No interior, Eduardo cobra ação de prefeitos
Sanharó – Os prefeitos eleitos e reeleitos em municípios atingidos pela seca em Pernambuco terão que arregaçar as mangas para enfrentar o problema e não ficar apenas aguardando as medidas prometidas pelo governo federal. O alerta foi feito ontem pelo governador Eduardo Campos (PSB). “Temos que assumir essa responsabilidade e não correr do problema”, afirmou o socialista na solenidade de entrega da primeira cisterna construída na comunidade do Cajueiro II, distrito deste município. Na avaliação dele, os prefeitos não devem empurrar a estiagem nas mãos do governador e o governador, por sua vez, nas mãos da presidente Dilma Rousseff (PT). “A seca tem que se combatida com tranquilidade, com firmeza, com capacidade de ouvir o povo e, sobretudo, com vontade de fazer.”
O recado do governador foi ouvido por mais de 10 prefeitos da região e alguns prefeitos eleitos na última campanha. Eles também presenciaram o apelo feito por Eduardo na execução do Seguro Safra. Segundo o socialista, cerca de 66 cidades do Agreste pernambucano foram convocadas para aderir ao programa, mas até agora somente 25 o fizeram. “Nós conseguimos junto ao governo federal prolongar a adesão até janeiro do próximo ano. Então, aqueles (novos gestores) que estão chegando façam a adesão”, cobrou. O governador destacou que no Sertão praticamente 100% das adesões já foram feitas.
Uma outra demanda para os prefeitos será a elaboração de um plano estratégico de ações para enfrentar a seca e que o governador pretende deixar pronto até o final de 2013. A ideia dele é elaborar um documento contendo informações e obras que podem ser executadas de forma preventiva para, no futuro, dar às famílias melhores condições de lidar com a estiagem.
Além da construção de reservatórios, adutoras e cisternas, Eduardo também falou sobre outras providências que estão sendo adotadas para ajudar os agricultores. Um delas é a decisão do governo de comprar caprinos e ovinos para evitar que eles sejam “vendidos a preço de banana na feira”. Eduardo disse, ainda, estar preocupado com a ração para alimentar os animais e por isso está cobrando do governo federal a remessa de milho prometida. “Além disso, estamos comparando cana in natura e bagaço de cana para alimentar o rebanho”, anunciou.Em Sanharó »Eduardo Campos leva ações de convivência com a seca ao Agreste
Agricultores relatam prejuízos
A agricultora Sandra Matias foi obrigada a vender parte do rebanho
A realidade enfrentada pela agricultora Sandra Matias da Silva, 35 anos, representa bem o sofrimento das famílias vítimas da seca na região do Agreste pernambucano. Moradora da comunidade Cajueiro II, Sandra foi escolhida para receber a cisterna entregue pelo governador Eduardo Campos na localidade. Uma oportunidade, portanto, para ele ouvir, sentado na pequena sala da casa onde a agricultora vive com marido, Waldir Marcelino da Silva, 35 anos, e a filha de cinco anos, as consequências da estiagem na vida da família.
Há pouco mais de um ano, Sandra era proprietária de 50 vacas. Com os animais, ela conseguia produzir cerca de 200 a 300 litros de leite por dia, na ordenha da manhã e no fim da tarde. Com o prolongamento da estiagem e a falta de dinheiro para alimentar a família e o próprio rebanho, ela foi obrigada a vender 35 animais. “Hoje, estamos somente com 15 e a produção de leite caiu para 40 a 50 litros. A situação está muito difícil”, contou.
O depoimento de Sandra ilustra as declarações do secretário executivo estadual da Agricultura Familiar, Aldo Santos, ao comentar os problemas causados pela falta de chuva na bacia leiteira da região. “Nós perdemos em torno de 50% dos animais nessa bacia. Estamos chegando com água através dos carros-pipa, mas agora o governador anunciou um programa de alimentação com a cana e isso vai evitar que as pessoas vendam os animais”, frisou. Ele estima que, até março, mais de 100 mil toneladas de cana cheguem para atender a agricultura familiar no estado. Já a queda na produção do leite e do queijo, segundo Aldo, chega a quase 30%, especialmente em Sanharó, que tem a tradição da venda do queijo na região.
Apesar da festa para receber o governador, o casal de agricultores Josenildo Cipriano do Nascimento, 50 anos, e Maria dos Socorro Ferreira da Silva, 35, disse não ter muito o que festejar. “As promessas são muitas, mas pouco chega para nós. A água das cisternas é de má qualidade. É ruim até para os bichos”, destacou Josenildo, que luta para manter vivas as 35 ovelhas que restaram das 100 que pastavam em sua propriedade. (R.R.) (Leia mais na página B1)