Encontro para compartilhar histórias de convivência com o Semiárido

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Experiências de lutas e conquistas são compartilhadas no Encontro Territorial, que está acontecendo desde ontem (27) e encerra hoje (28), na cidade de Limoeiro do Norte, microrregião Vale do Jaguaribe. O encontro faz parte das atividades do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA) e está sendo realizado pela Organização Barreira Amigos Solidários (Obas). O momento é também de fortalecimento do Fórum Microrregional pela Conivência com o Semiárido do Vale do Jaguaribe, que está completando dez anos de existência.

Quatro experiências foram partilhadas. As comunidades atingidas pela construção de barragens e projeto de irrigação, no município de Russas, apresentaram suas angustias e conquistas. Atualmente as famílias da referida localidade continuam lutando pelo direito à terra e seus benefícios. De acordo com Osarina Lima, uma das atingidas e também técnica da Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte, com a desapropriação e remanejamento das famílias para outras áreas há uma perda irreparável provocada pela ruptura dos laços familiares e culturais.

A comunidade se organizou, lutou, conscientizou e conseguiu mudar hábitos como a prática de cultivo agrícola convencional para agroecológico, que acaba sendo fragmentada devido à falta de terra. No entanto, disse Osarina, “uma das exigências das comunidades é o acesso a uma área coletiva que vai ser usada para a produção agroecológica, no intuito de mostrar que é possível viver no Semiárido com os produtos da agricultura familiar”.  Segundo Osarina, isso está sendo garantido pelo Termo de Ajuste e Conduta – TAC (documento judicial assinado pelo Departamento Nacional de Obas Contra as Secas – Dnocs, Ministério Público e Comissão de Resistência das comunidades atingidas).

Outra experiência partilhada foi a do seu Raimundo de Moura Tomaz, da comunidade Fradinho, município de Russas. “Eu tinha um sonho de cultivar uma horta, mas não podia porque não tinha água, com a cisterna-calçadão, do P1+2 realizei meu sonho”, conta. Atualmente, ele, sua esposa dona Maria e os filhos vendem verduras para sua comunidade e vizinhança. “Tenho minha renda que dá em média 180 reais por mês, mas o importante não é vender e sim consumir alimentos sem veneno. Nosso tomate tem um gosto diferente, assim como o cheiro verde que tem um sabor apurado e pode passar uma semana na geladeira que não se estraga”, afirma.

A experiência de acesso à primeira água, utilizada para beber e cozinhar, do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) também foi pautada. Dona Socorro Gomes, da Comissão Municipal de Convivência com o Semiárido, no município de Limoeiro do Norte, evidenciou sua participação na aprovação do programa. “Tive a oportunidade e o prazer de ir à Brasília e abraçar o presidente Lula, que na ocasião aprovou o programa”.

Mas, a luta para a agricultora estava só começando. Apaixonada pelas estratégias de mobilização e formação para convivência sustentável com o Semiárido, que o programa proporciona, dona Socorro foi muito mais longe. Disse que a ida ao Distrito Federal foi o início de uma caminhada que passou a ser o objetivo maior de sua vida. Ela reconhece que o P1MC tem sido uma escola. “Aprendi a viver melhor no Semiárido”. E esta escola, rende aprendizados que não é só pessoal, mas coletivo, porque cada vez que dona Socorro aprende, ela passa para outras famílias. “Aprendi muito com as reuniões e capacitações. Quando eu comecei mal sabia vir a Limoeiro, depois do programa clareou tudo”, disse.

A experiência da Feira da Agricultura Familiar de Potiretama, partilhada por Antônia Elisabete de Souza, conhecida como Betinha, da comunidade Caatingueirinha, evidenciou que todo o trabalho de mobilização, participação, formação e produção tem resultado no aumento da autoestima das famílias, que atualmente comercializam seus produtos diretamente para o consumidor. 

Silvana Ribeiro, técnica da Obas, fechou o momento com a avaliação do P1+2, que foi proclamado como o programa que veio para fortalecer a produção agroecológica. O que é percebido a partir da experiência de seu Raimundo e instrumentos como os banners e o boletim O Candeeiro que socializam as experiências das famílias agricultoras.

Dez anos de luta – No final da tarde, Angerliana, coordenadora da Cáritas de Limoeiro do Norte, fez um resgate histórico do Fórum Microrregional do Vale do Jaguaribe e falou da necessidade de uma nova coordenação e fortalecimento do Fórum.

À noite, os participantes, numa roda de conversa e partilha de bolo, comemoraram os dez anos do Fórum. Histórias que marcaram a caminhada foram resgatadas. A conclusão é de que o Fórum é um espaço onde se organiza as pessoas para lutar pela vida.

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