Nordeste distribui mais água e trata mais esgoto, mas é pouco
Praia de Tambaú, em João Pessoa: Paraíba é um dos Estados que se destacam positivamente no estudo sobre saneamento
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou nesta quarta-feira (19) o Atlas de Saneamento 2011. O mapeamento tem como base a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB 2008), divulgada em agosto do ano passado. O raio-x sobre a qualidade e abrangência dos serviços de saneamento mostra que a região Nordeste avançou no abastecimento de água e na cobertura da rede de esgoto. Contudo, esse avanço é considerado lento quando comparado ao ritmo apresentado pelas demais regiões desde a última pesquisa, realizada em 2000.
Esse fenômeno pode ser observado no serviço de abastecimento de água por rede geral de distribuição. Dos 180 municípios sem o serviço de abastecimento em 1989, metade estava na região Nordeste. Em 2000, apesar do número de municípios nessa condição ter caído para 116 em todo País, os estados nordestinos ainda representavam 56% desse total. Em 2008, dos 33 municípios sem abastecimento no Brasil, 21 estavam no Nordeste, o que soma 63,3%.
Isso significa que o Nordeste conseguiu, em números totais, diminuir o problema do serviço de abastecimento de água por rede geral de distribuição. Porém, não obteve a evolução observada nos Estados das demais regiões. O número de municípios totalmente carentes desse serviço tenha diminuiu na região, mas houve, de 2000 a 2008, aumento de seu peso proporcional.
Segundo o estudo, esse quadro indica que, “embora no Nordeste tenha havido uma mobilização de recursos no sentido da expansão das redes de abastecimento de água, esta, entretanto, não acompanhou o ritmo das demais regiões do País”.
O Atlas do Saneamento 2011 mostra ainda que a PNSB 2008 identificou 793 municípios brasileiros com apenas uma parte de seu território suprida pela rede geral de abastecimento. Somados aos 33 que não dispõem de redes, um total de 826 municípios são abastecidos, em parte ou totalmente, por formas alternativas de obtenção de água como carro-pipa, chafariz ou poços artesianos.
De acordo com o mapeamento, o Nordeste é a região que apresenta a maior proporção desses municípios, com 30,1%. O número é superior ao dobro da proporção verificada no conjunto do País. Na região, 58% de municípios com essa carência estão situados no Estado do Piauí, 35,9% no Estado do Ceará e 30,4% no Estado do Maranhão.
Além da existência da rede geral de abastecimento, a pesquisa levou em conta o volume de água per capita distribuída por rede geral. No ano de 2008, foram distribuídos diariamente, no conjunto do País, 320 litros por pessoa. Essa média, entretanto, variou bastante entre as regiões. Enquanto no Sudeste o volume distribuído alcançou 0,45m3 (450 litros) per capita, o Nordeste não chegou à metade dessa marca. A média apresentada foi de 0,21 m3 (210 litros) per capita. O comparativo indica que o volume total aumentou em todas as regiões do País, em comparação aos números apresentados pela PNSB 2000. Contudo, as diferenças regionais permaneceram praticamente inalteradas.
O Atlas ressalta obras de implantação e extensão da rede de abastecimento de água e de coleta de esgoto em pequenos municípios rurais da bacia do rio São Francisco, onde se registra ação pública voltada para a instalação de redes adutoras, poços tubulares, chafarizes e bicas. Somam-se a isso iniciativas não governamentais como a política de instalação das chamadas cisternas – reservatório usado para reter água da chuva – para atender parte do consumo de água potável de famílias sertanejas.
Esgoto
Essa tendência identificada nos estados nordestinos em relação ao abastecimento de água também pode ser observada na cobertura da rede coletora de esgoto. Do total de 5564 municípios, em 2008, apenas 3 069 possuíam rede coletora de esgoto, enquanto o tratamento do esgoto- realizado em apenas 1 587 municípios – era ainda mais raro.
Desde a PSNB 2000, todas as regiões tiveram aumento no percentual de municípios atendidos por rede coletora de esgoto, mas, de acordo com o mapeamento, esse avanço segue a passos ainda muito lentos. Novamente o Nordeste apresenta um aumento modesto neste quesito, com apenas 3%.
O Nordeste é a região que tem o maior número de municípios e a segunda mais populosa do País, mas carece de rede coletora de esgoto em pouco mais da metade dos municípios. Conforme o levantamento, dos 1793 municípios nordestinos, 46% possuem coleta de esgoto e 19% tratam o esgoto.
Dentre os nove Estados que compõem a região, somente Pernambuco (com 88%), Paraíba (com 73%) e Ceará (com 70%) apresentam percentual de municípios coletores acima da média nacional. O gargalo está no Piauí e no Maranhão, que concentram as maiores carências do País, com, respectivamente, 96% e 94% de municípios sem rede de esgoto. O destaque positivo fica por conta do Ceará, com 49% de seus municípios com tratamento do esgoto e o único do Nordeste que supera a média nacional nesse aspecto.