Igreja e articuladores do Semiárido clamam por ações

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Cansados de esperar ações públicas para amenizar os efeitos da pior seca dos últimos cinquenta anos, a Igreja Católica e a Articulação do Semiárido (ASA) convocou um novo Fórum do Campo Potiguar para debater e elaborar um documento com propostas a serem apresentadas ao Governo do Estado. No Centro Pastoral Pio X, no subsolo da Catedral Metropolitana, representantes da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do RN, da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do RN, das dioceses de Caicó e Mossoró, além de coordenadores da ASA e do anfitrião Dom Jaime Vieira Rocha se uniram com um único objetivo: encontrar caminhos que retirem o sertanejo do cenário sombrio.

Preocupados com a previsão climática da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), que prevê índices pluviométricos abaixo do normal para os próximos três meses, o grupo reunido resolveu bancar uma nova reunião, após a realizada em abril passado, ocasião em que foi lançada a Carta do Campo Potiguar. Medidas paliativas e definitivas nortearam o encontro inicial.

Segundo o coordenador da ASA, Paulo Segundo, o que foi discutido na manhã desta quinta-feira (31) corre o risco de ser mais do mesmo, ainda que a importância de revelar anseios do homem do campo seja uma obrigação de quem vive a penúria da estiagem.

“Nossa preocupação é grande porque vemos a politização da seca. Estamos discutindo há mais de dois anos com famílias, agricultores, mas, infelizmente, não sentimos o menor interesse do Governo em prestar assistência técnica e realmente tomar medidas que alterem o cenário. Mesmo sem chuva, com rebanhos inteiros morrendo, o agricultor continuar produzindo, buscando alternativas. Só que o apoio está longe do esperado. Criaram o Comitê da seca e não chamaram os órgãos que estão aqui. Queremos políticas públicas definidas”, lamenta Paulo.

Com 45 mil cisternas construídas através de programas federais do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), a ASA atua na vida do sertanejo como um olho clínico quanto às necessidades de cada região. Morador de Pau dos Ferros, Paulo vê o estado crítico em que se encontra a barragem de seu município, no momento com apenas 22,5% da capacidade de volume de água. “E vai piorar, já que a Secretaria de Recursos Hídricos diz que ela suporta atender cidades vizinhas, como Luiz Gomes, onde falta água há mais de um ano. O quadro do Alto Oeste é difícil”.

Já Dom Jaime Vieira adota o ceticismo e a força de valores cristãos neste momento de dificuldade. Ciente do uso que a classe política faz da Indústria da Seca, ele recobra a atenção e clama por atitudes que dignifiquem o nome de Deus usado em períodos eleitorais. “Estamos cansados diante de velhos discursos, sempre contrários aos menos favorecidos. A preocupação da Igreja de mobilizar a sociedade, em defesa dos valores de equidade, se depara com essa realidade gravíssima que nos incomoda com a inércia de políticas públicas consistentes”.

Sem previsão de término para a obra mais alardeada pelo ex-presidente Lula, a Transposição do São Francisco, fica a dúvida quanto ao futuro de uma região localizada em uma zona de influência climática que oscila a cada estação, mas que sempre é atingida por promessas em troca de voto. “Isto é lamentável. A fé usada como moeda de troca em período eleitoral. Com as devidas exceções, eles nem sempre agem com princípios cristãos de justiça social, sensibilidade com os despossuídos”.

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