro Jesus Brito Guimarães, que há onze anos trabalha com a construção de cisternas de consumo e de produção. Jesus comenta que as boas experiências sempre superam as dificuldades que são encontradas durante as construções. “Nosso trabalho faz muita diferença. Além de ter água boa para beber, que é a de consumo, tem a água pra fazer horta. Depois que eu construí, já voltei em algumas casas, cada canteiro bonito. Tem gente que fica muito alegre, eu gosto muito”, completa.
Celimaura de Jesus Chagas Santana, 31 anos, e sua família, acolheram os pedreiros participantes da capacitação e a equipe do CASA, que estava acompanhando o curso. Além de cuidar da casa, Mara é agente de saúde e sabe da necessidade das famílias em obter água de qualidade para consumir, e água em quantidade suficiente para plantar e garantir a segurança e soberania alimentar das famílias. “Eu já estou sonhando com minha horta. Se a gente tiver essa verdura de nossa própria lavoura vai favorecer muito, tanto na questão financeira como na qualidade do consumo. É um produto que você sabe a procedência, que você tem segurança no que está comendo porque sabe como aquilo foi plantado, de onde veio e como foi tratado”, afirma.
Cisternas de consumo e de produção: a mudança necessária para um Semiárido viável
Antes da construção das cisternas de produção, a comunidade de Baraúna recebeu, em 2009, através do P1MC (Programa Um Milhão de Cisternas) cisternas próprias para o consumo humano com capacidade para 16 mil litros de água. Os moradores da comunidade sempre se recordam da vinda dessas cisternas, que para eles configurou uma grande mudança. Seu Adeli Rodrigues Chagas, 60 anos, conta que primeiro vieram as caixas para proporcionar água para o consumo familiar, e depois, a comunidade se uniu para que conseguissem perfurar um poço para trazer água para os animais e para as tarefas domésticas. “Aqui tava esquecido, se não fosse essa caixa que saiu para nós beber, tava feroz. Agora Deus ajudou, juntamos e instalamos um poço e já melhorou. É esse poço que tá ajudando a gente a ter água pra construir essa caixa nova aí”, complementa.
Mara, que também conquistou sua cisterna de consumo em 2009, conta que os casos de diarréia e desidratação eram muito comuns naquela região, e que depois da vinda das cisternas de consumo, houve uma grande mudança, principalmente para as crianças. “Hoje é difícil você ouvir falar de alguma criança internada por causa de desidratação. Quando essas caixas de 16 mil litros vieram pra cá, foi um avanço, uma festa pra esse povo. Essa era uma região sofrida, abastecida com carro pipa, mais de mês pra chegar um pingo d’água, e não era água de qualidade”.
Sobre a chegada da segunda água para a comunidade de Baraúna, a agente de saúde acredita que muitos benefícios virão, e que essas novas tecnologias serão capazes de trazer mudanças e fazer muita diferença na vida das famílias. “Tudo o que a gente consegue com garra, toda vez que você olha vê e pensa: eu sofri pra ter. Isso te determina mais”, conclui Mara.