Tinha uma horta no Alemão

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Rio de Janeiro – Assim que os visitantes chegaram, o pequeno Michel Souza dos Santos, 6 anos, tratou de chamar a atenção para o seu mais recente feito. “Tia, vem ver a minha mini-horta. Plantei na semana passada. Olha como está bonita”, convidou. Em potinhos de plástico, havia mudas de feijão e hortaliças. Mas nem todas serviriam para comer. Pelo menos, segundo Michel. “Só como as folhas e o tomate porque o feijão é mágico. É para crescer uma árvore cheia de moedas”, garantiu. Tem razão. O que é plantado na horta da comunidade Sérgio Silva, na Serra da Misericórdia, reserva ecológica em pleno Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, tem a magia de melhorar vidas.

Há dez anos, cerca de 20 famílias da localidade estão conseguindo se alimentar melhor graças ao que é colhido na horta comunitária e às aulas de educação ambiental e nutricional promovidas pela ONG Verdejar, responsável pelo projeto no morro. A ideia de cultivar uma horta no Complexo do Alemão partiu de Luís Poeta, um dos fundadores da Verdejar, falecido no ano passado. A proposta era que os canteiros servissem para evitar a expansão do morro. A funcionalidade da horta superou o plano.

“Ela se tornou uma ferramenta de conscientização dos moradores que aprenderam a ter uma alimentação mais saudável e a consumir de forma mais sustentável”, destacou o coordenador da ONG Zolmir da Silva Figueiredo. No local, há um pequeno pomar e seis canteiros com hortaliças. O cultivo é feito por jovens e crianças da comunidade. A produção é artesanal e dispensa agrotóxicos. “Produzimos nosso próprio adubo a partir da compostagem do lixo orgânico. Todos os meses, fazemos um mutirão para o plantio de mudas, colheita e construção de cercas”, explicou Figueiredo. Compostagem é uma técnica que evita a decomposição do lixo.

A dona de casa Rosely Marques, 45, aprendeu a aproveitar partes dos alimentos que antes eram descartadas e a tornar as refeições da família mais saudáveis. “Depois da horta, estamos comendo melhor. E passei a conhecer os nutrientes e, agora, quase nada é jogado fora”, contou.

Na semana da Rio + 20, o projeto da horta comunitária ganhou ainda mais fôlego. Representantes da ONG Articulação no Semi-Árido (ASA), ONG atuante no Sertão nordestino, construíram no morro carioca uma cisterna para captação da água da chuva. Foi o legado que a entidade quis deixar para o Rio.

“A comunidade queria aumentar a horta mas não tinha acesso à água potável e barata. Agora, terá 80 mil litros de água por ano e de graça, mais que suficiente para garantir a soberania alimentar dos moradores e aumentar a renda ”, avaliou o coordenador da ASA de Pernambuco Mário Farias.

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