Cisternas mudam a realidade dos brasileiros que vivem no semiárido
Uma das formas usadas para se guardar e tratar água, na verdade uma das mais antigas delas, é o armazenamento em cisternas. Em Juazeirinho, município da região do Cariri da Paraíba, apresentado na série “O Bem Comum” do Globo Ecologia, a seca começou a melhorar depois da construção das cisternas. No início, as famílias dividiam a água de uma única cisterna, mas depois os moradores começaram a ganhar seus próprios reservatórios. José Manuel foi o primeiro morador a receber uma cisterna.
“Essa construção foi muito importante para a nossa comunidade. A gente reuniu um grupo de dez famílias e começou a trabalhar em mutirão, um ajudando o outro”, conta o agricultor.
Tanto José Maciel quanto os quanto os outros foram treinados e capacitados para construir as cisternas. O ano era 1993. Apenas com areia e cimento, os moradores de Juazeirinho construíram cisternas que funcionam até hoje.
Programas que beneficiam com cisternas
O programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) e o programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) têm a construção de cisternas como objeto. Ambas são ações do Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido, realizadas pela Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. O público-alvo dos programas são as famílias de baixa renda da zona rural de municípios do semiárido brasileiro, que não contam com fonte de água ou meio suficientemente adequado de armazená-la. Engrossam a lista também as famílias que possuam renda per capita familiar de até meio salário mínimo ou, no caso dos idosos, renda total da família de até três salários mínimos, devendo ser priorizadas aquelas enquadradas nos critérios de elegibilidade do Programa Bolsa Família (PBF).
“Os programas têm a preocupação de cuidar da água de beber, da água para a produção e para os animais. O P1MC quer levar uma cisterna para cada família, para catar água de chuva através do telhado. A ideia é, a partir do impacto desse trabalho, fazer o P1+2, um programa que pensa a terra e o acesso a água, ensinando às famílias como elas podem aproveitar melhor a terra e se inserirem no programa de reforma agrária, pensando a questão da água. Nesse programa, temos trabalhado, além das cisternas, as barragens subterrâneas, a construção de tanques de pedra e outros”, explica José Camelo da Rocha, assessor técnico e coordenador do Programa de Recursos Hídricos da AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia.
Para construir uma cisterna, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) investe uma certa quantia, além de materiais de construção. As famílias beneficiadas também recebem capacitação para gerir os recursos hídricos e para conviver com o semiárido.
O processo de construção da cisterna passa por oito etapas: escavação do buraco; fabricação das placas a partir da lavagem da areia e da mistura com o cimento, sendo que são quatro latas de areia para cada uma de cimento; fabricação dos caibros, feita com massa de concreto com vergalhão retorcido com um gancho na ponta, com duas latas de areia, duas de brita e uma de cimento (areia grossa), além de quatro tábuas de 1,30m comprimento, 6cm de largura e 2 a 3 cm de espessura, 17 varas de vergalhão de ¼ de polegadas; levantamento das paredes com esse material; encaixe da cobertura; colocação do sistema de captação, ou seja, na entrada da cisterna, deve ser colocado um coador para evitar o ingresso de sujeira ao seu interior; retoque e acabamentos, que consistem na construção de uma cinta de argamassa para juntar os caibros à parede da cisterna; e instalação da bomba manual.
Cisterna pronta, é hora de tratar a água, com hipoclorito de sódio, um composto químico usado como desinfetante e agente alvejante. São duas gotas para cada litro de água.
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