Pior seca dos últimos 40 anos afeta economia do Nordeste
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Dificuldade atual exige medidas além das emergenciais de costume.
A pior seca dos últimos 40 anos no Nordeste brasileiro está acabando até com atividades que não dependem muito das chuvas.
O nível dos açudes é cada vez mais baixo. Onde a água se concentra mais, não serve para beber. São Francisco de Assis do Piauí fica no semiárido brasileiro, região pobre, que sofre há décadas com a seca. Como a plantação e o gado não resistem, foi preciso buscar alternativas.
Novecentas pessoas de 36 comunidades rurais montaram uma cooperativa para produzir mel. Em 2011, foram processadas 411 toneladas. Oitenta por cento da produção foram para os Estados Unidos, mas, agora, boa parte das máquinas está parada.
“É uma tristeza, porque além de nós não tirarmos mel, nós também estamos perdendo os enxames. É uma preocupação muito grande para nós”, diz Mauro Ferreira Cavalcanti, coordenador da unidade de extração de mel.
A situação dos sertanejos se torna ainda mais dramática quando se sabe que a falta de chuvas neste início de ano vem logo depois de uma seca histórica no Nordeste. Em 2012, choveu muito pouco. Em 2011, também choveu abaixo da média. Já são três anos seguidos de escassez.
Nem as flores resistem, e sem flores, nada de mel. O padre Geraldo Gereon luta há quase 50 anos pelo desenvolvimento do semiárido. Ajudou a construir barragens, cisternas e bombas d'água. Para a situação atual, no entanto, é preciso mais. “A seca é tão conhecida que precisa ter um sistema de prevenção, que não existe. Os governos e outros tantos, qualquer um, só começam a se assustar quando está acontecendo”, diz.
O brasileiro Benedito Braga é presidente do Conselho Mundial da Água, órgão que reúne representantes de 60 países. Para ele, é possível construir uma infraestrutura que abasteça a área, mas falta vontade política, o que impede, inclusive, o crescimento da região.
“Além das questões de custo do frete, mercados locais, regionais,a falta de um suprimento de água seguro, ao longo do tempo, já é fator para uma indústria não se instalar em um determinado local”, diz Braga.
Manoel Marcelino Rodrigues busca água quatro vezes por dia em um poço a três quilômetros do sítio onde ele mora. Metade da jornada é feita arrastando 200 litros de água. “É para o criatório, criação de bode, de ovelha, para dar para as galinhas, para os porcos”, explica.
Com tamanha dificuldade para conseguir água, sobra pouco tempo e energia para investir na produção. “Não tendo um poço aqui na região, é sofrimento demais”, diz o produtor rural.