Mulheres dão visibilidade nacional à luta em defesa da Chapada do Apodi
Mulheres resistem ao “Projeto da Morte” com mobilizações desde 2011 | Fotos: Tárzia Medeiros |
“Lutar e resistir pela Chapada do Apodi!” Com essa frase, cantada e anunciada pelas mulheres camponesas e militantes feministas, as ruas da cidade de Apodi, no estado do Rio Grande do Norte, foram tomadas por bandeiras lilases, tambores retumbantes e faixas coloridas de protesto contra o Perímetro Irrigado que o governo federal, através do Ministério da Integração e do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs), pretende implantar na Chapada do Apodi.
A atividade fez parte da Ação Feminista Internacional da Marcha Mundial das Mulheres. No dia 10 de dezembro, cada país realizou atos durante uma hora, das 12 às 13 horas, perfazendo 24 horas em todo o mundo.
No Brasil, a Marcha Mundial das Mulheres decidiu denunciar o modelo de desenvolvimento predatório e insustentável, que privilegia o agronegócio, expulsa camponesas e camponeses, assim como comunidades tradicionais, de suas terras e territórios.
Um dos projetos que mais evidencia esse modelo tem sido o perímetro irrigado da Chapada do Apodi, cujos territórios estão divididos entre os estados do Ceará e Rio Grande do Norte. Por isso, a luta em defesa da Chapada foi o tema nacional das atividades da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil inteiro.
Cerca de duas mil mulheres, vindas de vários estados e de outros países, se fizeram presentes na cidade de Apodi e declararam sua solidariedade à luta travada em defesa do território camponês.
Representantes das federações, dos movimentos sociais (Movimento dos Trabalhadores sem Terra – MST, Articulação Semiárido – ASA Brasil, sindicatos rurais, movimentos de mulheres, etc) e lideranças locais fizeram falas para fortalecer a representatividade do ato político.
Em novembro passado, o VIII Encontro Nacional da ASA, realizado em Minas Gerais, trouxe a ameaça sofrida pelas comunidades da Chapada para o centro das discussões. No evento, foi aprovada uma moção de repúdio ao perímetro irrigado durante o encontro.
O projeto e os impactos na vida das mulheres
Essas mulheres e suas famílias correm o risco de serem expulsas da terra onde produzem de forma agroecológica. |
O projeto já foi instalado do lado do Ceará, mas as comunidades da Chapada no território potiguar seguem resistindo. Caso seja efetivado, esse projeto vai expulsar cerca de 800 famílias que moram nas 30 comunidades atingidas, e as terras produtivas serão entregues a cinco empresas de fruticultura de exportação.
O projeto, que está sendo chamado de “antirreforma agrária”, irá desapropriar 13.885 hectares, onde as famílias camponesas vivem há muitas décadas e desenvolvem experiências de convivência sustentável com o Semiárido.
Para se ter uma ideia da gravidade e do absurdo da situação, o Governo federal, através do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), desapropriou cerca de cinco mil hectares no Rio Grande do Norte no período de 10 anos para fins de reforma agrária. Mas em benefício do agronegócio, foram desapropriadas quase 14 mil hectares, de uma só vez, numa só canetada.
É evidente o protagonismo das mulheres em todas as experiências camponesas bem-sucedidas nas comunidades da Chapada do Apodi, pois as práticas agroecológicas de produção de alimentos e criação de animais garantem a soberania alimentar e viabilizam a comercialização local. Essa produção representa, hoje, o terceiro maior PIB agropecuário do estado.
O que farão todas essas camponesas e camponeses se forem expulsos de suas terras, já que essas pessoas vivem da agricultura e não têm outra ocupação? Quais serão e sobre quem recaem as consequências por esse dito “projeto da morte”? Todos os perímetros irrigados e muitos outros projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), instalados Brasil afora, trouxeram consigo o aumento da miséria, da prostituição e da violência. São as mulheres as mais afetadas.
Desde o ano passado, as mulheres de Apodi se mobilizam para tentar barrar o projeto do Dnocs. Organizaram oficinas, onde foram escritas cartas para a presidenta Dilma no intuito de sensibilizá-la a não autorizar a obra. Foram realizadas manifestações, audiências públicas. No entanto, nada disso adiantou, pois o governo federal já assinou a ordem de instalação do canteiro de obras.
“Quando as mulheres dizem não, o DNOCS não mete a mão”!
E foi com esse sentimento, de resistir e de seguir lutando, que as mulheres encerraram as atividades. Das 12 horas às 13 horas, elas ocuparam a rodovia que passa em frente a uma das comunidades onde pretendem iniciar as obras e fincaram bandeiras lilases e verdes em toda a extensão da entrada.
Nessas bandeiras, podia-se ler: “Território da Agricultura Familiar Camponesa”. Elas prometem que não vão sair de suas casas e de suas terras de jeito nenhum, e mandam um aviso: “O Dnocs que se cuide, porque nós estamos firmes e fortes pra tirar ele daqui”.
Para mais informações sobre as atividades da Marcha Mundial das Mulheres em outros estados e países, acessar o seguinte link: http://www.24heures2012.info/index.php/es/en-action-photos