Da terra brota a felicidade
Ele tem 52 anos. Desde os 8 trabalha na terra dos outros e para os outros. Foi, entretanto, em 2004 que o agricultor José João de Souza conseguiu nas terras secas onde morava com a esposa no município de Afogados da Ingazeira (Sertão do Pajeú do estado de Pernambuco, localizado a 386 quilômetros do Recife) plantar, cultivar e colher o que é seu.
Com a ajuda de técnicos em agricultura agroecológica da ONG Diaconia, seu José João aprendeu técnicas de irrigação e tem hoje plantadas na sua propriedade, de pouco mais de 1 hectare, trinta variedades de frutas e diversas hortaliças. Participa toda semana da feira agroecológica de Afogados da Ingazeira e de Tabira, trabalha dez horas por dia e se diz feliz. ”Isso o que eu estou vivendo é bom demais! Não existe nada melhor”, garante. A alegria de seu José João tem razão de ser: ele passou a contar com o que, no ciclo de debates intitulados Diálogos e ocorrido na Rio+20, foi definido como segurança alimentar e nutricional. Algo essencial para a construção de um planeta sustentável.
Com um enorme sorriso no rosto, recebeu a equipe de reportagem abrindo um coco para cada um dos integrantes. “Não é só no litoral que tem coco bom, não. Aqui também tem e eu quero que vocês experimentem”, sugeriu, todo orgulhoso da produção.
O agricultor lembra com tristeza de como era o terreno que hoje é verde e florido. “Aqui antes era coberto de jurema preta”, diz, com olhar triste, como se voltasse no tempo por alguns instantes. A jurema preta é uma espécie nativa que não dá fruto, mas cuja plantação precisa ser mantida ao lado das árvores frutíferas e das hortaliças para evitar a erosão do terreno.
Palestras
Com tanto verde em casa, o agricultor percebeu que também podia produzir mel. As três colmeias que possui lhe garantem de oito a dez litros por ano. “A falta de chuva sempre diminui toda a produção. Com as cisternas e a irrigação, neste ano estou conseguindo produzir 25% do que produzo em ano bom”.
Também assessorado pela Diaconia, José Ivan Monteiro Lopes, de Tuparetama, município que fica a 390 quilômetros do Recife, localizado no mesmo Sertão do Pajeú, até convites para palestras recebe desde que passou a ser exemplo de agricultor agroecológico na região.
Começando em 2000 a trabalhar com técnicas de irrigação chamadas de gotejamento e microaspersão (sistema de irrigação por meio de microtubos), Ivan dobrou o tamanho de sua propriedade, de 6 para 12 hectares, passou a produzir 35 espécies de fruta, uma grande variedade de hortaliças, mudas de plantas nativas e frutíferas, mel, construiu uma unidade de beneficiamento de polpa de frutas e está participando dos programas de Aquisição de Alimento (PAA) e Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
Multiplicação das espécies
As mais graves consequências da seca no semiárido brasileiro – a fome e a desnutrição – são o principal alvo das ONG’s que propagam e fomentam novas técnicas de agricultura irrigada no Sertão nordestino. Muitas delas, inclusive, exibiram suas experiências na Cúpula dos Povos – evento paralelo ocorrido na Rio+20 entre os dias 13 e 21 de junho, a organizado pela sociedade civil e movimentos sociais de vários países do mundo.
A agricultura agroflorestal ou agroecológica, prática debatida por ONG’s como a Diaconia no evento da ONU, foi adotada pelo agricultor José João da Souza. Nela, o produtor introduz no solo grande variedade de espécies alimentícias ao lado das nativas e permite a convivência harmoniosa entre ambas. Evita, assim, a erosão do solo e leva uma variedade de alimentos para a mesa de casa maior e suficiente para garantir a segurança alimentar de toda a família.
A agricultura agroecológica é uma proposta alternativa de agricultura familiar socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável, das mais incentivadas nos tempos atuais. Trata-se de um sistema de produção que permite colheita o ano inteiro, uma vez que trabalha com 60 tipos de cultura. Quando está na entressafra de umas, está na safra de outras.
Os programas do governo federal de Aquisição de Alimentos (PAA), Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) também têm sido importantes mecanismos para viabilizar o escoamento do excedente na produção, que passou a existir no Agreste e Sertão, dizem as ONG´s.