Complexo do Alemão ganha cisterna
No alto da Serra da Misericórdia, no Complexo do Alemão, o encontro de uma pernambucana e um carioca resultou na primeira cisterna de placas para captação de água da chuva da cidade do Rio de Janeiro. O reservatório foi entregue na manhã desta quarta-feira (20).
A experiência para construção do reservatório veio do Rio Grande do Norte, pelas mãos de Linda Inalva, 27 anos. “Vim do Nordeste para cá pra capacitar um pedreiro, mas, pelo curto tempo, além de ensiná-lo, ajudei a construir a cisterna”, disse a jovem, que mora na área rural de Barreira Vermelha, município de Mossoró.
Com a ajuda de voluntários da comunidade Sérgio e Silva, na Serra da Misericórdia, e do pessoal da ONG Verdejar, a equipe concluiu o trabalho depois de quatro dias com a mão na massa, subindo e descendo o morro que dá acesso à Horta Floresta.
“Como o terreno é muito íngreme, as placas foram construídas na parte de baixo da rua que dá acesso à Horta Floresta”, conta Eduardo Cavalcanti, pedreiro de 31 anos que mora na comunidade e foi capacitado por Linda.
“Depois disso, tínhamos que levar as placas morro acima e ir assentando no buraco cavado para construir a nossa cisterna.”
Um dos coordenadores da ONG Verdejar, que atua desde 1997 na recuperação e preservação da floresta na serra, aliado ao investimento sustentável em produção de hortaliças, Zolmir Figueiredo disse que há períodos de falta de água no Rio de Janeiro, apesar da grande quantidade de chuva que cai sobre a cidade anualmente. “Já ficamos até 60 dias sem água aqui na comunidade Sérgio e Silva.”
Mobilização
Para ele, a implantação da cisterna contribuirá não somente para preservação e como insumo básico para o cultivo das hortaliças, mas também para mobilização social. “Esta horta serve como ferramenta para conscientizar moradores a respeito da alimentação saudável, do consumo consciente e da produção orgânica.”
Figueiredo espera que a cisterna incentive os moradores da comunidade a ter horas em suas residências. “Eles podem se interessar e perceber que também devem cultivar no quintal das suas casas. A ideia é que a comunidade possa se apropriar cada vez mais do desenvolvimento sustentável. Agora, com a cisterna, vai melhorar muito nossa produtividade.”
De acordo com o coordenador-geral de Acesso à Água do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Igor Arsky, a instalação da cisterna no morro pode dar bons resultados. “Essa ideia de construir a cisterna no morro é fantástica. Trazendo essa tecnologia do Semiárido para o Rio de Janeiro, o MDS vai acompanhar atentamente essa experimentação.”
A cisterna, usado para acumular água da chuva no Semiárido, foi replicada no Complexo do Alemão em decorrência de uma ação da Articulação no Sem-Árido (ASA), em parceria com a Fundação Banco do Brasil (FBB) e a Associação Verdejar, na Cúpula dos Povos, evento paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.
O coordenador da ASA no estado do Rio Grande do Norte, Procópio Lucena, destacou que a cisterna é uma tecnologia social de baixo custo integrada a lógica das comunidades. “Elas geram liberdade e não dominação. A água é a centralidade da vida, dos processos sociais, em qualquer parte do mundo. No Semiárido, em particular, há uma caminhada para melhorar a qualidade de vida a partir da experiência e do saber popular. Alternativas mais simples como essa que fazemos podem gerar maiores resultados. O que inauguramos hoje no Complexo do Alemão é resultado mais concreto do que podemos deixar num evento como a Rio+20.”
Com informações do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e de Raphael Rocha