Da roça ao comando do Incra
O novo superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Luiz Aroldo Rezende Lima, estreou no cargo com uma rotina diferente. Desde a posse, na terça-feira, enfrenta um protesto de trabalhadores rurais na sede da entidade, localizada na Avenida Rosa e Silva, no bairro dos Aflitos, Recife. Não seria incomum se ele estivesse entre os manifestantes, dormindo em acampamentos sob lonas de plástico. Luiz Aroldo cresceu na roça, plantando milho e feijão para ajudar a família, e participou de algumas invasões. A novidade, agora, é que ele está do outro lado. Descendente de quilombolas e índios, é o primeiro trabalhador rural a chefiar o Incra de Pernambuco.
Luiz Aroldo cresceu no Sítio Poço Novo, em Águas Belas, no Agreste do estado, e pode ser visto como um nome “político e técnico”. Filiado ao PT desde 2001, ele recebeu apoio dos deputados federais João Paulo e Pedro Eugênio, além do senador Humberto Costa para chegar ao Incra. Mas também destacou que teve o respaldo de entidades ligadas ao homem do campo, como a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e a Federação dos Trabalhadores da Agricultura no Estado de Pernambuco (Fetape).
No comando do Incra a menos de uma semana, Luiz Aroldo está se organizando. Ele ainda não montou toda a equipe e passa o dia envolvido em negociações com agricultores acampados na entidade desde a terça-feira. Mas o novo superintendente assegura estar preparado para o diálogo. Ele frisa que tem hábitos dos tempos da roça e se compromete a trabalhar os sete dias da semana. “Se eu estivesse na roça, não tinha que trabalhar todo dia? Tinha que acordar às 4h30 e sair do campo às 18h30. Então, vou trabalhar inclusive nos finais de semana, porque é o período que o trabalhador tem mais tempo para nos receber e nos ouvir”, observou.
Luiz Aroldo conta que nasceu no dia 11 de janeiro de 1970, em plena ditadura militar, e cresceu simpático aos movimentos da chamada esquerda. Era fã do ex-governador Miguel Arraes na juventude, porém optou pelo PT depois de se engajar mais no sindicato dos trabalhadores rurais em Águas Belas, onde nasceu.
“Me filiei ao sindicato entre 1993 e 1994. Conseguimos mobilizar um grupo de jovens e vencemos as eleições no sindicato. Nosso grupo passou a ser chamado por doutor Arraes como ‘os meninos de Águas Belas’”, declarou, entre risos. Lembrou-se, nesse momento, de seu envolvimento na trajetória sindical desde a época.
O superintendente destaca estar acostumado com os conflitos agrários, porém não antecipa projetos eleitorais. Frisa que lideranças como o ex-governador Joaquim Francisco (PSB), o deputado Roberto Freire (PPS), o ex-deputado e conselheiro do TCE, Romário Dias, passaram pelo Incra regional. “Só que a gente não pode se antecipar a política”, destacou.
Fonte: DP
Orgulho das origens
“Sempre estive feliz em tudo na vida. Desde a roça até agora”. Foi assim que o novo superintendente do Incra, Luiz Aroldo, reagiu, ao ser questionado se estava envaidecido com a nova missão. Ele frisou que “nunca foi pobre de marré deci” como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no passado. Mas ressaltou que sempre fez parte das lutas agrárias e políticas, especialmente em Águas Belas, onde ajudou a eleger o primeiro prefeito do estado com origem num assentamento agrário, Genivaldo Menezes (PT). “Ele foi um assentado”, orgulhou-se.
Luiz Aroldo nasceu num sítio e foi morar em Garanhuns, em 1981, para estudar. Teve 35 irmãos, porém só conheceu uma delas (por parte de mãe), porque “era assim naqueles tempos”. Dos 11 anos aos 20 morou numa pensão de Garanhuns, aos cuidados da proprietária “Vaninha”. Ele conta que, em 1990, precisou largar os estudos, no segundo ano, para voltar a Águas Belas e ajudar o pai, que estava doente. “Quando eu iniciava o choro, dona Vaninha cuidava de mim. Foi assim que vivi. Andando e plantando para tirar o sustento”, destacou.
O superintendente não quis entrar em detalhes sobre as invasões que comandou no passado. Ficou meio envergonhado de falar. Mas lembrou de uma que ocorreu por volta de 2002, no então governo Jarbas Vasconcelos (PMDB). Os agricultores, incluindo ele, ficaram acampados na Exposição de Animais, no Cordeiro. “A porta estava aberta e nós entramos”, declarou, sem admitir a invasão. “Eu era tão bonzinho que me chamavam de tranca-rua”, sorriu depois, dizendo estar mais amadurecido.
Segundo o agricultor rural Severino Francisco Pereira, 56 anos, a trajetória do superintendente não vai ser fácil. Depois de dormir um dia na sede, com a família, o trabalhador deu o tom da pedreira que Luiz Aroldo vai enfrentar. “O governo não nos dá respeito. Vive da exportação do que a gente produz, mas a gente ainda passa fome. Tudo que nós quer é produzir através da reforma agrária (sic). A gente só vê latifúndio por ai, ninguém desapropria, mas quando chega a eleição eles querem nosso voto”, disparou. (A.M.)
Indicação gerou ciúmes no PT do estado
A indicação de Luiz Aroldo para a superintendência do Incra regional, com abrangência em 143 dos 184 municípios do estado, gerou ciumeiras no PT. Os movimentos sociais e sindicais do campo ficaram com a imagem enfraquecida nos últimos anos, mas o cargo ainda chama a atenção dos políticos. Só na última quarta-feira, a entidade disponibilizou 16 mil cestas básicas para os agricultores. “A nossa meta é assentar 1.200 famílias este ano”, informou Araoldo, mesmo reconhecendo que a demanda é bem maior. Somente ligados à Fetape, existem cinco mil famílias acampadas.
Luiz Aroldo desconversou sobre a disputa interna no PT, mas outras lideranças explicaram, em reserva, que seu nome venceu uma queda de braço com o presidente do PT no Recife, Oscar Barreto. Este último esperava ter o papel político reconhecido agora, mas foi preterido pelas entidades sindicais e caciques da legenda. Ficou tão chateado que chegou a fazer duros ataques ao senador Humberto Costa, acusando-o de ser um dos protagonistas pelo “desastre do PT pernambucano”.
Segundo o presidente da Fetape, Doriel Barros, houve unidade em todos os movimentos para a escolha do novo superintendente. Ele frisou que Luiz Aroldo recebeu respaldo inclusive do Movimento Sem Terra. “Achamos importante um nome que tivesse ligação com a causa. Ele foi inclusive delegado do Ministério do Desenvolvimento Agrário”, observou. Para Humberto, ele “terá uma grande atuação”. Pernambuco tem um movimento agrário forte, articulado e o Incra precisa estar próximo às necessidades desse movimento”, declarou. (A.M.)