“Esse encontro resgata algo adormecido em nós, que é a luta pelos nossos direitos”, afirma agricultora
Ana Cláudia Alves, representante da comunidade Nova Zabele | Foto: Renato Bezerra |
Em meio às serras de São Raimundo Nonato (PI), nasceu a comunidade Zabelê, que ocupava uma área que hoje pertence ao Parque Nacional da Serra da Capivara. Com o reconhecimento da área como reserva arqueológica, as famílias foram obrigadas a deixar suas terras. Famílias que tiveram uma longa caminhada na busca de uma terra digna de produzir seus alimentos e viver. Uma trajetória que foi resgatada e contada durante o I Encontro de Acesso à Terra no Semiárido. “Esse encontro resgata algo adormecido em nós, que é a luta pelos nossos direitos. E reforça quando vemos as experiências de outros estados que estão sofrendo tanto ou mais que a gente por um pedaço de terra para plantar, morar, viver”, ressalta Ana Cláudia Alves, moradora da comunidade.
A caminhada da comunidade Zabelê não foi fácil. Com a desocupação da área, as famílias receberam indenizações insuficientes para a aquisição de um novo pedaço de chão e não tiveram uma sinalização do governo para a realocação em outras áreas. Muitas famílias deixaram o estado, algumas foram morar na periferia de São Raimundo Nonato e outra parte foi para um local distante chamado Pitombeira, fazendo com que a comunidade perdesse sua unidade. Com isso, a identidade cultural, um grande patrimônio das comunidades tradicionais, também foi ameaçada.
Em 1997, as famílias que moravam na Pitombeira resolveram ocupar a área de uma fazenda improdutiva restabelecendo parte da comunidade de antes, que agora seria chamada de Lagoa do Novo Zabelê. Entre ameaças, as famílias persistem no local, mas ainda não obtiveram a regularização fundiária das terras. “Até hoje não conseguimos efetivamente a posse da terra de direito. Sofremos ameaça de morte, nossas casas foram queimadas, mas resistimos”, conta Ana Cláudia.
Segundo a agricultora, já são 23 anos de luta pela posse da terra e as famílias já têm uma ampla produção de alimentos e beneficiamento de frutas que garantem renda para as famílias.
Numa análise mais apurada de Luiz Cláudio Mandela, assessor técnico da Cáritas e representante do Fórum Nacional pela Reforma Agrária, a comunidade Novo Zabelê congrega problemáticas que a colocam como o exemplo mais completo dentre as apresentadas durante o encontro. “O Zabelê é uma comunidade tradicional que vivia na região desde o princípio da ocupação do território do Semiárido, com sua identidade e cultura. Comunidade que foi impactada pelo interesse nacional, que foi a demarcação do Parque Nacional da Serra da Capivara. E sofreu todos os males que os Sem Terra e os Sem Teto na luta por seus direitos”, explica Mandela, destacando três pontos principais.
Luiz Cláudio conta que, mesmo que não seja da forma como queriam, as famílias conseguiram estruturar a comunidade a partir da produção de alimentos e beneficiamento de frutas. Hoje as famílias têm terra suficiente para garantir a segurança alimentar das famílias e fornecer parte da produção para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).