IRPAA, ASA e Agendha são algumas instituições que atuam no semiárido
No Ação (clique aqui para assistir ao programa) deste sábado, a equipe do programa visitou o semiárido brasileiro, região onde a seca sempre foi motivo de preocupação. Ao entender que ela é um fenômeno natural e por isso não pode ser modificada, instituições do terceiro setor resolveram criar soluções para aproveitar melhor a água de forma que ela possa servir tanto para o uso básico, como consumo e uso higiênico, quanto para ser usada na produção de alimentos, fonte de sustento da população dos nove estados desta região.
Cisterna de cimento construída em Pernambuco
(Foto: Divulgação) Há vinte e dois anos o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA) teve início com a chegada de voluntários de outros países, entre eles técnicos de agropecuária a fim de perceber a viabilidade de utilizar o semiárido para a plantação. Nesta época, foram testadas técnicas de captação de água com o objetivo de transformar o cenário da seca em algo favorável para a região. Desde então, o IRPAA foi se constituindo como uma Organização Não Governamental e passou a prestar assistência técnica aos produtores locais estimulando a agricultura familiar, a criação de animais, valorizando a caatinga para alimentação dos animais e ensinando técnicas de plantio não agressivas ao solo.
Como forma de transmitir conhecimento sobre o melhor modo de aproveitar o solo e a água, o IRPAA criou a antiga Escola de Formação de Lavradores, agora denominada Escola de Formação para Convivência do Semiárido. A prioridade é atender os produtores das comunidades rurais do Piauí, Alagoas, Bahia, Recife, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe. Desde o início, já foram formadas vinte e uma turmas, com uma média de cinquenta pessoas cada.
Seu Alcides Peixinho Nascimento vive na comunidade do Ouricuri, em Pernambuc,o e trabalha há cinquenta anos como produtor rural. Ele foi convidado por um dos parceiros do IRPAA a participar da escola. Depois de assistir às aulas, trouxe seu filho e participou de um curso de formação de lideranças também oferecido pela ONG em julho de 2010. Seu Alcides continua cuidando de sua propriedade, cultivando principalmente o mandacaru, sendo, inclusive, produtor referência nesse tipo de prática. Além disso, faz manejo adequado do solo e tem um pequeno criatório de animais. “O curso me ajudou muito no aprendizado das técnicas agrícolas. Depois disso passei a plantar umbu, manga, goiaba, frutas que antes não tínhamos o domínio do plantio e que atualmente utilizamos na fabricação de geleias, produtos que exportamos e nos garantem alguma renda”, explica Alcides.
Os cursos estão dentro dos projetos de financiamento nacional e internacional com parceiros variados. Há diversos formatos. Um deles funciona em um período curto de três a cinco dias para agricultores de áreas irrigadas (em áreas de rio) ou áreas de sequeiro (onde só se planta em época de chuva porque não tem nenhum rio). Para cada tipo de localização, um curso diferente. O IRPAA também acompanha empreendimentos coletivos como o cooperativismo.
Curso de gestão de recursos hídricos (Foto: Divulgação/ Eduardo Queiroga)
Também atuando na região, a Articulação no Semiárido (ASA Brasil) trabalha pela democratização da água, batalhando por uma infraestrutura hídrica próxima à casa de cada família que convive com a seca. A construção de cisternas que coletam água da chuva é o principal foco da ASA, que fez cálculos do tamanho do telhado ideal para preencher a cisterna através da água que cai em canaletas. A partir disso foram criadas cisternas de dezesseis mil litros, capazes de armazenar água para até oito meses, o período anual comum de estiagem do semiárido. Feitas com cimento, as cisternas são de baixo custo, fáceis de fazer e envolvem a família na construção. A ASA trabalha para que a cisterna seja uma conquista e não um favor.
Dentre as ações executadas pela organização, o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1 +2) e o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) são os mais importantes. O primeiro procura fomentar a segurança alimentar e a geração de emprego e renda entre as famílias agricultoras, através do acesso e manejo sustentáveis da terra e da água para produção de alimentos.
População que participou do P1MC (Foto: Divulgação/ Roberta Guimarães)
O 1 significa terra para produção e o 2 corresponde a dois tipos de água – a potável, para consumo humano, e água para produção de alimentos. Este programa já capacitou 24.566 famílias com a construção de 9.770 cisternas do tipo calçadão, onde a água da chuva é armazenada para ser utilizada em hortas, plantio e criação de animal. Já o P1MC procura democratizar a água para beber e cozinhar, através das cisternas de placas. Juntas, elas formam uma infraestrutura descentralizada de abastecimento com capacidade para 16 bilhões de litros de água. Foram criadas 380.988 cisternas, uma para cada família, beneficiando 1.904.940 de pessoas. Paralelamente aos programas, a ASA dá um curso de gestão de recursos hídricos para que as populações saibam aproveitar melhor a água armazenada nas cisternas.
Dona Vanuzia Rodrigues Cerqueira moradora da comunidade de Viração, no município de Serrinha, na Bahia participou do curso de capacitação no ano passado e de lá para cá muita coisa mudou em sua vida. “Só em deixar de carregar água na cabeça já foi uma grande mudança. A gente caminhava quatro quilômetros para poder pegar água em um açude do governo. Com a criação da cisterna a gente passou a fazer horta, temos pés de feijão de corda e hortaliças que ajudam no nosso sustento. Aprendemos a utilizar a água que lavamos louça para fazer a molha das plantas. Mas não são todas as famílias que têm benefícios. Os critérios para a criação de cisterna limitam a população local. Aqui onde vivo há mais de dez famílias que volta e meia ficam sem água na torneira apesar de pagarem uma taxa de R$ 100,00 mensais para tê-la” explica.
A ASA também participa do Programa Nacional de Alimentação Escolar que dentre suas determinações garante que 30% da merenda escolar sejam comprados de produtores rurais locais movimentado bastante o mercado de agricultura familiar.
Outra ONG que também atua no semiárido, a Agendha desenvolve o projeto Nutre Nordeste, também atuante no fortalecimento aos agricultores familiares. Ela faz um acompanhamento para que eles fiquem aptos a vender artigos para a merenda escolar . Produtos da biodiversidade brasileira como umbu, mangaba, além de gêneros animais como o caprino foram inseridos na alimentação escolar no sertão de Pernambuco. Em relação à questão da água, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a Agendha trabalha com a implantação de cisternas e barragens subterrâneas cuja água é utilizada a para agricultura.
Ticiano Oliveira, coordenador técnico da Agendha, explica que a atuação da ONG se dá através de multiplicadores: “É um papel de divulgação que nós chamamos de educomunicação. Durante doze meses nós formamos agentes de cidadania das águas, que são pessoas líderes em suas comunidades, e que repassam as informações. Isso aconteceu nos municípios de Paulo Afonso, Curaçá, na Bahia, e Delmiro Gouveia, no Alagoas”, conta.