Juventude vinda de todas as partes promete politizar o evento
O movimento dos “ocupa” que tomou corpo no ano passado, nos Estados Unidos e na Europa, inspirado na “Primavera Árabe”, pode ganhar nova versão. Dessa vez, as barracas serão montadas sob o clima tropical, no Hemisfério Sul, durante a Rio+20, quando acontece, de 15 a 23, no Aterro do Flamengo, a Cúpula dos Povos, evento da sociedade civil.
A multiplicidade cultural vai dar o tom aos protestos e decisões que deverão ser tomadas. Simbolicamente, povos do mundo inteiro – integrantes dos movimentos sociais, estudantes, jovens, índios, povos quilombolas – estarão representados para fazer um evento paralelo.
É que as posições políticas e ideológicas dos integrantes da Cúpula divergem um pouco das opiniões que serão compartilhadas pelos chefes de Estado que estarão reunidos no Rio Centro. De diversas partes do Brasil estão saindo caravanas e mais caravanas para participar da Cúpula dos Povos, acontecimento que promete esquentar, ainda mais, as discussões em torno da Economia Verde.
Os integrantes da Cúpula, cuja maioria são jovens, prometem levar a discussão política ao encontro. Entre ocas, barracas e abrigos improvisados, a diversidade cultural promete colorir e deixar os debates mais diversificados. Embora a preocupação central seja a vida do Planeta, eles buscam um novo encantamento, já que crise econômica mundial e o desemprego estão tirando as esperanças da juventude, sobretudo, na Europa.
Contribuição cearense
E o Ceará vai estar presente no Aterro do Flamengo para mostrar as suas contribuições para a melhoria da vida no Planeta. Integrantes de Organizações Não-Governamentais (ONGs), entidades e representantes da sociedade civil organizada participam das discussões que permeiam a Conferência.
Representantes de entidades cearenses vão levar experiências para o Rio de Janeiro nas áreas de protagonismo juvenil, com trabalhos que a juventude rural realiza em Itapipoca, políticas sociais, tecnologias sociais, de gênero e desenvolvimento.
Cristina Nascimento, coordenadora do colegiado do Centro de Estudos ao Trabalho e Assessoria do Trabalhador (Cetra) explica que a entidade vai participar de rodadas de diálogo sobre juventude rural e meio ambiente. O trabalho vai contar com a participação de outras instituições, citando a Diaconia, Associação Caatinga e Centro Sabiá, entidades de Pernambuco.
A organização integra a rede de articulação que trabalha com a Agroecologia, explica. “O enfoque do trabalho é a juventude”. O objetivo é criar nos jovens o desejo de viver e trabalhar no seu lugar de origem, evitando as migrações que aconteceram no Ceará, nos anos 1970.
Assim, a entidade articula a ida para o Rio de Janeiro de 13 jovens que irão discutir sobre o papel da juventude no debate sobre o meio ambiente. “A proposta é realizar um diálogo com a juventude durante a Cúpula dos Povos sobre o meio rural”, reforça.
Trata-se de exposição fotográfica sobre o trabalho que realiza com a juventude rural de Itapipoca. O Cetra faz parte da Articulação no Semiárido (ASA), entidade que integra o comitê gestor da Cúpula dos Povos.
A programação inclui, ainda, a realização de debates e mesa com sociedade civil, organizada pela Fundação Avina. A exposição conta com o incentivo da Fundação Itaú e vai circular pela Cúpula dos Povos.
Novo momento
A Rio+20 acontece no momento em que o Semiárido passa por uma das piores estiagens dos últimos 40 anos. Para chamar a atenção da população sobre a importância do uso das tecnologias sociais, a exemplo das cisternas de placa, serão montadas dois equipamentos no Rio de Janeiro.
Uma cisterna vai funcionar na comunidade da Rocinha e, a outra, no Morro do Alemão. A intenção é mostrar ser possível a captação de água da chuva, mesmo na zona urbana, tanto para o consumo humano, quanto para a produção de alimentos. A finalidade é “incentivar a agricultura urbana para aumentar a produção de alimentos”, afirma Cristina Nascimento, que vai participar de seminário sobre políticas públicas e tecnologias sociais.
Gênero
Outra entidade que também marca presença na Rio+20, o Centro de Pesquisa e Assessoria (Esplar), vai levar para o centro das discussões em torno do meio ambiente, as questões de gênero e desenvolvimento.
A diretora-presidente do Esplar, Magnólia Azevedo Said, assina o artigo “Gênero e Desenvolvimento”, que faz parte de livro publicado pela Fundação Boell, da Alemanha, que integra a Rede Jubileu que discute o problemas das dívidas nas Américas.
“O artigo foi traduzido”, explica Magnólia, completando que o trabalho mostra a visão que o Esplar tem sobre gênero. Ou seja, “como as mulheres são vistas pelo modelo de desenvolvimento, hoje, no Brasil”.
Programação
Cúpula dos Povos (15 a 23/06)
Três tipos de atividades
As atividades autogestionadas de articulação deverão realizar discussões, promover reflexões e fazer propostas que serão reunidas nas plenárias de convergências
Plenárias de Convergências
Plenária 1 – Direitos, por Justiça Social e Ambiental
Plenária 2 – Defesa dos Bens Comuns Contra a Mercantilização
Plenária 3 – Soberania Alimentar
Plenária 4 – Energia e Indústrias Extrativas
Plenária 5 – Trabalho: Por uma Outra Economia e Novos Paradigmas de Sociedade
Objetivo – As Plenárias de Convergência devem acumular debates para a Assembleia dos Povos, espaço central da Cúpula onde serão definidas as lutas, ações e práticas para depois da Rio+20.
1.Como consta na grade de programação do evento, a Assembleia dos Povos será dividida em três eixos temáticos: Denúncia das causas estruturais das crises, das falsas soluções e das novas formas de reprodução do capital
2.Soluções e novos paradigmas dos povos
3.Agendas, campanhas e mobilizações que articulam os processos da luta anticapitalista pós-Rio+20
Territórios do Futuro – São espaços onde serão demonstradas soluções para as diversas crises globais a partir dos povos do Planeta. Neles, serão reunidas experiências demonstrativas, práticas, espaços de troca de saberes e educação popular que mostrem aos participantes da Cúpula e à sociedade caminhos para a construção de um Planeta com justiça social e ambiental
Territórios – Aterro do Flamengo e outros locais Rio de Janeiro
Lei mais firme pode evitar desmatamento
O ex-presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e membro do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), Bazileu Margarido, defende a adoção de medidas “mais fortes para conter o desmatamento e as queimadas, principalmente na Amazônia, já que essa ação danosa é a principal causadora da emissão de gases de efeito estufa no País, ao contrário da maior parte das outras nações, onde é a queima de combustíveis fósseis o principal vilão do aquecimento global”.
Conforme Bazileu, por conta dessa realidade nacional é que, a partir de 2008, quando o governo adotou medidas em defesa da Floresta Amazônica, as reações começaram. “Desde que, por meio de uma medida provisória, aconteceu o aumento da reserva amazônica para 80%, parcela do agronegócio começou a se articular no Congresso Nacional para mexer no Código Florestal”.
Dentre as medidas que causaram insatisfação, Bazileu destaca a responsabilização de toda a cadeia produtiva envolvida no desmatamento ilegal: “O comprador da madeira é tão responsável quanto quem derruba e vende. Outra decisão muito importante foi a inscrição dos infratores no cadastro ambiental rural, impedindo-os de acessar o crédito. O Brasil quer reduzir em 80% o desmatamento até 2020, conforme compromisso assumido nos fóruns internacionais”.
Energia limpa
Bazileu, um dos principais palestrantes do Seminário Rio+20 Serviços Ambientais e Cidades Sustentáveis, promovido pela Secretaria do Meio Ambiente de Fortaleza (Semam) nos dias 28 e 29 de maio último, enfatizou também a necessidade de se investir mais em energia limpa.
“A matriz energética brasileira é invejável. Usamos nada menos do que 46,3% de energia limpa, como cana de açúcar, hidráulica, solar e biomassa. No que diz respeito à eólica, é de grande importância por conta da complementaridade em relação à hídrica pois, se não chove, venta. Precisamos lutar para que a energia fóssil não se expanda. E isso só é possível investindo em fontes limpas”, assegura.
Energia e Floresta
46% da matriz energética brasileira é hoje constituída por meio de fontes limpas, como energia eólica, solar e biomassa, inclusive cana-de-açúcar e hidráulica
80% é a meta assumida pelo Brasil nos fóruns internacionais de redução de desmatamento, principalmente na Floresta Amazônica, até 2020