Maior parque de caatinga do Brasil

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Rodeado pela agricultura de subsistência e por um grande empreendimento de produção de carvão, o Parque Nacional Serra das Confusões, no Piauí, cresce para não desaparecer. Das 18 espécies de aves endêmicas da caatinga, 13 estão presentes no local, que atrai hoje o olhar de visitantes estrangeiros, ajudando a movimentar a economia de cidades como Caracol e São Raimundo Nonato. Com paisagens de tirar o fôlego, o Parque possui sítios arqueológicos e grutas com inscrições rupestres. Está recebendo os primeiros investimentos em infraestrutura para alavancar seu potencial para o desenvolvimento do turismo ecológico

Lugar de paisagens cinematográficas – com cânions, grutas, vales, formações rochosas e sítios arqueológicos -, o Parque Nacional Serra das Confusões é a aposta de turismo ecológico no Piauí, para ampliar a geração de renda de um dos lugares mais pobres do País. Temendo o avanço da soja do Cerrado à Caatinga piauiense, bem como a devastação causada pelas carvoarias, o governo federal anexou 324 mil hectares de terras, tornando-o a maior área de preservação da Caatinga no Brasil. São 826 mil hectares do bioma único no mundo, exclusivo do semiárido.

Com R$ 1,5 milhão de recursos federais, o local está recebendo os primeiros investimentos em infraestrutura básica, desde que foi criado, em 1998. De acordo com José Wilmington Paes Landim Ribeiro, o Mitinha, engenheiro agrônomo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em setembro deste ano, os turistas poderão contar com duas portarias de acesso, centro de visitantes, duas guaritas de proteção e dois museus a céu aberto – o do vaqueiro e o da farinha.

Carvoarias no meio

O Parque Nacional Serra das Confusões abrange hoje 11 municípios – antes da ampliação, eram sete. E poderia ser ainda maior, se o governo federal tivesse incorporado a Serra Vermelha, uma grande chapada de 4.900 Km², que abriga as nascentes dos rios Piauí e Itaueira. “Os ambientalistas queriam que fosse criado um novo parque, com a incorporação da Serra Vermelha. Dizem que o governo federal voltou atrás por causa da JB Carbon, uma carvoaria que tem um imenso projeto no Piauí”, comenta Mitinha, destacando que “o acordo possível” resultou em ganho de mais de 300 mil hectares de preservação.

Na avaliação do agrônomo, o maior impacto causado pela JB Carbon – que atuava numa área de 100 mil hectares, ao passo em que a sua licença era para 70 mil hectares – foi despertar a curiosidade de pequenos produtores para a fabricação de carvão. “O Ministério Público Federal fechou a empresa, mas está sendo complicado cortar esse interesse dos pequenos”, relata o chefe do Parque. Compara Confusões à situação de Araripina, no Estado de Pernambuco, onde o polo gesseiro devasta a Caatinga.

Reforço na economia

A luta da Serra das Confusões para existir vem desde o fim da década de 1990, quando foi criado, também no Piauí, o Parque Nacional Serra da Capivara. “Tudo isto aqui estava para ser devastado por causa da ocupação do chapadão por grandes projetos de cajucultura”. Em nome da preservação da caatinga arbórea, com animais e plantas endêmicas, a solução foi criar o novo parque. Por enquanto, o turismo ecológico atrai mais o público estrangeiro, que já conhece a Serra da Capivara, distante apenas 80 km dali.

A sede do Parque fica na cidade de Caracol, a 605 km de Teresina. Segundo Mitinha, a economia ali gira em torno da agricultura de subsistência: milho, feijão, mandioca e caju. Há algumas experiências produtivas também com apicultura. Por conta dos gargalos de infraestrutura, principalmente a questão do acesso da cidade até a entrada do parque, ainda não há visitação massiva. “Não temos como receber sem a melhoria das estradas. E também não há gente qualificada para atender os visitantes”, diz.

Apesar dos problemas, o chefe do Parque assegura que o turismo já muda a realidade da população, ajudando a aliviar a questão da pobreza. “O parque ainda não está aberto à visitação pública mas, desde quando foi criado, recebe visitas guiadas. Famílias hoje vivem desta renda. Em Caracol, aumentou o número de pousadas, hoteis e restaurantes. Também há um pequeno reforço no comércio”, detalha.

Riqueza do bioma

Mata branca ou, na linguagem dos índios tupis, Caatinga. O único bioma exclusivamente brasileiro abrange 844 mil km² de área, que se espalha por 10 Estados – do Nordeste até ao norte de Minas Gerais. Principal formação vegetal do semiárido nordestino, ocupa 10% do território brasileiro. Desenvolve-se onde as chuvas são poucas, em média, 60 mm por ano, e concentradas em, no máximo, cinco meses por ano. A floresta, de galhos retorcidos e espinhos, aparentemente, é pobre em biodiversidade e viabilidade econômica. A aparência engana. De acordo com João Arthur Soccal Seyffarth, do Núcleo Bioma Caatinga, ligado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), são muitas as espécies com potencial de uso. “Destacamos a catingueira, o pau d´arco (ipê) e o sabiá, com potencial madeireiro; o angico, o pau-ferro e o juazeiro usado como forrageiro; no uso medicinal, há a aroeira (adstringente), araticum (anti-diarreico), velame e marmeleiro (anti-febris); e, com potencial cosmético, a carnaúba e o alecrim pimenta”.

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