“O problema do Semiárido não é o clima. É a estrutura econômica e social”

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Seguindo com as reportagens da Série Seca, o Centro Sabiá conversou com a socióloga e economista Tânia Bacelar. Tânia é professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e foi consultora do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA para apoio aos Planos de Desenvolvimento Sustentável dos estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Ela nos fala sobre a estrutura econômica e social presente no Semiárido nordestino, além das políticas públicas e das medidas que podem melhorar convivência das famílias com a seca.

Centro Sabiá – Convivência com o Semiárido ou Combate à Seca?

Tânia Bacelar – Convivência com o Semiárido, sem dúvida. O fato climático vai acontecer sempre, é da natureza. Ele não é o problema, o problema é a estrutura econômica e social que está montada nessa região: da grande propriedade pecuária. A maioria dos pequenos produtores não tinha terra; trabalhava dentro do latifúndio em um contrato de parceria. Nos anos bons, produziam, mas não guardavam nada, porque esse modelo não permitia que eles guardassem. Hoje, procuramos remontar estruturas que possam permitir às pessoas produzirem e acumularem, para que tenham como sobreviver nos anos de seca.

Centro Sabiá – É complicado realizar políticas públicas para mudar a estrutura econômica no Semiárido?

Tânia Bacelar – Não, não é complicado. O grande bloqueio é a estrutura fundiária, porque a grande maioria das terras continua na mão dos grandes proprietários. Mas a gente já tem lugares que superaram. Tem seca, mas as pessoas produzem e acumulam; podem guardar alguma coisa para passar o ano em que a produção não seja tão boa. É isso que a gente chama conviver com a seca.

Centro Sabiá – Que avaliação podemos fazer sobre a atuação estatal no momento de seca?

Tânia Bacelar – Eu acho o governo ainda tímido. O federal, e mesmo os estaduais. A gente necessita se preocupar com populações inteiras que ainda estão sendo abastecidas por carros-pipa, por exemplo. O governo foi muito modesto nas cisternas. Mas também existem outras iniciativas produtivas. O seguro-safra, por exemplo, eu acho que é uma medida importante. Outra coisa que tem acontecido no Semiárido é que parte da população foi para a área urbana. Então é preciso encontrar estímulos econômicos nas áreas urbanas.

Centro Sabiá – Nesse cenário, qual o desafio da sociedade civil para lutar por melhores condições econômicas no Semiárido?

Tânia Bacelar – Identificar atividades econômicas que convivam com o Semiárido, que dialoguem bem com a natureza e que criem vida permanente para as pessoas. A gente tem que aproveitar o fato de o algodão ter desaparecido e isso ter desmontado, de uma certa maneira, o velho tripé pecuária-agricultura de subsistência-algodão para montar uma outra estrutura que tem que ser diversificada, olhando para o potencial de cada lugar, porque o Semiárido não é um só.

Fonte: Centro Sabiá, por Daniel Lamir, com colaboração de Sara Brito (Centro Sabiá)

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