Movimentos sociais reafirmam unidade política em defesa da Reforma Agrária

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Mística do evento agregou bandeiras de comunidades paraibanas. | Foto: Eudes Costa / Arquivo ASACom 

“Reforma Agrária quando?! Já! Quando?! Já!” – esse foi uns dos gritos de luta que ecoou quase que constantemente durante o I Encontro Unitário Camponês da Paraíba – Por Terra, Território e Dignidade, realizado de 26 a 28 de fevereiro, no Centro de Formação da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (FETAG), em João Pessoa, na Paraíba.

O grito saiu intenso, como que há tempo estivesse engasgado, precisando ser urgentemente escutado, e se estendeu forte nas vozes de cerca de 200 participantes de vários segmentos do movimento social, inclusive da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). As manifestações ganharam mais notoriedade no auditório que homenageia a primeira mulher sindicalista a lutar pelos direitos de agricultores e agricultoras no estado da Paraíba durante a ditadura militar, Maria Margarida Alves.

O encontro estadual seguiu a mesma tônica e desígnios do Encontro Nacional Unitário dos Trabalhadores e Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas, realizado em agosto de 2012, em Brasília. Sobretudo, o evento na capital paraibana unificou e intensificou as ações coletivas e manteve os movimentos sociais em unidade política para construir uma leitura unidirecional sobre as transformações no campo. Os participantes reuniram os acúmulos da afirmação e fortalecimento da agricultura familiar camponesa de base agroecológica, contrapondo os grandes projetos governamentais em disputa.

“Agora, antes tarde do que nunca se faz necessário e uníssono a discussão da centralidade em torno da questão agrária, atualmente expressa na luta por Terra, Território e Dignidade”, enfatiza a líder do MST de Campina Grande, Dirlei.

“[O Encontro é] Um interesse de todos que clamam por justiça, que acreditam no ser humano e nas transformações sociais estruturantes, como vetores de desenvolvimento para o bem estar e bem viver dos camponeses, sem-terra, pequenos agricultores, atingidos por barragens, quilombolas, povos indígenas”, reforça o coordenador da CPT Sertão, Antonio Cleides.

Durante a plenária, foi realizada uma análise panorâmica dos avanços do agronegócio, da mineração e das trajetórias de lutas, resistências e conquistas da agricultura camponesa, dos povos indígenas e comunidades tradicionais. Posteriormente, foram realizados trabalhos em grupos para uma reflexão sobre os territórios paraibanos. As atividades partiram de experiências sistematizadas, abordando os desafios e resistências apontadas para as regiões do Alto Sertão, Borborema, Cariri, Curimataú, Seridó e Médio Sertão.

A visão histórica nas dinâmicas de desenvolvimento entre os conceitos de Combate à Seca e Convivência com o Semiárido foi outro eixo que animou a plenária. O assessor técnico da AS-PTA, Luciano Maçal, fez uma avaliação das políticas públicas diante do atual período de estiagem e das experiências bem sucedidas da ASA. 

Foram três dias de debates sobre as estratégias de enfrentamento ao modelo hegemônico do agro e hidronegócio criado pelo capitalismo latifundiário, que impulsiona movimentos massivos de migração compulsória para as cidades pólos de concentração da pobreza. O diálogo levantou também a situação das áreas rurais com a ocupação de monoculturas, exploração de minérios e grandes projetos que se mostram excludentes, insolúveis, opressores e predatórios, colocando agricultoras e agricultores numa teia de dependência e subordinação diante da terra, água e semente.

Todos os questionamentos e complementações dos atores sociais mencionaram os imensuráveis danos de projetos que provocam o esmagamento e a desterritorialização dos trabalhadores e trabalhadoras do campo. Especificamente, os participantes apontaram as consequências sociais e ambientais da não realização da reforma agrária, a não demarcação e reconhecimento de territórios indígenas e quilombolas, do aumento da violência, da violação nos territórios dos pescadores, da fragilização da agricultura familiar e camponesa, da sujeição dos trabalhadores e consumidores de alimentos contaminados e do convívio com a degradação ambiental.

A ausência de oportunidades para jovens e mulheres também foi ressaltada no Encontro, avaliando os problemas as desastrosas consequências socioculturais como a masculinização e o envelhecimento do campo.

Luta estadual – o evento foi mais um marco na sequência das lutas e resistências do povo paraibano em busca de emancipação e de uma política distributiva de terra, que seja, de fato, uma política pública.

A força desse momento ganhou grande expressão com a participação de dois professores da Universidade Federal da Paraíba que têm profundo empenho com as causas sociais – Marcos Mitidieiro e Emília de Rodhat. Ambos fizeram uma exposição síntese do avanço do capitalismo: estratégia de auto-organização, conflito e resistência nos territórios.

Mística – O ponto mais elevado e de grandiosa emoção chegava ao seu encerramento quando os participantes entrelaçaram todas as bandeiras, formando uma só. E ainda com o mesmo espírito que move a luta, todos reproduziram um juramento de reafirmação unitária em defesa da reforma agrária.

Esse juramento levou como princípio a Declaração do Encontro Unitário Camponês da Paraíba, um documento político que consagra a mobilização coletiva, apontando encaminhamentos contra as principais formas do avanço do capitalismo, na defesa dos trabalhadores e trabalhadoras do campo paraibano, e na exigência de redirecionamento das políticas e ações do Estado e da esfera federal, diante de campo que não suporta tantos problemas.  Em marcha, todos e todas seguirão no combate ao modelo hegemônico e na construção de uma sociedade justa, solidária e sustentável.

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