Salitre protesta contra o descaso do governo do Ceará

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Agricultores vão às ruas reivindicar direito à água | Foto: Carloina Barros

A população de Salitre, na região do Cariri, oeste do Ceará, está inconformada com a situação de descaso com a qual os habitantes estão sendo obrigados a conviver. O drama da falta de água na localidade é um clamor antigo que até então, parece ser ouvido pelas autoridades políticas do estado com indiferença. Somados à estiagem, os efeitos da insuficiência deste abastecimento são responsáveis entre outros prejuízos, pela baixa produtividade na agricultura local e pelo quadro de fome e sede em que se encontram centenas de famílias de Salitre.

Indignada com a demora do socorro, a população decidiu se manifestar e sair às ruas reivindicando providências urgentes. Na última terça-feira, ela se uniu às entidades eclesiais, organizações de movimentos sociais, sindicatos de trabalhadores rurais e ao governo municipal na realização de um ato público com o propósito de cobrar uma resposta do estado quanto à escassez de água.

Neste dia, alunos da rede municipal de ensino não foram à escola. O prefeito da cidade Agenor Ribeiro decretou feriado no município devido à impossibilidade de manter as atividades sem o fornecimento de água. As crianças participaram do movimento carregando cartazes que narravam o caos em que Salitre está e cobravam ações.

Sem água, crianças deixam de ir à escola e se unem ao protesto | Foto: Carolina Barros

“Temos sede! Queremos àgua! Vítimas sim! Coitados não!”, “A água é um direito nosso, é dever do estado!” foram os gritos do levante popular que arrastou centenas de cidadãos salitrenses à mobilização.

O movimento recebeu apoio do Fórum Araripense de Combate a Desertificação, da Associação Cristã de Base, da Rede de Educação Cidadã, dos sindicatos rurais da região do Cariri e da Cáritas Diocesana de Crato. O bispo diocesano Dom Fernando Panico participou do ato e se solidarizou com a causa.

Ele elaborou uma carta, na qual descreveu os males provocados pela indústria da seca e se prontificou junto às paróquias da Diocese a arrecadar e doar alimentos não perecíveis aos mais necessitados no próximo domingo. No mesmo documento, Dom Fernando solicitou ainda uma audiência pública com o governador Cid Gomes.

“Sem água não pode existir saúde, educação, bem estar, nem desenvolvimento do nosso povo. Não é possível que pelo sofrimento de multidões, haja esta afronta das políticas da indústria da seca” declarou Dom Fernando.

A cidade de Salitre foi contemplada esta semana com o selo Unicef. O município  concentra a maior produção de mandioca do Ceará, com 92 casas de farinha que vinham em funcionamento, mas a atividade vem sendo prejudicada assim como os demais cultivos.

Nas comunidades rurais de Veneza, Cachoeira e Serra dos Nogueiras a falta de água tem provocado a morte de animais e impossibilitado o plantio. Nestas localidades, a água chega através de carros-pipa particulares, onde é comercializada.

Durante o encontro, foi ressaltada a importância da luta dos movimentos sociais pelo acesso à água, como direito vital e bem natural comum que deve estar disponível ao povo.

“A população deve reivindicar o que lhe é de direito. Quando gritamos juntos, podemos conseguir tudo o que queremos. Através desta ação coletiva esperamos que a água seja direito de todos”, disse  padre Vileci.

O prefeito da cidade, Agenor Ribeiro, se comprometeu a buscar medidas concretas por parte das autoridades competentes. “Temos que ajudar o povo que merece e que também faz parte do estado. Só dessa forma será possível resolver o problema, vamos à luta para fazer com que a água chegue até as torneiras de Salitre e as comunidades rurais.”

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